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Os supermercados do Paraná estão confiantes neste segundo semestre, com previsão de crescimento acima de 3%, o que deve gerar estabilidade ao setor. Para o presidente da Associação Paranaense de Supermercados (Apras), Carlos Beal, após o impacto da inflação no primeiro semestre, que foi maior no segmento do que o aumento geral de preços, o setor deve voltar à normalidade até o fim do ano.
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"As previsões apontam que vamos entrar numa estabilidade, uma normalidade nos preços nos supermercados ", aponta o presidente da Apras em entrevista à coluna Paraná S/A.
Além da expectativa de deflação, a redução do ICMS dos combustíveis e a injeção de R$ 41 bilhões na economia com o auxilio emergencial são fatores que vão ajudar nesse fim de ano, aponta Beal. E não só. O dirigente, proprietário da rede Festval, cita ainda expectativa de uma das melhores vendas na Black Friday dos últimos anos após as dificuldades da pandemia, além da Copa do Mundo em novembro.
À coluna, o diretor da Apras também fala da responsabilidade social e ambiental do setor com as exigências da nova geração de consumidores e das vendas dos supermercados pelo e-commerce. Confira a entrevista:
O que a Apras espera de avanço no setor no segundo semestre no Paraná?
Estamos no Paraná no pleno emprego, o que é positivo. Nosso índice de desemprego não chega a 6%. Mas mesmo com esse índice temos muitas vagas abertas que não conseguimos preencher no nosso setor. Quem está ficando desempregado ou desocupado é mais por opção pessoal ou realmente porque não tem qualificação profissional nenhuma. No setor supermercadista nem experiência estamos exigindo para contratar.
Temos vários fatores bons na economia do Paraná, com muitos empresários investindo. Em termos fiscal e financeiro estamos muito bem. Aliado a isso temos de positivo para o segundo semestre a Copa do Mundo, as eleições, que também geram empregos nesse período. Temos também o auxílio emergencial até o fim do ano, que vai jogar R$ 41 bilhões na economia brasileira, e, pelos estudos que pudemos acompanhar, quase 80% desse dinheiro vai para consumo, não vai para bens duráveis.
Tivemos ainda a redução da alíquota do ICMS nos combustíveis e também a redução do leite que vai gerar deflação já nesse mês. Acho que o leite vai voltar a patamares aceitáveis, já que houve muita especulação nesse mercado. E que bom que o consumidor tem o poder de aquecer e desaquecer uma economia. É só ele parar de comprar que a economia volta ao normal.
No caso do leite, houve especulação, caiu o consumo e o preço agora está voltando ao normal. Houve questões que aumentaram o preço, como a entressafra. Mas infelizmente houve muitos aumentos de preço que agora estão sendo reduzidos. Então vejo com muito bons olhos o segundo semestre não só no Paraná.
Quanto vocês estimam que o setor possa crescer no segundo semestre?
Acredito que vamos crescer acima de 3% nesse segundo semestre. Sou otimista porque tem muito dinheiro que não estava calculado nas estimativas anteriores. Acho que vamos crescer mais do que o PIB.
De 2018 para 2019 as vendas nos supermercados cresceram no Paraná de R$ 40 bilhões para R$ 41 bilhões de faturamento. De 2019 para 2020 foi para R$ 49 bilhões, ou seja, crescimento de quase 20% em plena pandemia. E de 2020 para 2021 subiu mais 22% novamente na pandemia, fechando em R$ 60 bilhões.
Qual é a dificuldade do seu setor em contratar, já que vagas de emprego há?
Um dificultador no setor de supermercados é a jornada de trabalho, já que trabalhamos de segunda a segunda. Por outro lado, o mercado está aquecido. Todo mundo nesse segundo semestre está contratando: a indústria, todos os setores.
Temos agora para o fim do ano as empresas se preparando para comprar cestas de Natal. Aliados a isso acredito que teremos uma das melhores Black Friday da história, depois de dois anos restritos por causa da pandemia, com mercados fechados e agora não só os supermercados mas o varejo no geral com lojas totalmente abertas. Isso vai aquecer muito a economia na Black Friday agora no segundo semestre.
O senhor acredita que esse avanço estimado para o segundo semestre seja um efeito rebote do aumento dos preços na primeira parte do ano ou consumo está realmente crescendo?
Tivemos no primeiro semestre uma taxa de inflação, principalmente no segmento de supermercados, que tirou o poder de compra do consumidor. Mas agora vejo reduções, como nas commodities. O óleo está baixando, o leite está baixando, o arroz está baixando. Quer dizer, itens de extrema necessidade que estão sendo recompostos para baixo. Isso vai melhorar o poder de compra que o trabalhador tinha perdido. É uma ajuda que vem para dar uma estabilidade.
Mas a inflação pesou muito no primeiro semestre nos supermercados.
Pesou. Sempre digo que estamos em um setor abençoado, que é o último que o consumidor corta. Quando a pessoa corta os custos do supermercado é porque já cortou viagem, lazer, compra de roupas. No nosso segmento a gente viu esse ano que em alguns itens houve mudança no hábito de consumo. Mas somos o último a sofrer, somos o que menos crise tem.
Dados da própria Associação Brasileira de Supermercados mostra que no primeiro semestre a inflação específica do setor foi superior ao índice geral do aumento de preços. O que o setor teve que fazer para se adaptar a essa realidade?
Uma coisa que impactou violentamente o nosso segmento no primeiro semestre e que nunca pensávamos que iria interferir foi a guerra na Ucrânia. Nem sabíamos que a Ucrânia era um dos maiores produtores de grãos do mundo, em especial trigo e óleo de girassol.
Com a guerra, houve um travamento das exportações nos portos e toda a Europa se sentiu sem produtos. Com isso vieram os aumentos nas commodities, porque o medo faz as pessoas comprarem mais. E a Europa toda passou a comprar mais. Comprou muito mais carne, frango e suíno do Brasil. O que a China comprou de grãos do Brasil foi absurdo.
Toda essa demanda internacional pela produção do Brasil gerou essa inflação interna aqui no nosso país porque os preços foram dolarizados. E o dólar teve um aumento significativo no primeiro semestre.
Isso gerou uma interferência nos nosso produtos básicos como no óleo de soja, nas carnes, todos itens básicos. Tudo influenciado pela guerra. A Europa mesmo está com a maior inflação em 40 anos. Eles não sabem conviver com inflação, nós somos PhD nisso porque já tivemos inflação de 80% ao mês.
Então essa inflação não só na Europa, mas também nos Estados Unidos, gerou essa inflação aqui, já que somos um celeiro onde todo o mundo vem comprar.
Como foi a adaptação do consumidor nos supermercados com esse impacto da inflação?
Notamos muito isso na questão da proteína, com muita gente migrando da carne bovina para o frango. A pessoa não deixou de consumir proteína. Mas em função do preço mudou para o frango ou a carne suína. Ele mudou de hábito, mas não deixou de consumir. Acontece também de o consumidor sair de uma marca premium e ir para uma de segunda.
O senhor acredita que nesse segundo semestre o consumidor possa retornar às marcas ou produtos originais que ele aprecia com a melhoria da economia?
Com a deflação que tivemos em julho e agora em agosto vejo que as pessoas já estão voltando a hábitos de antes da pandemia. Na pandemia tivemos queda muito grande de frequência das lojas. Nesse primeiro semestre já registramos aumento de 27% de retorno das pessoas aos supermercados.
Na pandemia o cliente ia ao supermercado uma vez por semana ou uma vez a cada 15 dias. E já notamos que no primeiro semestre os hábitos estão voltando, com os clientes indo mais vezes ao supermercado porque ele quer frescor, quer uma fruta, uma verdura, uma carne fresca e antes tinha que comprar mais e estocar por segurança.
Agora ele quer voltar a comprar por qualidade. Então está voltando à normalidade. E as previsões apontam que vamos entrar numa estabilidade, uma normalidade nos preços nos supermercados. Até porque as previsões iniciais apontavam que a inflação ficaria perto de 10% no segundo semestre e agora já baixaram para 6,5%.
Essa frequência maior dos clientes nos supermercados não seria porque ele está fazendo compras fracionadas por causa da inflação?
Não, porque ele aumentou a frequência, mas diminuiu o ticket médio. Ou seja, ele está indo mais vezes ao supermercado, mas gastando menos. Ele está se permitindo ir hoje comprar uma verdura, amanhã comprar um pão, no outro dia outro produto. Antes ele vinha e fazia a cesta básica de uma vez. Hoje não. Ele está retornando com mais frequência mesmo.
O ticket médio nos supermercados baixou para quanto?
Aumentamos 27% a frequência de clientes nas lojas e baixamos em torno de 10% o ticket médio no primeiro semestre.
Isso é bom ou ruim?
É bom, porque a gente quer a frequência do cliente levando produtos mais frescos. O consumidor tem mais qualidade quando compra mais vezes, principalmente os perecíveis. Para gente interessa o cliente dentro da loja.
O senhor falou que a frequência do cliente na loja voltou a aumentar. O que mudou dos piores momentos da crise sanitária em 2020 e 2021 para agora nas lojas?
Com tudo fechado, os hábitos mudaram. Então quem almoçava no restaurante passou a se alimentar em casa. E agora as pessoas voltaram aos restaurantes. Mas os restaurantes voltaram a fazer compras nos supermercados. Então mudou de local de compra do consumidor, porque toda a rede de alimentação é abastecida pelo varejo. E voltou a normalidade dos empregos nesses setores. Foi traumático o que o setor de restaurantes e bares, de eventos, sofreu nessa pandemia.
O cenário político polarizado nas eleições pode impactar no consumo nos supermercados?
Acho que na economia nacional não impacta, porque o país está bem estruturado, movido principalmente pelo agronegócio, que vem impulsionando a economia nos últimos anos de pandemia. Estava vendo os números do crescimento de exportações de grãos e proteínas, é um absurdo. O país é muito mais que a crise, muito mais que a política, porque o Brasil é pujante. Temos um empresariado e um agronegócio no país que não param.
E no cenário para o ano que vem, vença o atual governo ou venha um novo, isso pode impactar?
Eu acredito muito no ano que vem. Temos uma crise internacional da qual eu acho que o Brasil vai sair mais fortalecido porque temos um agronegócio muito forte. A previsão de safra para 2023 é recorde novamente. Vamos ter que nos adaptar, mas a economia mundial depende desse celeiro de grãos que é o Brasil.
E há muitas frentes que vão ser impulsionadas, que vão gerar empregos, como obras de infraestrutura. O foco tem que ser trabalhar para gerar mais empregos. Com emprego vem a dignidade. Claro, nesse momento é importante dar subsídio a quem está precisando. Mas o melhor subsídio para uma pessoa é a dignidade, que se consegue com trabalho.
O consumidor vem tendo preocupações com o que compra, no sentido de sustentabilidade. Como o setor de supermercados vem se preparando para isso?
Essas dificuldades dos últimos anos vem nos trazendo ensinamentos, principalmente de que não podemos voltar a certas práticas. E isso está vindo do próprio consumidor, que antes não se importava, por exemplo, de comprar um pão e jogar metade fora.
Os hábitos estão mudando e isso é bom, porque as pessoas estão se conscientizado de que o desperdício é ruim. As empresas que não se prepararem para isso, como no descarte adequado do lixo, a cadeia de responsabilidade social, a questão ambiental, não vão prosseguir no mercado.
Antes as empresas geravam lixo e o governo que se responsabilizasse de descartar. Hoje você tem que cuidar da política reversa, porque a sociedade não vai mais aceitar comprar de uma empresa que não tenha essa responsabilidade.
E o que o setor tem feito nesse sentido no Paraná?
Estamos muito mais conscientes a respeito da geração de lixo. Temos programa com o Sesc, o Mesa Brasil, para que todas as frutas retiradas das gôndolas que talvez não estejam com a apresentação adequada para venda, mas que ainda têm qualidade nutricional, sejam todas doadas para alimentar milhares de pessoas, ou seja, produtos que seriam jogados fora. No caso da nossa empresa, o que sobra de resíduo orgânico também enviamos para reciclagem, para virar compostagem, que volta para nós na forma de adubo que vira brinde para os clientes.
Mas o empresário do setor está com mente aberta para essas responsabilidades ou ainda vê isso como prejuízo?
Está, porque ele sabe que isso não volta mais. Quem resiste a essas medidas não vai sobreviver. Essa nova geração de consumidores vai exigir isso das empresas. E aí não é questão de querer ou não querer. É um desafio do setor. Quem não seguir essas ações, vai ficar tão fora da realidade que a operação vai encarecer tanto que não vai ter como ser competitivo.
Ainda na mudança de consumo dos últimos anos, o cliente de supermercados evoluiu para produtos com valores agregados, como um café premium, um azeite de mais qualidade. Como os supermercados se adaptaram a isso?
Isso tudo vem com a evolução do bolso. Quanto mais a economia fica justa, com salários mais dignos, as pessoas vão mudando seus hábitos. Eu costumo dizer que o paladar não retrocede. Se você começa a tomar um café melhor, não volta mais para aquele café que não tinha 100% de pureza, que tinha mistura. E antigamente o café bom era todo exportado. Nós vendíamos o que sobrava. Com o consumo interno, os custos desses produtos que eram exportados também diminuíram.
Essa nova geração de produtores tem a consciência de que se tem um bom café sendo produzido no país, por que não pode vender no mercado interno? Você tem que elevar o padrão de consumo com informação. Antes não tínhamos essa consciência. E as mídias sociais ajudam nisso. Hoje com a digitalização tudo chega muito rápido ao consumidor.
A pandemia acelerou o e-commerce, modalidade que até então os supermercados tinham certa restrição. Como o setor viu o avanço de vendas nessa modalidade?
O modelo de vendas multicanais veio para ficar. Hoje temos que entregar os produtos do jeito que o cliente quer: direto em casa, retirada na loja ou o método presencial, para o qual temos que estar ainda mais preparados. Mesmo com o aumento da frequência dos clientes nas lojas, as pessoas estão fazendo diversas maneiras de compras. Se você não estiver disposto a ir ao mercado, pode comprar pelo e-commerce. Mas produtos como a carne para um churrasco, ou frutas, verduras, o cliente ainda prefere ir até a loja.
Mas antes da pandemia o setor não estava tão atento ao e-commerce.
Não estava e nem o cliente tinha tanta necessidade de comprar dessa forma. Com a pandemia, veio o medo de contágio, as pessoas ficaram reclusas e a segurança nesse caso foi receber as compras em casa. Mas agora essa modalidade veio para ficar e depende de cada empresa atender cada tipo de venda da melhor forma.
