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Thiago Braga

Thiago Braga

Entender a história da guerra é entender a história dos homens. Uma nova coluna todo domingo.

Por que o comunismo era utópico e não científico?

(Foto: wikimedia commons)

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Marxistas adoram dizer que o negócio deles é científico: chega escorre uma baba no canto da boca e os pelos da barba arrepiam quando falam do “materialismo histórico”. Mas eles são quase tão crentes na ideologia deles, quanto qualquer religioso é na sua religião. Não que isso seja ruim: ter fé é algo que ajuda muito nestes dias difíceis. O problema é que marxistas, em geral, desprezam religiões. Essa contradição fica escancarada quando analisamos as teorias e práticas defendidas por eles.

Mas indo direto ao ponto: comunismo é utópico, e as atitudes materiais dos comunistas ao longo do século XX provam isso. A professora Sheila Fitzpatrick, na sua obra Revolução Russa (Todavia, 2017) diz exatamente isso: “Havia um traço desvairadamente irrealista e utópico em grande parte do pensamento bolchevique durante a guerra civil. Sem dúvida, todas as revoluções bem-sucedidas têm essa característica: os revolucionários precisam ser impulsionados pelo entusiasmo e pela esperança irracional, já que do contrário eles fariam a ponderação sensata de que os riscos e custos da revolução sobrepujavam os possíveis benefícios. Os bolcheviques pensavam ser imunes ao pensamento utópico porque seu socialismo era científico. Os bolcheviques eram entusiastas revolucionários, não assistentes de laboratório. Era uma avaliação subjetiva dizer que a Rússia estava pronta para a revolução proletária em 1917, ainda que os bolcheviques citassem a teoria marxista da ciência social para ampará-la. Era mais uma questão de fé do que de previsão científica sustentar que a revolução mundial era iminente” (p. 125).

E a professora segue mostrando uma evidência curiosa dessa utopia comunista: os bolcheviques estavam tão “no mundo da lua” com a sua revolução, que em 1920 eles resolveram mandar o Exército Vermelho marchar pela Polônia até Varsóvia achando que seus “irmãos” trabalhadores poloneses iriam recebê-los de braços abertos como portadores do comunismo e da salvação da classe trabalhadora. Mas sabe como os poloneses receberam os comunas? Com tiro na bunda! Colocaram os vermelhinhos para correr do país deles! Mais alguém aí admira o povo polonês por isso?

Os bolcheviques tinham fé, uma crença baseada no marxismo, de que a História estava ao seu lado

E se você acha que não tem como ficar pior, olha isso aqui: quando a guerra civil e a fome produziram bandos de crianças desabrigadas durante a guerra civil, alguns bolcheviques encaravam até isso como uma benção disfarçada, uma vez que o Estado poderia dar àquelas crianças uma verdadeira formação coletivista e elas não ficariam expostas à influência burguesa da velha família.

Corroborando esse caráter utópico e religioso, o artigo escrito pelo professor James Ryan chamado “A sacralização da violência bolchevique”, na p. 818 no subtítulo “Religião política e a violência estatal soviética”, diz que o “leninismo pode fornecer o exemplo mais claro do que pode ser considerado uma religião política ou secular.” Entre as várias evidências apresentadas pelo autor está o fato de as instituições soviéticas celebrarem os que morreram na luta armada como mártires, cujas vidas e as mortes seriam justificadas pelo triunfo do socialismo, e o “sangue puro” dos trabalhadores mortos foi dado para o futuro do "mundo dos trabalhadores”, com um aspecto claramente messiânico em sua própria causa.

Portanto, para alcançar o “radiante amanhã”, os extremistas comunistas do século XX passaram a justificar todos os meios. Eles tinham fé, uma crença baseada no marxismo, de que a História estava ao seu lado e eles eram ferramentas usadas para cumprir esse papel histórico. E nada, nem ninguém, poderia se colocar no seu caminho. Qualquer semelhança com muçulmanos extremistas fazendo seu jihad em nome de uma causa santa, não é mera coincidência.

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