Os rumores de que a Academia Sueca anunciaria um Nobel de Literatura extraordinário na manhã desta quinta (21) causaram furor e muita especulação nos meios literários do mundo inteiro. Menos no Brasil, claro, porque os escritores nacionais passaram o feriado de 20 de novembro refletindo sobre a branquitude semântica e o racismo estrutural. Até que veio a notícia e sei que tem muito escritor e jornalista chorando até agora com essa vitória inédita da literatura canarinho. Brasil-il-il-il!
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O mais criativo
Pois é. O ministro do STF Alexandre de Moraes ganhou o Nobel de Literatura. “Resolvemos dar o prêmio antes que ele nos prendesse”, brincou Mats Malm, presidente da Academia Sueca, que se referiu a Xandão como “o juiz menos justo e mais criativo da história”. Mas não foi só isso o que disse Malm. Ele disse também que Alexandre de Moraes “não hesitou em sacrificar o estilo e a lógica mais elementar em defesa de uma visão muito particular de democracia”. Aí não tem como discordar, né? Os pontos de exclamação que o digam. Ou melhor, que o digam!!!!!!!!!!!!
Gente ilustrada
De acordo com uma fonte da coluna que pediu pelamordedeus, hein!, não vai citar o meu nome, o Nobel de Literatura para Alexandre de Moraes começou a ser aventado assim que saíram as primeiras sentenças dos presos políticos. “Afinal, só um escritor genial seria capaz de convencer tanta gente ilustrada, e tantos analfabetos, de que o quebra-quebra do 8/1 foi uma tentativa de golpe de Estado”, disse a fonte, cujo primeiro nome começa com “J”. E mais não digo.
Humor mórbido e perverso
A partir daí, conta-se à boca pequena que todas as decisões de Alexandre de Moraes eram lidas às gargalhadas pelos membros da Academia que, entre um gole e outro de aquavit, exaltavam o humor mórbido e perverso do agora laureado ministro. Mas não foram apenas as condenações exageradas ou a musicalidade burocrática de um “mormente” aqui ou de uma mesóclise acolá que encantaram os membros da instituição.
Tempero brasileiro
Os elementos fantasiosos foram essenciais, sobretudo o “Estado Democrático de Direito”, cujo sentido original, nas palavras de um crítico muito famoso, mas também muito chato, “foi brilhantemente pervertido pelo talentosíssimo juiz”. Ele continuou falando, eu dei uma pescada, mas quando despertei ainda peguei este trechinho: “...o Xandão, como vocês o chamam, tornou reais os pesadelos de Kafka, George Orwell e Soljenítsin. E fez isso com um tempero todo brasileiro”.
Elemento farsesco
Então tá. Outra característica decisiva para esse verdadeiro gol de placa da lusofonia foi o elemento farsesco, marca registrada da obra-prima alexandrina. “Meu amigo, o sujeito disse que estilingues e bolas de gude foram usados numa tentativa de golpe de Estado num país como o Brasil. Estilingues e bolas de gude e batom e Bíblia e algodão-doce. É pikkorissoq! Pikkorissoq demais!”, disse, entusiasmado, um erudito islandês que estava de bobeira, bêbado e a fim de falar. E bota pikkorissoq nisso!
Aquavit
Mas a decisão de dar um prêmio Nobel, e ainda por cima extraordinário, a Alexandre de Moraes foi tomada mesmo depois de mais uma rodada de aquavit e depois da revelação de um intrincadíssimo plano para matar Lula, Alckmin e um misterioso ministro do STF. (Quem? Quem?). Lembrando que esse prêmio quebra uma importante tradição da Academia Sueca: a de decepcionar os literatos de gola rolê apenas uma vez por ano, em outubro, dando o Nobel a qualquer escritor, menos para o Murakami, coitado.
Surrealismo
“Plano de assassinato impresso, terrorismo com fogos de artifício, método reservado às donzelas do Romantismo, pontos de exclamação, fim do devido processo legal, vítima atuando como investigador e juiz, autorreferência aos montes, censura praticada em defesa da liberdade, nós derrotamos o bolsonarismo, perdeu, mané!,... Eu poderia ficar horas e horas aqui citando o que só posso ver como uma grande obra do surrealismo político e jurídico. Vocês, brasileiros, têm sorte de viverem um cotidiano imerso em tamanha fantasia. Aqui na Suécia não tem nada disso”, disse Malm, com certo ar de enfado. Ahã.
Conquista do governo Lula
Entre os intelectuais brasileiros, o prêmio inédito e há muito cobiçado causou confusão e, como não poderia deixar de ser, ciúme. A princípio, a esquerda achou que fosse galhofa ou coisa de pseudocronistas como aquele tal de Popov da Gazeta do Povo. Depois de confirmada a notícia, porém, alguns passaram a tratar o prêmio como mais uma conquista do governo Lula, enquanto outros começaram a reclamar de racismo, machismo e elitismo. Na ABL, a expectativa é de que Alexandre de Moraes assuma a cadeira do próximo imoral que vier a falecer.
Direita dividida
Já a direita, para variar, se dividiu. Para uns, o Nobel de Literatura dado a Alexandre de Moraes só prova que tudo isso é uma grande farsa, uma invencionice sem pé nem cabeça, um pretexto para aumentar a repressão e a censura. Para outros, tudo faz parte de um plano globalista de dominação mundial. Ainda há aqueles para os quais Nobel continua sendo apenas nome de uma rede de livrarias.
“Eu mereço”
Alexandre de Moraes, por sua vez, não pareceu nada surpreso. “Eu mereço”, disse ele, que prometeu doar o prêmio em dinheiro para uma associação que cuida de juízes calvos e que sofrem de estresse pós-traumático. E prometeu (ou ameaçou): “Minha obra é um work em eterno progress. Vocês não perdem por esperar”. Quanto ao final da saga, porém, Alexandre de Moraes preferiu não dar spoilers. E respondeu com um sorrisinho maroto quando lhe perguntaram se Bolsonaro seria preso.
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