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O fim do orgulho rentista e as possibilidades de lucro sobre a mesa
| Foto: BigStock

Podemos dizer que o brasileiro tinha orgulho de ser rentista. Anos atrás, algumas aplicações financeiras traziam rendimentos relevantes para o respectivo risco apresentado. Digamos, inclusive, que era relativamente fácil ganhar dinheiro no Brasil, em função, novamente, da possibilidade da relação risco-retorno. O mercado era outro, pessoas físicas não tinham tanto acesso a informações como tem atualmente e instituições financeiras “nadavam de braçada”. Em março de 1999, quando foi divulgada pela primeira vez pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, a meta da taxa Selic era de 45% ao ano. Já a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), segundo dados do IBGE, foi de 8,94%. Nos períodos subsequentes, a Selic foi recuando e encerrou aquele mesmo ano em 19%. Em 2000, a taxa fechou com 16,5% e em 2001 voltou aos 19%. Já a inflação em 2000 foi de 5,97% e em 2001 de 7,67%. Ou seja, havia uma possibilidade de ganho real muito acima do que vemos hoje.

Para os que desconhecem dados atuais (fechados de 2019), a taxa de juros encerrou em 4,5% e o IPCA em 4,31%. Alguns podem questionar os números da inflação dada a realidade de cada indivíduo, mas estes são dados oficiais no país.

Com a Selic caminhando em dois dígitos entre o período mencionado acima e junho de 2009, bem como de junho de 2010 a março de 2012 (este de maneira forçada, como mencionam economistas), as aplicações financeiras conservadoras permaneceram atrativas. Sem precisar ir muito longe, em dezembro de 2015, o Tesouro Nacional oferecia títulos do Tesouro Direto, como os prefixados, com taxas acima de 16% ao ano com vencimento em até seis anos. Recordo perfeitamente que sustentávamos veementemente a recomendação de que o pequeno investidor poderia dobrar de capital com baixo risco em apenas seis anos. Entretanto, “infelizmente”, nossa realidade é outra. Ainda há os que buscam ativos como esse ou os famosos 1% ao mês - conceito que nunca existiu, mas sempre nos chega a tal pergunta: qual investimento rende 1% ao mês sem risco?

Outro comparativo possível de ser realizado envolve a rentabilidade da poupança, que nos últimos dez anos apresentou apenas um retorno real superior a 3% no ano. No entanto, entre 1999 e 2007, o brasileiro conseguiu obter “boa” performance em quatro ocasiões. E o que quero dizer exatamente com isso? Que não sabemos se grande parte da população brasileira tem de fato perfil conservador ou se coloca dessa forma apenas pelo comodismo proporcionado ao menos nas últimas duas décadas. E isso será testado a partir de agora.

Em 2020 começaremos, possivelmente, um novo ciclo para o investidor brasileiro, independentemente do volume de recursos que tenha. Com a taxa de juros em 4,5% e a possibilidade de recuar para 4,25% ainda no primeiro trimestre e inflação esperada para quase 4% no ano, veremos quem de fato quer começar a correr riscos para buscar uma performance mais interessante nas aplicações financeiras. Obviamente há pessoas de perfil conservador, mas de forma segura afirmo também que muitos terão que experimentar novas oportunidades e descobrirão que podem ter perfil moderado ou até agressivo. Tudo independe do sexo, raça ou condição social. Algo que poderia ser alegado é idade e as necessidades do dia a dia, mas restringiria as possibilidades a apenas esses campos.

O próprio mercado de renda variável tende a crescer substancialmente em 2020. A B3 divulgou nesta segunda-feira (13) que o número que CPFs ativos na bolsa subiu para 1,7 milhões de pessoas ante os 835 mil em dezembro de 2018. Acredito, inclusive, que no final deste ano poderemos ver esse número dobrar novamente.

Sendo assim, vamos acompanhar o desenvolvimento dessa história e nos próximos meses, com indicadores sendo divulgados, veremos se o investidor brasileiro mudou de patamar ou se segue desconhecendo as possibilidades de lucro que estão intocadas na mesa.

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