
Ouça este conteúdo
No Uber, na fila da padaria, no estádio, antes do apito inicial; no elevador, no refeitório da firma, na sala de espera do psiquiatra. Não importa onde você esteja, uma hora ou outra esse assunto aparecerá nas conversas que travamos com estranhos ou semiconhecidos: o clima. Ou tempo, como dizem os mais velhos. Será que vai chover? Deixa eu ver aqui no celular. Tá dizendo que tem 20% de chance de chover às 14h. Parece mais. Pois é. A meteorologia não acerta nunca.
Outro assunto, claro, é a política. Mas está cada dia mais difícil estabelecer um diálogo simples, natural e franco sobre isso. Não sei vocês, mas tenho a impressão de que o outro lado, o tal de sr. Interlocutor, está sempre esperando um sinal, qualquer sinal de que sou de esquerda ou de direita, para só então respirar aliviado – ou ficar tenso de uma vez por todas. E assim tem início uma tempestade de perdigotos indignados.
Não tá mais aqui quem falou
A situação piorou um bocado na última semana, com a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Aí não importa mais ser a favor ou contra. Tem que especificar o porquê e entrar nas minúcias do caso. Graus de indignação também são levados em conta na hora da conversa. Que, na verdade, não passa de uma entediante troca de lugares-comuns. Que coisa! Aonde é que a gente vai parar? Vivemos numa ditadura mesmo. Ferro de solda? Teve isso? Mas também... “Mas também” o quê?! Nada, não. Não tá mais aqui quem falou.
De volta ao clima e esse céu que ficou preto de repente, parecia que ia chover, mas não choveu, é incrível como, apesar de todos os avanços da ciência e da tecnologia, ainda continuamos embasbacados com os fenômenos meteorológicos mais triviais. Não, não estou falando do tornado que há algumas semanas arrasou Rio Bonito do Iguaçu. Estou falando de um simples arco-íris, de um vento gelado em pleno fim de novembro (daqui a pouco já é verão) e de uma chuva que não estava prevista no Weather.com.
Sempre chove no Dia de Finados
Por falar nisso, a mim me fascinam as nuvens (principalmente as cumulonimbus) e o granizo. Eu amo granizo. Sendo sincero, amo tanto que granizo me deixa louco. Não tenho medo. Fico na janela, só uma frestinha aberta, o braço esticado na tentativa de pegar uma pedrinha. E outra e outra e outra. Daí sempre penso em usar o granizo no uísque, mas me dou conta de que pode ser anti-higiênico e, além do mais, raramente chove granizo tão grande assim.
Pois então. Como ia dizendo, a atmosfera é uma pândega e tudo no clima chama a nossa atenção. Até mesmo coincidências que não resistem a uma pesquisa rápida no Google, do tipo “sempre chove no Dia de Finados” ou “nunca fez tanto calor em Curitiba” ou “que frio! em pleno dezembro! será que vai nevar neste Natal?”. E é bom que seja assim. É bom que prestemos bastante atenção ao mundo natural e que não o reduzamos a palavras entediantes e àquelas teorias malucas dos cientistas apocalípticos.
Que papo de louco!
Mas que papo de louco, hein! Eu sei. Você deve estar se perguntando o que tudo isso tem a ver com as novas estripulias na CPMI do INSS? Sei lá! Vi que teve bate-boca. Mas o que é um bate-boca de parlamentares em comparação a uma tempestade de verão? Com o mar em ressaca? Este texto tampouco tem a ver com a briga pelo legado de Bolsonaro, com o cancelamento da Luiza Possi ou com o IPVA das cadeiras de rodas.
Tem a ver com dois desconhecidos, eu e você, conversando sobre nossas preferências climáticas, trocando conselhos e impressões sobre modelos de guarda-chuvas, lembrando daquela vez, que choveu, e daquela outra vez, quando todo mundo achou que choveria, mas não choveu. Sem falar daquela vez, que fez um sol danado e você quase desmaiou. Que vexame!
Minha imunidade é ótima
Conversando sobre o tempo, sim. E, em dado momento, reconhecendo que não há nada melhor para acabar com a polarização do que colocar um esquerdista e um direitista (ou um bolsonarista e um não-bolsonarista) sob uma marquise estreita, que mal os protege dos pingos grossos de uma chuva de verão daquelas.
Que chuva, hein! Começou de repente. Por essa eu não esperava. E eu que saí de casa só pra ir ali ao banco. Passou um carro e me molhou todo. Olha aqui como tá a minha calça. Cuidado, hein! Vai pegar uma gripe. Nah. Minha imunidade é ótima. Pelo menos o Bolsonaro não tá pegando chuva. Vish.




