Um anúncio feito por um grupo de seis cooperativas no início de abril evidencia como o Paraná tem acentuado sua vocação de polo cervejeiro. Elas formaram um consórcio para construir uma fábrica de malte, investimento de R$ 1,5 bilhão que deve gerar mais de mil empregos diretos e indiretos. O estado já é o maior produtor de cevada do Brasil, tem a maior maltaria da América Latina e tem visto a indústria de bebidas alcoólicas aumentar sua importância na economia local.
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A nova planta deve começar a ser construída ainda neste ano na região dos Campos Gerais. A cooperativa Agrária, de Guarapuava (Centro), encabeça o pool constituído também por Bom Jesus (Lapa), Capal (Arapoti), Castrolanda (Castro), Coopagrícola (Ponta Grossa) e Frísia (Carambeí). A fábrica deve ser inaugurada em 2023 e terá capacidade de produzir 240 mil toneladas de malte por ano.
A Agrária já possui uma maltaria no distrito de Entre Rios, em Guarapuava, que é a maior da América Latina, com produção de 360 mil toneladas de malte por ano e que atende aproximadamente 30% da demanda do mercado brasileiro de cerveja.
Com o novo projeto, a expectativa é abranger uma área plantada de 100 mil hectares de cevada, o que representa quase o dobro da área total dedicada à cultura no Paraná: de acordo com estatísticas da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab), na última safra, cuja colheita foi encerrada em novembro, o Paraná colheu 261.912 toneladas do grão, maior produção do país, em uma área de 63 mil hectares.
Segundo a Seab, a região de Guarapuava representou 64% da produção paranaense de cevada - desempenho puxado pela presença da Agrária - e a região de Ponta Grossa, 25%.
“Com a potencialidade para aumentar a área plantada, esse novo projeto cria oportunidades para os cooperados do Paraná. Não se estará vendendo matéria-prima apenas, haverá uma agregação de valor”, diz Robson Mafioletti, superintendente do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar). “É um projeto que está na vocação da região. O malte, a cevada, isso cabe bem em regiões frias. E está na mão de pessoas que já conhecem.”
Mercado de bebidas cresce e gera empregos no Paraná
A expectativa é que a presença de mais uma fábrica de malte impulsione a indústria cervejeira local, que, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) trabalhados pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), resiste à pandemia de Covid-19.
O número de indústrias de bebidas alcoólicas no estado passou de 77 em 2016 para 142 em 2019, último ano com dados disponíveis, um crescimento de 84,4%. Em 2018, a produção total de bebidas representava 2% do PIB industrial do Paraná, sendo 1,28% relativo a bebidas alcoólicas.
Em 2016, o setor de bebidas alcoólicas empregava 1.674 trabalhadores no estado; em 2020, o contingente empregado chegou a 2.393 colaboradores, dos quais 78,4% estavam trabalhando nas fábricas locais de malte, cerveja e chope. Ainda segundo a Fiep, a produção industrial do setor de bebidas como um todo (alcoólicas e não alcoólicas) no Paraná cresceu 4,6% em 2020 na comparação com 2019.
“Esse resultado mostra que o setor não só recuperou as perdas provocadas pela pandemia, ocorridas com mais intensidade nos meses de abril e maio, como apresentou crescimento do seu volume de produção ao longo do segundo semestre do ano passado”, explica Evânio Felippe, economista da Fiep.
“Diante desse cenário, o investimento anunciado de R$ 1,5 bilhão, além de fortalecer a cadeia produtiva do setor de bebidas no Paraná, contribuindo para a geração de empregos e riqueza no estado, também consolida o setor de bebidas e principalmente a produção industrial do malte como o principal polo produtor do país e da América Latina”, acrescenta o economista.
Gigantes da indústria cervejeira anunciam investimentos
As gigantes Heineken e Ambev anunciaram recentemente grandes investimentos nas plantas localizadas em Ponta Grossa. A cervejaria holandesa divulgou no ano passado que está investindo R$ 865 milhões em obras de expansão na fábrica, que seguem mesmo com a pandemia.
Com essa ampliação, Ponta Grossa se tornará a terceira maior operação do grupo no Brasil. “A cidade é um ponto estratégico para os negócios da empresa, por estar localizada em um entroncamento rodoviário, favorecendo o escoamento da produção para mercados-chave no país, como as regiões Sul e Sudeste. Este movimento reforça o compromisso de longo prazo da companhia com o mercado brasileiro”, informou a empresa, em nota.
Em janeiro, a Ambev anunciou investimentos de R$ 370 milhões na sua unidade ponta-grossense, para ampliar a capacidade de produção de cervejas puro malte e uma nova linha de envase para abastecer o Sul e o Sudeste.
No dinâmico mercado de cervejas artesanais do Paraná, entretanto, o momento é de cautela. Murilo Henrique Marecki Foltran, diretor de marketing da Associação das Microcervejarias do Paraná (Procerva), aponta que a Agrária é a principal fornecedora das pequenas indústrias paranaenses do setor, mas argumenta que a presença de mais uma fábrica de malte no estado não deve representar grande diferença para o segmento.
“A Agrária vende mais para Heineken, Ambev. Para nós, vende muito pouco”, justifica. “O que faria diferença seria diminuir a carga tributária. As grandes empresas têm muitos benefícios fiscais e as pequenas, nada. Isso é algo de toda a economia brasileira, não só da indústria de cerveja. Dependendo da operação, paga-se até 80% de imposto. Com a crise gerada pela pandemia, bares fechados, a cerveja artesanal é considerada algo supérfluo. O consumidor prefere comprar cervejas das grandes marcas, que são mais baratas.”
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