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Quem diria! Jorge Messias, o eterno garoto de recados do PT, vai virar ministro do Supremo Tribunal Federal. E vai mesmo. Oficialmente indicado por Lula, o atual advogado-geral da União terá seu nome (e também o apelido “Bessias”, suponho) submetido aos senadores, que farão perguntas, umas óbvias, outras estúpidas, a fim de atestar o notório saber jurídico e a reputação ilibada do sujeito. Boa sorte para eles. Vão precisar.
Mas escrevo este texto porque, como já vi acontecer com Flávio Dino, Cristiano Zanin, André Mendonça, Nunes Marques e até Alexandre de Moraes, está-se criando uma atmosfera de suspense em torno da aprovação de Jorge Messias para o poderosíssimo cargo de ministro do STF. Um suspense falso, como foi nas outras ocasiões. Tudo para manter você, leitor, nessa expectativa angustiante e nessa esperança infundada de que o Senado vai, sei lá, dar um recado ao Executivo e ao Judiciário.
120 anos
Não vai. Seria legal se fosse, mas não vai. E sei que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, está vendendo caro essa sabatina. Já soltou notinha desaforada e agora mesmo, enquanto eu concluía este texto, adiou a sabatina do Messias. Ou seja, está criando dificuldades para oferecer facilidades. Fazemos qualquer negócio e tal. A gente sabe como são essas coisas. Mas a indicação, sabatina e aprovação de Jorge Messias para o STF são jogo jogado, como se diz. Um jogo que há 120 anos dá sempre o mesmo resultado: vitória do indicado e, nos casos recentes, derrota humilhante do povo brasileiro. (Da última vez teve até gol contra de ex-herói nacional, lembra?).
Mas então por que estão criando esse suspense todo? É cortina de fumaça para esconder as falcatruas do Banco Master? Que nada. Até porque, para isso e quaisquer eventualidades semelhantes, eles sempre podem contar com os préstimos do excelentíssimo ministro Dias Toffoli. É para garantir que, uma vez tornado ministro do STF, Jorge Messias continue leal à causa e seja eternamente grato aos que se esforçaram tanto para o colocarem lá. Pode ser.
Até 2055
Minha hipótese preferida, contudo, é também a mais simples: a tal da economia da distração. Nós, da imprensa, precisamos manter vocês, o público, de alguma forma engajados. Ou melhor, entretidos. Precisamos sustentar a ilusão de que tudo pode mudar de uma hora para outra. Nem que para isso tenhamos que transformar “de uma hora para outra” em “uma vez a cada 120 anos” e uma votação com 40 votos de vantagem para o indicado em “diferença apertada”.
E a gente tem que tomar muito cuidado com isso. Porque, como diz o filósofo Byung-chul Han, dialogando com Simone Weil em seu estupendo “Falando Sobre Deus” (Ed. Vozes), a transcendência está justamente naquilo em que depositamos a nossa atenção. Naquilo que amamos tanto que atrai e prende o nosso olhar. No que sequestra a nossa alma. Agora imagine só quão infeliz é a alma de alguém que se deixa sequestrar por esse suspensezinho barato. Por isso, e para que você tenha tempo de prestar atenção ao que realmente importa, é que cravo: Jorge Messias será aprovado pelo Senado e se tornará ministro do STF. Até 2055.
(Medinho)
(Bateu um medinho. Vai que os caras resolvem fazer história justo agora que cravei a aprovação do Bessias. Vou ficar com cara de tacho. De novo. Mesmo dizendo que não estou jogando búzios com a informação e mesmo que minha certeza se baseie em 120 anos de uma republicaníssima submissão do Senado ao Executivo. Mas tudo bem.
Porque é um risco baixo, que vale a pena correr. Nem que seja para escancarar esse suspense interminável em torno de qualquer minúcia do poder. E nem que seja pela oportunidade de recomendar ao leitor que leia Byung-chul Han e volte a prestar atenção ao que realmente importa. Isto é, a qualquer coisa que não esse teatro canastrão da busca pelo poder transitório e finito).




