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Lenin e seu discípulo mais fiel
Lenin e seu discípulo mais fiel| Foto: wikimedia commons

Na coluna anterior, vimos como Stálin inicialmente era moderado, chegando a censurar Lênin em vários momentos pelo seu radicalismo pré-revolucionário. Mas esse radicalismo de Lênin aos poucos foi ganhando o coração de Stálin.

O professor Oleg Khlevniuk, na sua obra, Stálin: Nova biografia de um ditador (Amarilys, 2017) mostra que Lênin adotaria uma manobra política inteligente que mudaria a cabecinha oca de Stalin para sempre: “Lênin usou uma combinação de linha dura intransigente e conciliação. Uma manobra particularmente importante foi o recrutamento de bolcheviques 'direitistas', especialmente Stalin e Kamenev, para o lado dele. Lênin agiu com cautela, sempre permitindo que seus oponentes se resguardassem. Em vez de encurralá-los, ele os promoveu ao topo do partido posições. No caso de Stálin, esta abordagem funcionou. O que quer que tenha acontecido na cabeça de Stálin, ele rapidamente se postou como defensor de Lênin” (p. 65). Na página seguinte, o professor diz que “Stálin viu, de forma muito direta, a imensa influência de Lênin dentro do partido.”

Pronto: a partir desse momento Stálin virou a chave. De um moderado com tendências democráticas, ele se tornou um radical intransigente: ele viu por experiência própria que o radicalismo de Lênin poderia ser bom para a carreira dele também. É exatamente essa leitura que o professor Khlevniuk faz: “Em 1917, tendo deixado de lado as apreensões do bolchevismo de 'direita', Stálin iniciou o curso radical de Lênin em direção à tomada do poder e à introdução do socialismo. Ele nunca vacilou nesta decisão” (p. 67).

Impulsionando a sua própria revolução na década de 1920, Stálin, tal como Lênin, apostou numa estratégia de radicalismo desenfreado

Contudo, você já deve ter ouvido falar que Stálin traiu a revolução socialista e que foi completamente o oposto do que Lênin tinha sido. O único problema desse argumento é que ele é uma besteira total. O professor mostra um ponto importante que os defensores de Lênin usam pra tentar dissociar a figura de Lenin com a de Stalin: “As inconsistências ocasionais que os estudiosos notaram entre os pronunciamentos de Lênin e Stálin são bastante superficiais e provavelmente mostram apenas que Stálin teve dificuldade em acompanhar as frequentes reviravoltas táticas. O próprio Lenin teve dificuldade em acompanhá-las.”

Agora prestem bastante atenção, porque o professor conclui seu argumento da seguinte maneira, para não deixar dúvidas: “Que lições Stálin tirou de sua primeira experiência de luta para alcançar o poder? Ele parece ter ficado muito impressionado com a determinação de Lênin, a sua teimosa e incansável insistência no seu próprio programa de ação. Anos mais tarde, quando Stálin realizou a sua 'revolução de cima', uma das muitas crises na história da sofrida Rússia, ele demonstrou plenamente seu próprio talento para ações decisivas. Pegando emprestado de Lênin uma atitude obstinada e modus operandi político inescrupuloso, ele se esforçou para aproveitar e manter o poder sem se preocupar com o efeito que suas ações teriam sobre os outros. Este princípio permitiu-lhe agir com a máxima crueldade e pouca limitação. Impulsionando a sua própria revolução na década de 1920, Stálin, tal como Lênin, apostou numa estratégia de radicalismo desenfreado” (p. 72).

É simplesmente impossível chegar a outra conclusão quando comparamos a postura inicial violenta e intransigente de Lênin, com o que Stálin e tornara depois. Todas as políticas de repressão em massa, expurgos e ataque aos camponeses foram experimentadas por Lênin e derivadas dele.

Mas Stálin herdou uma outra “habilidade” sinistra de Lênin: ambos foram responsáveis, dentro de um espaço de 10 anos apenas, de matar milhões de pessoas de fome graças a sua maneira de governar.

Conteúdo editado por:Bruna Frascolla Bloise
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