Outro dia eu estava sossegadão quando alguém (um chato!) veio me mostrar a entrevista de um megaempresário que fez o L e, todo arrependido, andou sugerindo a possibilidade de um fim abrupto ao governo Lula. Ou seja, a possibilidade de um processo de impeachment. “Lá vou eu para o terceiro impeachment em menos de 50 anos”, pensei na hora, esboçando um sorriso de satisfação ao imaginar o Congresso dando um chute no traseiro presidencial.
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O sorriso, contudo, durou pouco. Porque logo o chato foi embora e me vi transportado para o cada vez mais longínquo e melancólico ano de 1992, quando saí às ruas e pintei a cara espinhenta de verde-e-amarelo para derrubar o Collor e, com alguma sorte, impressionar a Juliana da 8ª série C. Uma piscadela mais tarde e eu já estava em 2016, quando fui às ruas para pedir o impeachment da Dilma porque... Por que foi mesmo? Ah, sim! Porque acreditava ingenuamente que a queda da gerentona petista seria também o fim do PT e da hegemonia da esquerda.
“Que idiota!”, diz você e eu não só aceito o insulto como o repasso agora aos empresários e agentes do mercado financeiro que hoje, dois anos pesadelo lulista adentro, vêm a público para dizerem que estão oh!, muito concerned com a situação econômica do Brasil. Como se eles não soubessem que seria assim quando decidiram sucumbir ao antibolsonarismo psicótico para eleger um ex-presidiário vingativo e cercado de incompetentes por todos os lados.
Isso de pular do barco ao primeiro sinal de iceberg no horizonte é bem a cara da nossa elite econômica pouco afeita à concorrência. Uma elite oportunista, com olhar de curtíssimo prazo, que lega a “preocupação social” aos ESGs da vida, enquanto, quando é de seu interesse, faz lobby por chicanas, jeitinhos e gambiarras jurídico-econômicas. Sem outro norte que não o dinheiro, essa elite bajula o PT quando o partido acena com subsídios, mas se apressa em submeter a nação a um desgastante processo de impeachment quando lhe convém.
Solução fácil
Também o povo que votou em Lula, os supostos 60 milhões de lulopetistas que há espalhados pelo Brasil, com especial concentração no nordeste do país, precisa aprender a arcar com as consequências de seu voto. Essa escolha sempre pela solução mais fácil, essa insistência em acreditar na promessa de picanha & cervejinha, essa opção pelo jingle mais atraente e essa preferência pela hipocrisia têm que acabar. E um eventual impeachment de Lula só mascararia um problema que é bem mais profundo. Além disso...
Ah, que tolice, a minha! Me dei conta agora: qual o sentido de discutirmos o impeachment de Lula? Digo, como exercício de imaginação, e em condições ideais, poderia até ser divertido vislumbrar essa possibilidade. Mas na vida semirreal de quem vive dos fatos políticos, no esplendor de toda a sua abstração e inutilidade, a verdade é que isso não vai acontecer. Não, calma. Vou mudar essa frase porque já me estrepei ao dizer que Milei não seria eleito – e não quero repetir o erro.
[PIGARREIA]. Então fica assim: é muito difícil que Lula venha a sofrer um impeachment. Mesmo que o senhor Rubens Ometto e outros arrependidos do agro e da Faria Lima se envolvam na causa. Porque do outro lado da Praça dos Três Poderes existe o Supremo Tribunal Federal, um lugar místico-ideológico que julga os casos de acordo com a conveniência. E obviamente não é conveniente para o STF que seu apadrinhado mais querido seja apeado do poder.
Além disso, para a beautiful people que agora dá sinais de querer abandonar a piroga (eu disse piroGa!) furada, a queda de Lula representaria a volta do fascismo, por mais imaginário que seja esse bicho-papão. Então o negócio é prender o fôlego, apertar o cinto – e aguentar mais dois anos dessa estrovenga aí. Sempre com a esperança assim meio débil, infantil e ingênua de que em 2026 teremos eleições livres e transparentes, nas quais triunfará a vontade popular.
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