A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) completou 75 anos. A aliança militar — que reúne os Estados Unidos e o Canadá aos países da Europa Ocidental — foi forjada em Washington, em 4 de abril de 1949, no alvorecer da Guerra Fria.
Foi constituída a mais poderosa aliança militar da história, com um sistema de defesa coletiva no qual cada um dos países membros passou a assumir o compromisso de defender qualquer um dos outros sócios em caso de agressão externa. À época da fundação, o grupo possuía apenas doze membros, e um inimigo principal: a União Soviética.
A Guerra Fria terminou e a União Soviética não existe mais. Porém, a aliança permanece, firma novos propósitos e se amplia, atingindo o maior número de países membros da história: trinta e dois integrantes. Essa ampliação, que foi recentemente impulsionada pelos temores de segurança, que a invasão da Ucrânia pela Rússia reacendeu na Europa, com a adesão da Finlândia e da Suécia, é acompanhada de um relevante aumento nos investimentos em defesa.
Dois terços dos países da aliança já alcançaram a meta de investir 2% do PIB nessa área. E os valores continuam a crescer, com os países europeus investindo como um todo, em 2024, 18% a mais do que em 2023, o maior aumento em décadas.
Na semana passada, os países-membros enviaram seus chefes de Estado e de Governo a Washington, para a reunião de cúpula do organismo. Refletindo o momento bastante conturbado do sistema internacional, a declaração final do encontro foi cheia de recados aos adversários.
A Rússia foi descrita como a “ameaça mais significativa e direta à aliança”.
Irã e Coreia do Norte também foram citados como agentes desestabilizadores da ordem internacional vigente. Entretanto, a mensagem mais impactante, por seu ineditismo e pela assertividade dos termos, foi destinada à China. O país foi acusado de desafiar os interesses, a segurança e os valores da OTAN. Além disso, o aprofundamento da parceria estratégica entre chineses e russos é visto, pelos aliados, com muita preocupação.
A aliança reafirmou, ainda, seu firme apoio à Ucrânia contra a Rússia, com uma promessa de suporte, de longo prazo, em armas, munições, treinamento militar, dinheiro e apoio político. É significativo que este compromisso aconteça neste momento. Isto considerando que a perspectiva palpável da eleição de Donald Trump, para um novo mandato como presidente dos EUA, adiciona um considerável grau de incerteza acerca da continuação do apoio norte-americano ao esforço de guerra ucraniano.
As ações de fortalecimento da OTAN concretizam-se em medidas destinadas a aumentar suas capacidades operacionais e, com isso, seu poder de dissuasão. Destaca-se, nesse sentido, o aumento da quantidade de tropas desdobradas nos países do flanco oriental da aliança e o incremento em tamanho e frequência das manobras militares conjuntas. Além disso, é bastante significativa a decisão dos EUA de desdobrar mísseis de longo alcance, inclusive os hipersônicos ainda em desenvolvimento, em território alemão.
Essas acusações e medidas práticas não ficaram sem resposta chinesa e russa. Um porta-voz da missão chinesa, na União Europeia, disse que o documento da OTAN estava cheio de provocações, mentiras, incitações, difamações, e que continha uma "retórica beligerante". Afirmou ainda que a aliança deveria "parar de exagerar a chamada ameaça chinesa e de provocar confrontos e rivalidades, e passar a fazer mais para contribuir para a paz e a estabilidade mundial".
O governo russo, por sua vez, afirmou que o desdobramento dos mísseis na Alemanha era uma medida "destrutiva para a segurança regional e a estabilidade estratégica", anunciando que já estavam sendo tomadas as contramedidas necessárias.
Aos 75 anos, mesmo em um cenário global de constante mudança, a OTAN continua a ser um ator fundamental para a segurança internacional
A expansão da aliança, e o incremento exponencial dos investimentos em defesa dos países que a compõem, refletem o aumento da percepção de ameaças por parte de seus integrantes.
Contudo, as tensões com a Rússia e a China demonstram que a estabilidade global está em grande risco, e que a paz mundial está ameaçada, em níveis somente comparáveis aos enfrentados no auge da Guerra Fria.
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião