“A eternidade o transforma naquilo que ele sempre foi.”
(Stéphane Mallarmé)
A esta altura creio que muitos já devem saber que, no passado, eu fui ateu, materialista e comunista. Sempre me perguntam como se deu a mudança em minha alma; eu respondo brincando que seria necessário ler o conjunto das minhas crônicas — talvez umas 3 mil — para entender o que aconteceu. No entanto, se for necessário apontar um personagem que foi decisivo na minha volta para Casa, eu diria sem vacilar o nome de Olavo de Carvalho (1947-2022).
Ontem, 15 de outubro, foi Dia de Santa Teresa de Ávila (1515-1582), escolhido por Dom Pedro I para ser também o Dia do Professor. O imperador foi bastante feliz na escolha da data, uma vez que Santa Teresa é uma das maiores mestras da espiritualidade em todos os tempos.
A educação brasileira, porém, seguiu um caminho completamente oposto ao indicado pela primeira Doutora da Igreja; a educação da alma passa longe da maioria de nossas escolas e universidades, sobretudo no sistema público. Deus foi expulso dos bancos escolares.
O professor Olavo de Carvalho veio para romper a bolha de ignorância, fingimento e materialismo em que o Brasil foi mergulhado nos últimos 50 anos e estimular a busca pela alta cultura, pela verdade, pelo Espírito. Enganam-se aqueles que o veem como um mero analista político ou crítico cultural; Olavo foi importantíssimo nessas áreas, mas o seu principal trabalho era outro: era ajudar a salvar a alma das pessoas. Ele levou milhares de pessoas de volta para a Igreja e esses milhares estão ajudando a salvar o país.
Dos 14 aos 29 anos de idade, eu vivi preso em uma eterna tarde de domingo sem Deus. Havia perdido completamente a capacidade de acreditar, de sentir esperança e de amar incondicionalmente. Não conseguia perdoar ninguém porque não sabia reconhecer os meus pecados, quanto mais pedir perdão por eles.
Foi nessa época que descobri os artigos do Olavo de Carvalho. Eu era diretor de um sindicato e lia os seus textos clandestinamente, para que meus companheiros não me flagrassem cometendo esse crime em plena sede sindical.
Embora eu me irritasse por suas críticas a vacas sagradas da esquerda que até eu considerava inatacáveis — tais como Leandro Konder, Marilena Chaui e Emir Sader —, fui obrigado a admitir que ele escrevia muitíssimo bem, melhor do que qualquer intelectual ou jornalista de esquerda.
Mas não era um talento meramente verbal: Olavo contemplava alguns mistérios existenciais que me atormentavam profundamente
Um deles era a existência de Deus; outro, a imortalidade da alma; um terceiro, o sentido da vida.
Houve um dia em que eu participei, como sindicalista, de uma espécie de tribunal de exceção contra um amigo, um jornalista e poeta por quem tinha (e tenho) grande estima. Esse amigo era totalmente inocente das acusações que lhe fazíamos; mas atacá-lo era uma necessidade política naquele momento, diziam meus companheiros de sindicato. Sim, eu participei dessa farsa, e aquilo me calou profundamente na alma.
Naquele dia eu me senti exatamente como Olavo descreveria: “Ser esquerdista é viver num estado de desorientação moral profunda, estrutural e incurável. É mergulhar as mãos em sangue e fezes jurando que as banha nas águas lustrais de uma redenção divina”.
Certo dia, numa tarde de domingo sem Deus, li um artigo em que Olavo mencionava uma passagem da infância do grande músico, médico, teólogo e benemérito Albert Schweitzer (1875-1965). O pequeno Albert, aos três anos de idade, fora picado por uma abelha e se pôs a chorar. Os familiares e vizinhos vieram acudi-lo.
Em certo instante, o menino percebeu que não sentia mais dor, mas continuava a chorar, apenas para continuar atraindo as atenções. Setenta anos depois da cena, o Dr. Albert Schweitzer — um dos maiores intérpretes da obra de Johann Sebastian Bach, o homem que se formou em medicina e abriu um hospital na selva do Gabão para salvar vidas e pregar o Evangelho, o Prêmio Nobel da Paz de 1952 —, aquele grande herói de nosso tempo se envergonhava por ter fingido sentir dor aos três anos de idade! Para Olavo, eis aí a verdade mais importante na vida de alguém — aquela em que só existem duas testemunhas: você e Deus.
Quando terminei de ler esse artigo — intitulado “Sem Testemunhas” —, fechei os olhos e disse a mim mesmo: “Eu sou esse menino! A minha vida inteira é um fingimento para atrair a atenção dos outros”.
Foi então que eu percebi claramente que a minha existência estava completamente apoiada em autoilusões, em pensamentos mágicos, em sentimentos que nada tinham a ver com a realidade. Tudo aquilo em que eu fundamentava minhas ações como militante político e jornalista eram “adaptações degradantes de símbolos mitológicos, roubados à eternidade, comprimidos na dimensão temporal e transfigurados em deuses de ocasião”. Eu era apenas a sombra de uma sombra, alguém cujos atos e obras seriam perderiam completamente o sentido diante da morte.
É por isso que eu agradeço ao professor Olavo. Ele transformou a minha vida ao me fazer voltar os olhos para a perspectiva da imortalidade da alma, o coração para o amor ao próximo e a inteligência para o amor à verdade. Pelas mãos do mestre — de quem me tornei aluno e amigo —, eu voltei para Deus, e isso salvou a minha vida.
Obrigado, professor.
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