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Como será que os empreendedores locais - chamados de criativos - têm se mantido em atividade durante a pandemia do coronavírus? Foi para responder a essa pergunta que o Projeto Cria Sua desenvolveu o especial Quarentena. Em atividade desde 2019, a iniciativa produz mini-documentários e fotos para contar a história e divulgar empreendimentos para fortalecer a Economia Criativa. Agora, o foco é entender as inovações que surgem dos desafios impostos com a Covid-19. Mesmo diante de um cenário econômico nada favorável, ideias propostas têm movimentado vários setores.
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O Cria Sua é uma iniciativa da empreendedora Renata Accioly, que após anos trabalhando com criação manual e contato com outros profissionais inovadores, buscava uma maneira de divulgar o trabalho de criativos. O projeto é realizado por meio da Lei de Incentivo à Cultura de Curitiba, com apoio da Fundação Cultural de Curitiba, Prefeitura Municipal de Curitiba e Colégio Positivo.
“Comecei a trabalhar como empreendedora criativa em 2012, e desde então, participei de eventos, feiras, conheci empreendedores de outras áreas. Passei a frequentar muitas casas abertas em que muitos empreendedores trabalhavam, assim como diversos ateliês, sempre conhecendo gente de todas as áreas. Foi indo, ficava encantada com tanta diversidade e riqueza. Pensei que mais pessoas precisavam conhecer esses criativos”, contou Renata.
Os vídeos duram de dois a três minutos, e os criativos também contam com a divulgação dos trabalhos no site do projeto e nas redes sociais. Até o momento, foram entrevistados para o Cria Sua quatro criativos para a websérie principal, quatro para uma série chamada cápsula, e seis para o especial “Quarentena Cria Sua”.
Para a empreendedora, os materiais produzidos no período de pandemia reforçam o quanto os empreendedores são capazes de se reinventarem.
“Sempre esperamos soluções dos criativos, mas me surpreendi com a ligação que eles têm feito de maneira diferenciada com o público. Os empreendedores locais conseguiram migrar para o on-line de forma dinâmica, mas se mantiveram muito próximos aos clientes. Estão mantendo a essência mesmo no digital e alcançando bons resultados”, opinou.
Por conta do isolamento social, os materiais do especial são elaborados a partir de vídeos enviados pelos próprios entrevistados, que são editados e compartilhados pelo Cria Sua.
Acelerando Processos
Um dos criativos que contou sua história para o projeto e mostrou que é possível pensar em alternativas para o “novo normal”, é Lucas Felippe, engenheiro agrônomo um dos idealizadores da startup Cooltivando, voltada a encontrar soluções para a economia inclusiva rural familiar. A pandemia fez agilizar os processos da empresa. Nos planos de Felippe e o sócio, o médico veterinário Marcus Tadeu Fusco, o ano de 2020 seria reservado para cursos de capacitação para os agricultores familiares. Eles contavam que somente em 2021 pudessem lançar plataformas digitais para que esses agricultores conseguissem gerir os processos rurais.
“Nossa ideia era percorrer o estado dando cursos para que, em um primeiro momento, os agricultores entendessem o mundo virtual, compreendessem na teoria esse universo”, contou Felippe.
Entretanto, veio a pandemia e os planos da Cooltivando mudaram. Devido à necessidade urgente, a startup lançou um projeto junto ao Poder Público de Agudos do Sul, na região metropolitana de Curitiba, uma solução digital aos agricultores do município: o Banco de Alimentos. A plataforma possibilita que eles possam comercializar diretamente os produtos aos consumidores da área urbana.
“Sem conseguir vender para os restaurantes por conta da pandemia, muitos produtores estavam descartando a produção. Como a necessidade era imediata, corremos e em apenas 36 horas conseguimos desenvolver uma plataforma funcional para que eles pudessem desenvolver e organizar todas as etapas da venda dos produtos”, explicou.
Por meio do Banco de Alimentos, os produtores de Agudos do Sul conseguem postar fotos, preços e descrição dos produtos, fazem a gestão de pedidos, postam fotos dos itens e organizam a entrega. O consumidor, por outro lado, monta seu pedido dentro do site e recebe tudo em casa. As entregas acontecem no próprio município e, também, em Curitiba.
Em três meses de atividade, a iniciativa saltou de três famílias da agricultura familiar participantes para, atualmente, 40.
“A comunidade rural foi positivamente impactada. As famílias se uniram, se dividiram em setores para se organizar. Enquanto alguns ficam responsáveis pelo relacionamento com o cliente, outros separam os produtos, há quem fique com a entrega ou quem seja o responsável por atualizar as fotos no site”, detalhou.
O Cooltivando não parou suas inovações no Banco de Alimentos durante o período de isolamento social. A quarentena ajudou a acelerar mais duas ideias que ainda estavam no papel, outras soluções voltados à Agricultura Familiar.
“Já estamos criando novas facilidades para os produtores, que vão poder simplificar processos de legalização de seus produtos para a venda e, também, controlar a produção na área da propriedade. Por sermos uma startup, está sendo mais fácil conseguirmos nos moldar em meio à crise. Continuaremos buscando alternativas para possíveis necessidades que surjam”, comentou o engenheiro agrônomo.
Olhar atento
Outra iniciativa, registrada pelo Cria Sua neste período, é o Rooms Against Covid. Inicialmente desenvolvido e aplicado em Portugal, o projeto tem como objetivo disponibilizar acomodações para os profissionais de saúde que atuam na linha de frente na pandemia. A ideia foi trazida para Curitiba pela economista Nastássia Romanó. Também criativa nata, ela trocou a carreira no mercado financeiro para trabalhar com estratégia para projetos de impacto social. Há seis anos atuando com empreendedorismo e inovação, ela viu o potencial da solução europeia em ajudar neste momento crítico de enfrentamento do coronavírus, e se tornou líder do Rooms Against Covid Brasil.
“Em Portugal foram 15 mil noites viabilizadas para mais de 700 profissionais da saúde e com o apoio do governo português. Fico motivada com projetos que possam ter resultado significativo e esse é um deles”, contou.
Na plataforma digital, de um lado, os profissionais de saúde se cadastram para indicar que precisam de um local para ficar. Do outro, as acomodações, como hotéis, hostels, pousadas, apartamentos e flats, acenam que podem receber esses hóspedes mediante uma taxa promocional. Caso o profissional de saúde não possa pagar, o projeto viabiliza a hospedagem, buscando patrocínio para bancar os custos. Todos os locais passam por processo de controle e protocolo de biossegurança.
De acordo com Nastássia, a iniciativa é importante por impactar na economia, ajudar com a diminuição da propagação do vírus e, também, dar conforto a esses tão importantes profissionais.
“Serve não só para ajudar a estancar minimamente a crise na saúde, mas também para controlar a curva de contágio. Mais do que hospedagem, é um local de acolhimento”, afirmou.
O Rooms Agains Covid Brasil conta com mais de 40 voluntários em todo o país e tem 92 quartos cadastrados em cidades como Curitiba e Região Metropolitana, São Paulo e Brasilia. São 37 profissionais de saúde cadastrados até o momento.
“Queremos crescer mais rápido que o vírus”, diz a criativa, com expectativa de mais “matches” – aprovação entre hospedagens e hóspedes - para as próximas semanas.
O projeto é 100% on-line, uma tendência que, segundo Nastássia se mostrou urgente no atual momento. Como criativa ela avalia positivamente essa rápida adaptação da forma com que as pessoas se relacionam.
“A pandemia acelerou as mudanças que ocorreriam de qualquer forma, sobretudo no que diz respeito à migração digital. Por meio do projeto temos contato com pessoas de diversas partes do mundo. Nunca nos vimos pessoalmente, mas conseguimos impactar vidas”, finalizou.
Os depoimentos de Lucas, Nastássia e outros criativos podem ser encontrado nas plataformas do projeto Cria Sua.