Na semana passada, os alunos do curso de história da Federal University of Dilmalândia foram testemunhas de um espetáculo grotesco. Durante 50 minutos ininterruptos, o professor extremista Adolfo Putz deu uma aula usando apenas a boca, sem mostrar as partes íntimas nem fazer qualquer referência a Paulo Freire e ao ânus – duas das maiores influências anatômico-pedagógicas do nosso ensino superior.
O evento foi promovido pelo Grupo de História Integrada Total Liberal Extremista Reacionária (GHITLER) e organizado por descuido dos camaradas que controlam a prestigiada universidade cuja sigla fui aconselhado a não reproduzir neste jornal de família. Questionado sobre a absurda transmissão de conhecimento ocorrida dentro da instituição, o reitor Néscio Pereira divulgou uma nota na qual culpa o governo pelo “contingenciamento de verba fundamental para a aquisição de ânuses (sic) e outras partes íntimas mais modernas para a adequada educação revolucionária”.
Peloemovosofia
Em vídeo divulgado nas redes sociais, é possível ver o professor Adolfo Putz de pé e totalmente vestido, empunhando um antiquado e certamente fascista giz branco diante de um oprimido quadro afrodescendente. No qual dá para ler que “o impeachment de Dilma não foi golpe”, “racismo estrutural é uma balela” e o mais grave de tudo: “O STF é uma...” O que significam esses três pontinhos é um mistério a ser investigado pelo Setor Tático de Anteparo à Suprema Inquisição da Polícia Federal (STASI-PF).
Apesar da baixa qualidade do vídeo, especialistas em peloemovosofia afirmam que é possível ouvir claramente o professor mencionando as palavras “esclarecer”, “denegrir” e “nhaca”. Tudo isso já é revoltante, repugnante e outra palavra que comece com “r” e termine em “ante”, mas não é o pior. O pior foi o professor ter dito que a grama é verde, o céu é azul e, pecado dos pecados, dois mais dois é igual a quatro. A quatro!
Compromiço
A STASI-PT, digo, PF também deve investigar um a um os pelos das sobrancelhas e as rugas do professor branco e cis, em busca de expressões faciais que denunciem evidentes e inconscientes crimes de ódio e atentados ultraviolentos ao Estado democrático de direito. A pena mínima é de 17 anos de prisão lendo e relendo o manual de direito constitucional escrito por Alexandre de Moraes.
Por meio de nota oficial divulgada em pergaminho e gravada com detalhes em ouro, a universidade cuja sigla fui aconselhado a não reproduzir neste jornal de família, considerada a universidade mais supimpa do Sul Global, informou ainda que “não compaquitua com qualquer tipos de ação que poçam des-respeitar os valores e prinssípios bazilares da instituição” e que “tomará as providência cabível, após o comprometimento de ouvir todos, todas e todes, (re)afirmando seu compromiço cum ambiente acadêmico incruzivo, respeitoso e TRANSparente”.
STF e parlamentares se manifestam
O STF se manifestou sobre o assunto. Claro que se manifestou. O ministro Luís Roberto Barroso, em sua 86ª entrevista rara este ano, abdicou da usual discrição e modéstia para repetir os bordões “derrotamos o bolsonarismo” e “perdeu, mané, não amola!”, e para reafirmar que todo mundo ama o STF. Cármen Lúcia disse que “questionar o racismo estrutural é antidemocrático”. Flavio Dino disse que o impeachment de Dilma foi golpe. E Alexandre de Moraes estava ocupado sentenciando crianças à orfandade de pais vivos e preferiu não se manifestar. Por enquanto.
Parlamentares também se manifestaram. Mas só os de esquerda, porque os de direita continuam proibidos de falar. Para o senador Randolfe Rodrigues, as palavras do professor “ferem de morte os princípios do amor marxista-leninista”. Aguerrida, atuante, linda e maravilhosa, a deputada Gleisi Hoffmann foi tão, tão, tão além que a gente não conseguiu alcançá-la em toda a sua sabedoria, genialidade e, por que não?, modéstia.
Palavras difíceis
Em resposta às críticas, o professor Adolfo Putz afirmou em sua página no Instagram que “estou velho demais para me sujeitar ao autoritarismo dessa gente medíocre, invejosa e ressentida”. Usando palavras difíceis e conceitos evidentemente inconstitucionais, ele disse ainda que “a Verdade é inflexível. Quando você flexiona a verdade para agradar a uns ou para não desagradar a outros, é porque você abandonou a Verdade para compactuar com a mentira”.
Um dos alunes presentes à aula disse que ficou chocade com a atitude do professor, que achou que eles estavam ali realmente para aprender alguma coisa. Outre disse que, apesar da ausência de glúteos e orifícios excretores, a aula foi interessante porque “tipo, qualquer pessoa com um mínimo de tutano, tá ligado?, tem que questionar as narrativas oficiais e, tipo, aquele negócio da Verdade lá é daóra, fala sério!”. Para você ter uma ideia do estrago que esse tipo de coisa pode causar.
Ao leitor do futuro
Caso você tenha caído neste texto vindo diretamente de um futuro no qual impera um mínimo de lógica e bom senso, explico a loucura do presente e, por consequência, a piada: no Brasil de 2024, uma cantora travesti chamada Tertuliana Lustosa deu uma palestra na Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Até aí, tudo bem – você há de concluir. O problema é que a palestra foi marcada por uma performance erótica. Com direito a dança em cima de cadeira e exposição de partes íntimas. Detalhe: não foi a primeira nem será a última vez que isso acontece numa caríssima instituição de ensino superior que só funciona graças ao muito muito muito (muito) dinheiro público.
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