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Ricardo Sabbag

Ricardo Sabbag

Política partidária e eleições no Paraná.

Divisionismo socialista

Candidatos de esquerda no Paraná se diferem por níveis de experiência e radicalismo

Fotos de urna dos candidatos de esquerda ao governo do Paraná em 2022 (Foto: Reprodução/Gazeta do Povo)

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Encerrado o período de registro de candidaturas às eleições 2022 é fato que candidatos de esquerda são a maioria na disputa ao governo do Paraná.

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Dos nove concorrentes ao Palácio Iguaçu, seis são de partidos, coligações ou federações de esquerda: Professora Angela Machado (Psol), Professor Ivan (PSTU), Vivi Motta (PCB), Adriano Teixeira (PCO), Ricardo Gomyde (PDT) e Roberto Requião (PT).

Ao centro e à direita, restam Solange Bueno (PMN), Joni Correia (DC) e, claro, Carlos Massa Ratinho Junior (PSD).

A profusão de vermelhos pode dar a falsa impressão a um observador externo que as correntes socialistas estão em voga no Paraná. Ledo engano. A título de comparação: dos 399 municípios paranaenses, apenas 29 são comandados por prefeitos filiados a algum partido de esquerda (PDT, PT e PV). Ou seja: se há alguma relevância política dessas legendas no estado, ela não tem conseguido romper a fronteira entre o campo de debate e a realidade do eleitor.

O que também explica a fragmentação da esquerda nessas eleições é a unidade de partidos de centro e de direita na candidatura à reeleição de Ratinho Junior. Sob a liderança do atual governador abrigam-se nada menos do que 11 legendas partidárias fazendo campanha por sua permanência no Centro Cívico. Sem uma liderança com o mesmo peso do lado contrário, é natural que as agremiações se dividam em diferentes frentes.

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Essa divisão, no entanto, não se converte necessariamente em um quadro de opções viável e robusto para quem não esteja disposto a dar um novo mandato a Ratinho. Afinal, a maior parte dessas candidaturas está ligada a um ideário completamente desvinculado da realidade do eleitor médio ou é encabeçada por figuras desconhecidas ou irrelevantes – em muitos casos, tudo isso junto.

Maioria dos candidatos de esquerda é inexperiente

Primeiro: a maioria desses candidatos não tem vivência pública suficiente para o eleitor formar uma pálida ideia de como se comportariam ocupando um cargo público. Uma é "militante profissional" e estudante (Vivi Motta), dois são professores da rede pública (Angela Machado e Ivan Bernardo) e um é metalúrgico (Adriano Teixeira). Desses, apenas Professor Ivan já disputou um cargo anteriormente, quando obteve pouco mais de 6 mil votos para o governo do estado.

Gomyde é político profissional, embora a última eleição que tenha vencido foi em 2002 - de 2003 a 2016 ocupou cargos políticos por nomeação. A óbvia exceção à lista é o ex-governador e ex-senador Requião, com seus três mandatos como governador e dois como senador (além de um como deputado estadual e outro como prefeito de Curitiba, nos anos 1980).

Segundo: ainda que todo partido de esquerda defenda valores comuns mais ou menos conhecidos e reconhecíveis pelo grande público – o fortalecimento do estado, o protagonismo da classe trabalhadora ou de minorias, a “justiça social” (notadamente por meio de programas de distribuição de renda) e o anticapitalismo –, no particular essas correntes discordam e diferem entre si, boa parte delas defendendo programas sectários.

PCB, PSTU e PCO, por exemplo, são partidos declaradamente revolucionários. Ou seja, pregam a derrubada de um governo democrático e sua substituição por uma “ditadura popular”. São representantes de uma programática absolutamente ideológica que encontra pouca correspondência com a prática política diária. Tanto que são partidos com pouquíssimos representantes eleitos no Brasil e sem representação no Congresso.

Não à toa, candidatos por esses partidos repetem com frequência que não acreditam no próprio processo eleitoral, que, na visão deles, seria dominado por uma elite política. Logo, disputam as eleições sem a expectativa de vencê-las, mas apenas querendo ocupar espaços para ter seu discurso, normalmente confinado a comitês internos e órgãos de representação de determinadas categorias, amplificado a um público maior.

Quando elegem alguém, os representantes desses partidos fazem pouco mais do que replicar esse mesmo discurso nas tribunas que ocupam. Porque são, por definição, antissistema. Na melhor das hipóteses, querem, abertamente, corroer por dentro um sistema contra o qual lutam. O que aconteceria se ocupassem algum cargo com poder de fato, como o governo de um estado da federação, é imprevisível.

O Psol, por sua vez, nasceu como uma dissidência do PT, assim que este ganhou o poder. Quis se distanciar do partido-mãe rejeitando as alianças que o PT fez com partidos de centro e posicionou-se como representante de um socialismo “puro”, avesso ao pragmatismo governista do PT.

Quase 20 anos depois da fundação, o Psol abraça uma posição de satélite de Lula e encampa com mais facilidade – afinal, é um partido substancialmente menor do que o PT – as bandeiras identitárias, em consonância com a vanguarda esquerdista dos Estados Unidos e da Europa. Não à toa sua candidata no Paraná, Professora Angela, abriu a participação no debate de pré-candidatos ao governo realizado pela Band Paraná saudando “todos, todas e todes”, fazendo uso da chamada “linguagem neutra”.

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O Psol tem bancada federal e já elegeu prefeitos de capitais, o que o coloca alguns passos à frente de outros partidos radicais de esquerda no institucionalismo. Mas perdeu relevância conforme seus principais líderes optaram por caminhos mais pragmáticos e se filiaram a partidos que os dariam mais chances de eleição - caso de Marcelo Freixo no Rio de Janeiro. No Paraná foi cortejado a compor chapa com a federação PT-PV-PCdoB, mas acabou lançando candidatura própria.

PDT e PT não chegam com a mesma força que poderiam ter

PDT e PT são os maiores partidos de esquerda no Paraná. Mas ambos chegam às eleições sem a mesma força que já tiveram ou poderiam ter.

O PDT, por exemplo, lançou o nome de Gomyde aos 45 minutos do segundo tempo, pela necessidade de criar palanque para a candidatura nacional de Ciro Gomes. Suas lideranças mais conhecidas no estado, Gustavo Fruet e Goura Nataraj, optaram pela segurança de candidaturas à reeleição, para deputado federal e estadual, respectivamente. Gomyde nem sequer era pré-candidato antes de Ciro “nomeá-lo” à convenção do partido - fez carreira no PCdoB e, antes, teve uma passagem pelo PSB.

Já Requião e o PT, apesar de toda a tradição que têm isoladamente nas disputas políticas do estado, estão juntos pela primeira vez. Requião, o mesmo do “MDB velho de guerra”, encontrou guarida no partido de Lula depois de ter sido defenestrado da legenda onde passou a vida. Ele se diz “confortável” no PT ao mesmo tempo que desanca o comportamento do partido em anos recentes.

E o PT, por si, vem de um ciclo de baixa no estado desde que o impeachment de Dilma Rousseff lançou ao ocaso suas lideranças históricas. Tanto que a maior liderança petista hoje, a deputada federal Gleisi Hofmann, está mais vinculada às bandeiras nacionais que encampa como presidente nacional do partido do que a questões domésticas paranaenses. Gleisi é uma personagem nacional do PT com domicílio eleitoral no Paraná.

Em suma: pode parecer que o eleitor paranaense de esquerda – ou de oposição a Ratinho Junior – tem muitas opções nessas eleições. No frigir dos ovos, poucas delas são viáveis ou seguras.

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