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Barcos de mísseis da classe Kuang Hua VI da Marinha de Taiwan manobram no porto militar de Keelung,, Taiwan, 14 de outubro de 2024. O Exército de Libertação Popular da China (PLA) anunciou que realizaria exercícios ao redor de Taiwan.
Barcos de mísseis da classe Kuang Hua VI da Marinha de Taiwan manobram no porto militar de Keelung,, Taiwan, 14 de outubro de 2024. O Exército de Libertação Popular da China (PLA) anunciou que realizaria exercícios ao redor de Taiwan.| Foto: Ritchie B. Tongo/EFE/EPA

Os taiwaneses consideram o dia 10 de outubro a sua data nacional. Trata-se de uma rememoração do início da Revolta de Wuchang, ocorrida em 1911, que levou ao colapso da última dinastia chinesa, a Qing, e ao estabelecimento da República da China, em 1º de janeiro de 1912.

Ao discursar nas comemorações da data, o presidente de Taiwan, Lai Ching-te, irritou os chineses ao afirmar que a ilha não se subordina à China e que esta não tem o direito de representar Taiwan. 

Lai Ching-te colocou Taiwan e China em pé de igualdade no cenário internacional, conclamando o governo continental a trabalhar com os taiwaneses em questões como mudanças climáticas e doenças infecciosas.

O presidente de Taiwan é detestado pelo governo chinês, que o considera um perigoso separatista. Seu discurso foi muito mal recebido em Pequim, que o acusou de promover falácias sobre a independência da ilha e de “criar deliberadamente tensões no Estreito de Taiwan”. 

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China declarou que "só existe uma China no mundo” e que Taiwan é uma parte inalienável do seu território, sendo o governo da República Popular da China o único a legalmente representar todo o país, inclusive a região insular.

A resposta do governo chinês não se limitou à retórica.

O Teatro Oriental, comando conjunto do Exército Popular de Libertação da China responsável pelo Estreito de Taiwan, iniciou imediatamente manobras militares simulando o cerco à ilha

Batizado de “Espada Conjunta B” (a Espada Conjunta “A” ocorreu em maio, logo após a posse de Lai Ching-te), o exercício simula um bloqueio naval às ilhas do arquipélago de Taiwan, bem como ataques a áreas marítimas e terrestres. Embora de curta duração, as manobras da semana passada aumentaram em volume de meios militares e em agressividade. 

Segundo os taiwaneses, 125 aeronaves militares chinesas voaram em direção a Taiwan no último dia 14, estabelecendo um recorde. Seis áreas marítimas no entorno da ilha principal, e três outras nas proximidades dos arquipélagos de Quemoy e Matsu, controlados por Taiwan e próximos ao litoral chinês, foram interditadas pelos chineses, que enviaram, para essas regiões, navios da marinha de guerra, inclusive o porta-aviões Liaoning, e da guarda costeira.

Manobras militares chinesas no entorno de Taiwan têm se tornado cada vez mais frequentes, envolvendo sempre muitos meios militares e formando um círculo cada vez mais apertado em torno da ilha. Dessa vez, os chineses buscaram demonstrar que possuem a capacidade de cortar as linhas marítimas que chegam a Taiwan, especialmente os portos por onde a ilha recebe seus suprimentos de gás natural. 

Pela primeira vez, o mapa do exercício mostrou a utilização de áreas dentro da chamada “Zona Contígua” do litoral taiwanês. 

A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS) define a zona contígua como uma área que se estende até 24 milhas náuticas (cerca de 45 km) a partir das linhas de base que delimitam o mar territorial. Nessa zona, a soberania do Estado é limitada a medida de fiscalização, como aduaneiras, fiscais, migratórias ou sanitárias. A incursão dentro da Zona Contígua demonstrou, na prática, a capacidade crescente da China de isolar Taiwan e de pressionar a ilha de maneira cada vez mais incisiva.

Outro aspecto digno de nota neste exercício foi o emprego - em grande escala - de navios da Guarda Costeira da China. Essa estratégia é vista pelos taiwaneses como uma forma de escalar o conflito dentro da chamada “Zona Cinzenta”, ou seja, abaixo do limiar de um conflito armado, evitando o uso de navios de guerra, mas impondo uma presença cada vez maior da China nos mares que circundam a ilha.

As manobras militares “Espada Conjunta B”, e o endurecimento das retóricas por ambos os lados, indicam que a tensão no Estreito de Taiwan está longe de ser aliviada. A cada novo exercício militar, a China demonstra sua capacidade de apertar o cerco à ilha, ao mesmo tempo em que explora as zonas cinzentas da diplomacia e da guerra.

Vale lembrar que isso ocorre em um contexto de crescente instabilidade global, com a guerra na Europa se aproximando do terceiro ano, o Oriente Médio convulsionado e a Organização das Nações Unidas incapaz de mediar qualquer solução. Nesse cenário volátil, a tensão em torno de Taiwan revela o risco iminente de surgimento de uma nova zona de conflito.

Conteúdo editado por:Aline Menezes
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