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Colunas de fumaça sobem nos céus de Gaza, após bombardeio de caças israelenses em retaliação aos ataques do Hamas
Colunas de fumaça sobem nos céus de Gaza, após bombardeio de caças israelenses em retaliação aos ataques do Hamas| Foto: Mohammed Saber/EFE/EPA

Na próxima quinta-feira, dia 1 de agosto, a guerra na Faixa de Gaza chegará ao 300.º dia. Quando o grupo Hamas, em 7 de outubro do ano passado, perpetrou os terríveis ataques terroristas que deram início à guerra, matando cerca de 1,2 mil pessoas inocentes, e sequestrando mais de duas centenas — das quais mais de cem ainda não retornaram aos seus lares — não se podia prever que o conflito se estenderia por tanto tempo.

Entretanto, a reação militar israelense não foi uma surpresa para o Hamas. Na verdade, mais do que esperada, era parte do seu plano.

O Hamas deseja um permanente estado de guerra contra Israel, preferencialmente um que envolva todo o mundo islâmico

A ferocidade, a escala e o alcance dos ataques de 7 de outubro foram pensados com o objetivo de provocar uma reação israelense suficientemente forte. Isso de modo a despertar um sentimento de solidariedade aos palestinos que unisse o mundo árabe e islâmico contra os israelenses.

É claro que esse cálculo do Hamas foi identificado pelo governo de Israel. 

Mas o pior ataque terrorista contra o país desde sua criação, em 1948, não poderia ficar sem resposta. Assim, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que já enfrentava uma séria contestação política interna, estabeleceu os objetivos políticos da ação militar: destruir o Hamas e libertar os reféns que ainda permaneciam sob o poder dos terroristas.

Instrumento político

Há muito tempo, pelo menos desde que Carl von Clausewitz escreveu seu magistral livro “Da Guerra”, na primeira metade do século XIX, se sabe que a guerra é um instrumento da política. Ou dito da forma como a expressão ficou consagrada na obra do prussiano: a guerra é a continuação da política por outros meios (no caso, pela força). 

Assim, para cumprir o objetivo imposto pela política, a questão que se impôs aos militares israelenses foi a de calibrar o uso de seus meios de força contra um grupo que ocupa a Faixa de Gaza.

O território possui 365 km² (cerca de ¼ da área da cidade de São Paulo), é lar de cerca de 2,3 milhões de pessoas e é um ambiente densamente urbanizado, onde alvos militares legítimos se misturam a residências em cada quarteirão das cidades. Ou seja, a questão que se impunha aos militares israelenses era selecionar quais deveriam ser os meios, e métodos de combate, a serem utilizados contra um inimigo que propositalmente se mistura à população civil.

O dilema que se impõe aos comandantes militares na guerra urbana — reconhecidamente a mais difícil de ser travada por tropas regulares — é o de como atingir seus objetivos infligindo o menor dano possível à população civil.

Nesse sentido, as leis da guerra, consubstanciadas nas convenções de Genebra e seus protocolos adicionais, além de outros tratados que regulam o tema, preveem que as escolhas dos comandantes devem seguir cinco princípios. São eles: humanidade, necessidade militar, proporcionalidade, limitação e distinção.

Desnecessário dizer que o grupo Hamas descumpre todos e cada um desses princípios, o que evidentemente não é surpresa uma vez que adota o terrorismo como método.

Mas, do Estado de Israel se esperava o cumprimento, não só porque é a coisa certa a fazer do ponto de vista legal, ético e moral, mas também em benefício do seu objetivo político: a eliminação do Hamas. Afinal, cada cena de uma família destruída pela guerra aumenta a raiva dos palestinos contra os israelenses e é uma poderosa ferramenta de recrutamento de novos militantes para grupos terroristas e para o próprio Hamas. 

Além disso, o sofrimento imposto aos civis da Faixa de Gaza, mostrado ao mundo em tempo real pela imprensa e pelas mídias sociais, isola Israel perante a comunidade internacional e atrai outros atores para o conflito. Todos eles apoiados e financiados pelo Irã — como é o caso do Hezbollah, no Líbano, dos Houthis, no Iêmen, e das diversas milícias xiitas localizadas na Síria e no Iraque — de tal forma que a expansão da guerra de alta intensidade, para além da Faixa de Gaza, é uma possibilidade permanentemente presente.

Mesmo com a ação militar israelense já tendo obtido a eliminação de várias lideranças do Hamas, e inegavelmente destruído a maior parte de sua capacidade operacional, é sempre bom lembrar que haverá um dia seguinte na Faixa de Gaza. Aquelas mais de duas milhões de pessoas terão que voltar a viver em condições mínimas de normalidade, com serviços públicos funcionando, e um governo estabelecido. 

Quais os planos do governo de Israel para esse dia seguinte? Não estão claros.

A China, adiantando-se e mostrando um protagonismo crescente no Oriente Médio, reuniu lideranças de diversos grupos palestinos, inclusive o Hamas e o grupo rival Fatah, que controla a Cisjordânia, e conseguiu mediar um acordo para a formação de um governo de reconstrução. 

Os EUA pressionam Israel pela aceitação de um plano de cessar-fogo, que encaminhe uma paz e normalize as relações entre Israel e Arábia Saudita, em troca da criação do Estado palestino e de seu reconhecimento pelos israelenses.

Entretanto, o futuro da Faixa de Gaza pós-conflito permanece nebuloso. O que destaca a urgente necessidade de um plano claro por parte do governo israelense para a estabilização do território, reconstrução e a restauração de condições mínimas de normalidade para os seus mais de dois milhões de habitantes.

Conteúdo editado por:Aline Menezes
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