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Ridley Scott tem colecionado fracassos históricos nos últimos anos, principalmente com o último deles. "Napoleon" (2023) ainda amarga um fiasco na carreira do gênio que nos entregou "Alien" (1979) e o primeiro "Gladiador" (2000). Isso, senhoras e senhores, torna as coisas muito mais complicadas para nosso bom velhinho, principalmente porque ele resolveu fazer a continuação de um clássico que marcou toda uma geração, inclusive deste que escreve para vocês.
Quando se tem um filme épico e incrível como "Gladiador", em que o personagem principal morre, a sensação é que o filme morre junto. Também sentiram isso? Não precisa de uma sequência, ninguém pediu por Gladiador II. Mesmo assim veio e parece que, principalmente no aspecto histórico, Scott não veio para brincadeira.
Quer dizer, colocar tubarões dentro do Coliseu é uma piada, tirando isso, as cenas no monumento são de tirar o fôlego; o Coliseu é de tirar o fôlego. Ele foi reconstruído no mesmo local do primeiro filme, inclusive.
Onde tem tubarão tem água; e meus amigos, eles colocaram água no Coliseu, o que surpreendeu muita gente. Mas, historicamente, isso é correto, e tinha nome: naumachia, ou batalhas navais.
O anfiteatro, por excelência, o Magnum Opus da engenharia romana, parecia ser de outro planeta. Quando o público viu batalhas navais acontecendo já na estreia do Coliseu em 80 AD, ele foi a loucura. Não se falava de outra coisa nas ruas romanas, como atestam filósofos e escritores romanos como Dio Cassius e Suetônio. Parece que só aconteceram batalhas navais em mais duas ocasiões nos anos seguintes. Quem viu, viu; quem não viu... O filme mostra como era.
Outra coisa linda que vai passar despercebido pela maioria: os panos no teto do Coliseu. Chamados de velarium, serviam para proteger o público do sol no dia dos jogos de verão. A galera que sentava lá em cima era o povão pobre, que não via quase nada embaixo, mas pelo menos ficava na sombrinha. E ainda falando em Coliseu, existiam jogos e anfiteatros por todo o império.
Além da batalha naval, teve outra cena que mexeu com a imaginação do pessoal: rinoceronte no Coliseu. Isso é real: em sua inauguração, um rinoceronte teria mesmo lutado com outros animais, como touro, urso, búfalo e leão... Mas não humanos, pelo amor de Júpiter. E ainda colocaram um gladiador cavalgando o rinoceronte em pé. Também teve macacos, como mostra o filme. Esse espetáculo com animais tinha nome na Roma antiga: venatio, que quer dizer “caçada”. Alguns historiadores debatem se eram gladiadores ou caçadores que lutavam contra esses animais, mas, em algumas ocasiões homens lutavam sim.
Agora, uma observação importante: nessas lutas, os gladiadores não morriam sempre. A gente cresceu vendo nas mídias que os romanos eram quase vampiros que gostavam de ver sangue jorrando para todo lado. Mas estudos especializados mostram que romanos gostavam tanto de ver esportes violentos como a maioria das pessoas hoje. Uma coisa é assistir uma luta violenta de MMA, outra coisa é ver tripas e cabeças espalhadas pelo chão. Então, os romanos tinham seus limites em relação à violência como a gente também.
E vamos lembrar que gladiadores eram caros; eles eram comprados por comerciantes e treinados para participar desses eventos. A expectativa era que eles não se machucassem gravemente e muito menos morressem em luta. Eram esportes violentos, mas a proporção de morte em batalha era muito menor do que se pensa: algumas estimativas sugerem que, nos momentos mais violentos do Coliseu, uma luta em cada 10 terminava em morte. Parece muito para os padrões hoje, mas não é, principalmente quando lembramos que havia armas afiadas e feras nervosas no Coliseu.
Esse é só um aperitivo para o que o leitor, que ainda não viu o filme, pode esperar. Sim, não pedimos a continuação de Gladiador, mas nós temos uma
Ridley Scott nos entregou uma continuação épica, bem-feita, e decentemente executada historicamente. Jamais poderá ser equiparado ao primeiro, mesmo assim, estamos diante de um bom filme.
Conteúdo editado por: Aline Menezes