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Jair Bolsonaro, presidente da República| Foto: Evaristo Sá/AFP

As conversas sobre um eventual impeachment do presidente da República voltaram a crescer. Não é por acaso. A última pesquisa XP/IPESPE mostra que, nos últimos 30 dias, a popularidade de Bolsonaro desabou. De dezembro para janeiro, a porcentagem que classifica a gestão federal como boa/ótima caiu de 38% para 32%, enquanto a porcentagem que avalia o governo Bolsonaro como ruim/péssima subiu de 35% para 40%.

Dois pontos da pesquisa merecem destaque especial em qualquer análise: (i) a reversão da tendência dos meses anteriores e (ii) a dimensão dessa reversão, bastante brusca. Quanto ao primeiro ponto, a aprovação do governo caiu no início da pandemia, começou a crescer rapidamente a partir de julho de 2020 e aparentemente voltou a cair neste primeiro mês de 2021. Sobre a dimensão, cabe ressaltar que a queda na aprovação equivale a quase duas margens de erro. Coincidência ou não, essa reversão aconteceu justamente no primeiro mês sem auxílio emergencial.

Então o impeachment será aprovado? A princípio, não. A queda de popularidade é, no máximo, uma explicação parcial para a mudança recente no clima de Brasília. São vários os motivos. Primeiramente, apenas como aperitivo, vale lembrar que a análise de uma pesquisa está sujeita a vieses metodológicos – para uma análise política mais convicta, seria preciso reunir vários levantamentos de vários institutos. Mas isto não é o mais importante. Mesmo que a pesquisa XP/Ipespe esteja correta, um impeachment não parece provável neste momento.

Apesar da mudança recente, Bolsonaro ainda conta com 32% da população avaliando seu governo como ótimo ou bom, enquanto 40% avaliam a gestão como ruim ou péssima. O presidente ainda está muito distante dos “impichados”. No fim de 2015, segundo o Ibope, apenas 9% dos brasileiros consideravam o governo Dilma ótimo ou bom, enquanto 70% avaliavam como ruim ou péssimo. Os números de Collor indicariam o mesmo. Temer, por sua vez, conviveu com patamar similar de rejeição sem sair do cargo. Já Bolsonaro supera até a aprovação de FHC no fim do seu segundo mandato. Não há nada anormal com a popularidade do presidente.

Um impeachment também depende da economia e, novamente, o cenário não se parece com o de Dilma ou Collor – nem mesmo com o de Richard Nixon, outro “impichado”. Apesar da recessão em 2020, é provável que a economia volte a crescer em 2021. As expectativas para a inflação de 2021 estão abaixo da meta. Por mais que a situação presente seja muito ruim, o fundo do poço já passou.

Além da opinião pública e da economia, outro fator fundamental para a aprovação de um impeachment é o apoio do presidente junto ao parlamento. E, novamente, Bolsonaro vai bem. A candidatura de Arthur Lira à presidência da Câmara ganhou força nas últimas semanas. A vitória de um candidato governista representaria o melhor momento do governo Bolsonaro no Congresso – e ele nunca esteve tão próximo.

Sob essas condições, um impeachment é politicamente inviável. O cenário só muda se Bolsonaro fizer muito esforço. E, convenhamos, a inacreditável negligência no caso das vacinas mostra que nada é impossível. Bolsonaro vem lidando com as polêmicas em torno da vacinação como se fossem novas tretas do Twitter, restritas a uma bolha distante do brasileiro comum. Trata-se de um erro crasso e desumano. A vacina é a maior esperança dos milhões de brasileiros cansados após quase um ano de pandemia.

Além da saúde, o mercado de trabalho está um horror, assim como as contas públicas, e atrasos na vacinação tendem a machucar ainda mais a economia. Por mais que o crescimento volte em 2021, muitos brasileiros terão menos bem-estar neste ano novo do que tiveram em 2020, especialmente após o fim do auxílio emergencial.

O barco do governo não dá sinais de que vai virar em breve, mas o mar pede cautela e o capitão parece nem saber o que é isso. Hoje, uma análise política desapaixonada me leva a crer que Bolsonaro dificilmente sofrerá um processo de impeachment. A reeleição do presidente por mais 4 anos parece mais provável do que a interrupção precoce do mandato.

Neste caso, seria bom se jornalistas e comentaristas políticos trocassem a referência do que o governo tem a perder com os recentes desgastes em torno da vacina. O que está em jogo não é o processo de impeachment. Cada dia de atraso da vacinação aumenta a probabilidade de assistirmos, em janeiro de 2023, a um adversário do presidente subindo a rampa do Planalto. Não sei se esse adversário será petista, tucano, brizolista ou global, mas sei que ninguém trabalha tanto por ele quanto o ministro Pazuello.

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