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Polzonoff

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Deu tilt?

Se Lula desse o perdão presidencial a Bolsonaro

LULA PERDÃO BOLSONARO
Lula: "Por isso, depois de muito refletir ca Chassa, resolvi conceder a Jair Messias Bolsonaro o perdão presidencial pleno”. (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

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Primeiro de dezembro de 2025. Um dia histórico. Realmente histórico. O dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou de lado o jogo sujo do poder e concedeu o perdão presidencial ao seu arqui-inimigo, Jair Bolsonaro. Diante disso, as autoridades de Brasília estão assustadas. Uns falam em acidente vascular cerebral, outros em demência. Há quem fale até em arrebatamento. Consta que Alexandre de Moraes passou o dia andando de um lado para o outro em seu gabinete, repetindo: “Não tô entendendo nada, não tô entendendo nada”. E quem está? A esquerda ameaçou pedir o impeachment de Lula. Janja deve se pronunciar em instantes. E a direita já cogita fazer o L em 2026.

“Quem manda no Brasil sou eu e pra mim chega. Chega de maldade com o Bolsonaro. Eu, que já fui preso, sei o que ele tá passando. E se for pra entrar pra história deste país, que seja como o presidente que acabou com a fome e ganhou o Nobel da Paz, e não como o presidente que deixou o antecessor definhar na cadeia. Por isso, depois de muito refletir ca Chassa, minha assessora para decisões especiais, resolvi, no dia de hoje, conceder a Jair Messias Bolsonaro o perdão presidencial pleno. Avoa, Bolsonaro. Avoa!”, disse Lula num pronunciamento com direito àquela musiquinha do plantão da Globo e que pegou Andréia Sadi sem maquiagem e Guga Chacra tirando remela do olho.

A esquerda reage

A esquerda reagiu imediatamente. Liderados pelo deputado Lindbergh Farias e o senador Randolfe Rodrigues, um grupo de parlamentares de extrema esquerda anunciou que pedirá o impeachment e a prisão de Lula. “A Lava Jato é que tava certa. Nunca critiquei”, disse André Janones. “Eu não me preparei toda, não ajeitei o cabelo, não fiz as unhas, não me maquiei lindamente... pra isso”, disse Maria do Rosário, uma das mais revoltadas. “Fomos traídos pelo Lula. De novo”, disse Guilherme Boulos, visivelmente abalado. Ao receber a notícia, Gleisi Hoffmann simplesmente desmaiou.

Nem todos, porém, pensam assim. Para o ex-deputado José Dirceu, por exemplo, o perdão presidencial dado a Bolsonaro representa a coroação de Lula como Imperador do Brasil. “Quero ver a extrema direita falar mal dele agora”, provocou. E, como veremos a seguir, de fato Lula conseguiu colocar todo um pulguedo atrás da orelha de alguns personagens do bolsonarismo. O chanceler Mauro Vieira também elogiou o ato de Lula, assim como o ministro Fernando Haddad, que nem sabia o que estava acontecendo, mas mesmo assim fez questão de dizer a este repórter que “o Lula está certo”.

STF em pane

No STF, o cenário era de Têmis-nos-acuda. Num canto, Flávio Dino afogava as mágoas num pacote de Fandangos, enquanto no meio do plenário Dias Toffoli, de moletom, chorava e consultava seu assessor, o Ísque. Trancado no gabinete, Gilmar Mendes superaquecia o triturador de papel e dava gargalhadas que ecoavam como ameaças pelos corredores frios do tribunal. Lá fora, relâmpagos e trovões anunciavam uma tempestade daquelas. “Droga, esqueci minha sombrinha”, reclamou Cármen Lúcia.

Mas ninguém, claro, estava mais transtornado do que Alexandre de Moraes. Ele, que fez das tripas coração para prender Bolsonaro e os principais nomes do bolsonarismo, estava desnorteado. Tadinho. Ao fundo, um caminhão buzinou e ele tremeu todo, achando que fosse um porta-aviões no lago Paranoá. “Países sem tratado de extradição com o Brasil”, pesquisou ele no Google, de repente cogitando a possibilidade de a Albânia ser um lugar agradável para recomeçar a vida.

A imprensa entra em parafuso

Já a imprensa entrou em colapso. Na manchete do UOL lia-se que “perdão de Lula obriga Bolsonaro a viver sob o peso da gratidão ao petista”. Errado não tá, né? Nas primeiras horas depois do anúncio do perdão, o Estadão publicou um editorial a cada cinco minutos, cada qual contradizendo o outro. E rola o boato de que neste exato momento Miriam Leitão está reunida com sua equipe, tentando encontrar o lado bom disso tudo. Até agora, nada.

E tem sempre ele, Reinaldo Azevedo. Que foi logo elogiando a atitude nobre de Lula, exigindo que dessem ao presidente brasileiro um Nobel da Paz extraordinário e cantando Pena Branca & Xavantinho. Depois, como quem não quer nada, Tio Rei passou a tratar Bolsonaro com respeito e até um tiquinho de admiração. “’Genocida’ é uma palavra muito forte. A gente precisa voltar a respeitar os presidentes. Todos. Por mais que não gostemos deles”, disse. Sem enrubescer.

Centrão, direita e influencers

Os políticos do Centrão, por sua vez, reagiram como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo. “É por isso que eu amo a política”, disse um empolgado Kassab. Já a direita reagiu assim: Gustavo Gayer assumiu a tribuna para avisar que era tudo uma armação; Júlia Zanatta disse que o perdão prova que o Lula verdadeiro foi substituído por um sósia; e aquele deputado meio bobo que anda com a bandeira do Brasil para lá e para cá não disse nada.

Já os influencers começaram a publicar incoerências. “Perdão sem anistia é fraude!”, escreveu um deles, que eu não sou nem louco de nomear porque essa gente não tem nenhum senso de humor. E o Nikolas, ah, o Nikolas eu vou citar porque acho que ele sabe rir de si mesmo. Então. O Nikolas vestiu a camiseta preta para gravar um de seus vídeos megavirais: 15 minutos de inacreditável!, inconcebível!, inimaginável!, impossível! e inexplicável!, que culminavam com um dramático “é de cair... o queixo”. O vídeo teve 100 bilhões de visualizações na primeira hora de exibição e quebrou a Internet, como dizem os jovens.

Jair e Janja

“Mas e o Bolsonaro? Como ele reagiu ao perdão do Lula”, você deve estar aí se perguntando. Ele ficou paralisado, sem saber o que fazer. Não vou negar: pela mente dele, passou a possibilidade de rejeitar o perdão do Lula. Homem que é homem, sabe como é que é. Mas aos poucos a ficha começou a cair. Ele estava livre! A partir daí, Bolsonaro só conseguia se imaginar presentando Lula com sua famosa medalha dos 4Is. “Vou convidar ele [Lula] pra ser meu vice em 2026. Será que ele topa?”, teria perguntado Bolsonaro a um carcereiro. Mas não acredite muito. Essa gente da imprensa, sabe como é, gosta de inventar.

Agora, sim, o pronunciamento da excelentíssima primeira dama do Brasil, senhora Rosângela Lula da Silva. “Meu Marido tomou uma decisão soberana à qual eu, como sua esposa, devo obediência. Quero aproveitar a ocasião para anunciar o lançamento do festival cultural "PerdãoPalooza". O festival terá shows de Caetano Veloso e Maria Bethânia, que homenagearão Bolsonaro cantando “Menino do Rio”. Além disso, a cela onde o Inominável ficou preso será ressignificada como “Espaço de Reflexão Democrática”, disse ela, sendo imediatamente bloqueada pela Choquei e Daniela Mercury.

E agora é a vez de o cronista se manifestar

Já o cronista... Bom, o cronista se declarou feliz ao chegar ao fim deste delírio. “Estou muito feliz ao chegar ao fim deste delírio”, disse. E, já que estava dizendo isso, aproveitou para anunciar que está vendendo um Ford Escort XR3 conversível, 1.8, único dono, com pequenos danos na lateral. Quem se interessar, pode mandar e-mail. Mas voltando à fantasia política da crônica...

“Tem gente, muita gente, que só vai ler o título. Tem gente que vai achar que é uma defesa do Lula e um ataque ao Bolsonaro. Tem gente que vai achar o contrário. Tem gente que vai entender e rir e, por uns instantes, se permitir imaginar tudo isso acontecendo. É para esses que escrevo. E tem gente que vai dizer que eu sou um irresponsável, que o nosso momento histórico não comporta sátiras, essas coisas que as pessoas dizem para esconder a própria ignorância”, completou. Ou melhor, finalizou ele com um ponto final daqueles de furar o sulfite.

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