Estava aqui lembrando que no domingo passado (27), depois da live da apuração do 2º turno, me senti aliviado. Não por um resultado específico, e sim pelo processo todo que chegava ao fim. Naquele instante, contudo, em meio à revolta de uns e à celebração de outros, me senti o único esperançoso da cidade. Uma esperança que não sei bem identificar, mas que certamente não é na política.
Pensando aqui e agora, e antes de mudar de assunto neste texto assumidamente fragmentado, você vai ver, talvez fosse uma esperança em nós mesmos. Nesse milagre que é a relativa paz que prevalece num ambiente tão conflagrado. E isso tudo apesar da cadeirada e da violência retórica de uma campanha eleitoral. Sejamos francos: às vezes parece inacreditável que não estejamos trocando socos na rua.
Povo, subtipo brasileiro
Não eu e você, claro. Falo da sociedade em geral. Aquela da qual fazemos parte, ainda que insistamos em observá-la do alto da nossa mais abjeta soberba, com a arrogância típica de quem não se julga pertencente a esse fuzuê todo. Mas somos. À nossa revelia, pertencemos a essa mesma sociedade que tanto criticamos. Ao tal do povo, subtipo brasileiro.
Conversa
Agora, se me permite a mudança abrupta de assunto, me lembrei de dizer, pela enésima (mas não última) vez, que meu trabalho é uma conversa, sempre uma conversa, e nunca um debate. Qual a diferença entre uma coisa e outra? Numa conversa, os envolvidos estão interessados em ouvir e falar e trocar e rir e se emocionar. No debate, por outro lado, há sempre alguém interessado em vencer.
Esfregar na cara
Aliás, repare na linguagem bélica dos debates. Não só alguém supostamente vence e alguém supostamente perde como comumente alguém é humilhado, destroçado, arrasado. A função de um debate, hoje em dia, não é sugerir que uma ideia é melhor do que a outra, e sim esfregar na cara do adversário que só há uma única ideia boa e a outra é, na melhor das hipóteses, burrice; na pior, uma tragédia que vai levar ao colapso da civilização, socorro!
Cerne da questão
Não me leve a mal. Por favor. Se você gosta da sensação de vitória/derrota dos debates, sejam eles de que natureza forem, tudo bem. Não quero convencê-lo de nada e aí é que está o cerne da questão (do tempo em que as questões tinham cerne): não acredito que seja possível chegar a qualquer consenso nem alcançar qualquer objetivo comum por meio da destruição do outro. E se Romanos 14:19 me vem à cabeça neste momento é porque foi esse o versículo que li no domingo, antes de participar da live de apuração.
Mistério
Não posso terminar este texto, contudo, sem citar os pinguins. Acontece que, numa crônica excepcional (excepcional só porque me cita), meu amigo Francisco Escorsim mencionou os já mitológicos pinguins que, na minha memória, habitavam o laguinho da praça Carlos Gomes, aqui em Curitiba. Só que ele pesquisou no Google e eu perguntei para os taxistas da praça – e ninguém foi capaz de confirmar que a praça um dia abrigou mesmo um casal de pinguins.
Case closed
Mas não é possível! Cogitei até fazer como antigamente e acionar as rádios da cidade atrás de algum cidadão com provas irrefutáveis da passagem das aves antárticas pela praça que fica bem no centro de Curitiba e em frente à sede histórica da Gazeta do Povo. Mas desisti. Aliás, acabei de desistir. Porque descobri, Chico, que aquele castelinho que existe no meio do lago foi concebido como um abrigo para cisnes. E, para uma criança de 46 anos, cisne e pinguim é tudo a mesma coisa. Aí, já viu: para a memória virar imaginação é um pulo. De qualquer maneira, case closed. Acho.
Um abraço do
Paulo
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