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O deputado federal e ex-prefeito de Curitiba Gustavo Fruet (PDT) lança, na próxima semana, “Travessia”, livro em que conta bastidores de sua atuação no Congresso Nacional, bem como em de sua passagem pela administração municipal, entre 2013 e 2016. Em uma das passagens, o ex-prefeito cita a frustração por não ter conseguido implementar o metrô de Curitiba e diz, sem citar nomes, que foi uma das ocasiões em que sentiu “o sistema”, “os donos da cidade” atuando para manter seus monopólios.
“O projeto do metrô merece um destaque. Pela primeira vez, a cidade tinha recursos assegurados e um projeto consistente (...) Na engenharia financeira que montamos, os custos do metrô seriam divididos da seguinte forma: a União entraria com R$ 1,8 bilhão, a fundo perdido (sem necessidade de devolução); e empréstimo de R$ 1,4 bilhão, sendo R$ 700 milhões da prefeitura e R$ 700 milhões do governo do Paraná. Outros 1,368 bilhão viriam da empresa vencedora da licitação. Interesses econômicos e políticos impediram a cidade de ganhar um novo modal – utilizado nas principais metrópoles do mundo – e dar um salto na capacidade de transporte. Na véspera do leilão na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), uma liminar do Tribunal de Contas do Estado (TCE) paralisou o processo. Mais uma vez percebi o ‘sistemas estabelecido ao longo de anos de gestões anteriores não permitiria a quebra de monopólio. Perdeu-se uma oportunidade de investimento que não se abrirá tão cedo”, escreveu o ex-prefeito.
Outro “dono da cidade” citado por Gustavo Fruet seria o Instituto Curitiba de Informática (ICI). Segundo o ex-prefeito, a cidade é refém do instituto. “Quando assumimos, encontramos um contrato ‘inflado’ recém assinado pelos nossos antecessores, de quase R$ 500 milhões. Pior. Uma manobra contratual realizada em 2010 repassou a propriedade dos códigos-fontes dos sistemas uitilizados pela administração municipal para o ICI. Ou seja, a prefeitura passou a pagar pelo uso de sistemas que o próprio município pagou para desenvolver. O que fizemos? Auditamos e reduzimos o contrato em mais de 50% e fomos ao Judiciário lutar pela propriedade dos códigos-fonte. Esse é apenas um exemplo do que enfrentamos na gestão, de como o “sistema” privilegia interesses – tudo com amparo jurídico – e de como as coisas voltaram a funcionar após a nossa saída”, escreveu.
Fruet ainda conta bastidores da CPMI dos Correios, que acabou trazendo à tona um dos maiores escândalos de corrupção da história do país: o Mensalão. Mas o deputado também fala de futuro, tratando da influência da inteligência artificial, eletromobilidade, internet das coisas, smart cities, 5G e das mudanças climáticas na vida humana.
“Ao longo da minha trajetória na vida pública, convivi com o que há de melhor e de pior na política. Confesso que não foram muitos os momentos de tranquilidade. O fato é que desde muito pequeno acompanhava meu pai, Maurício Fruet, nas suas batalhas. Toda aquela paixão e os momentos de enfrentamento contra a acomodação, despertaram em mim a vontade de seguir os passos na política, que se apoiam muito na intuição, vocação e, quando possível e com o tempo, um pouco de planejamento. Acredito que tenha chegado a hora de compartilhar essa experiência”, comentou Fruet sobre o livro que lança na próxima quinta-feira.