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Como está o Rio Grande do Sul agora três meses após enchentes
Pior enchente da história do Rio Grande do Sul atingiu 8 a cada 10 cidades do estado.| Foto: Gustavo Mansur/Palácio Piratini

Passados mais de três meses das enchentes históricas que devastaram cidades inteiras e deixaram parte de seu território debaixo d’água, o Rio Grande do Sul segue no trabalho de reconstrução. Aos poucos, os gaúchos tentam retornar à vida normal, mas ainda há sérios desafios em diversos setores, como os relacionados à infraestrutura.

A malha ferroviária gaúcha, terceira maior do Brasil, segue isolada do restante do país após os estragos provocados pelas águas. Já em relação às rodovias, o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) do Rio Grande do Sul estima que mais de 80% dos trechos afetados tiveram o tráfego restabelecido.

Com o fechamento do aeroporto Salgado Filho, na capital Porto Alegre, o governo de Eduardo Leite (PSDB) buscou alternativas no interior do estado. Porém, a falta de interessados cancelou o leilão de concessão de dois terminais. O mercado imobiliário, por outro lado, experimenta uma lenta, mas necessária, retomada – uma amostra de como está o Rio Grande do Sul agora.

Ferrovias gaúchas estão isoladas do resto do Brasil

No início de maio, quando as enchentes davam pouco sinal de recuo, a empresa Rumo Logística, concessionária da Malha Sul, interrompeu as operações nas estradas de ferro do Rio Grande do Sul. “A prioridade da companhia é garantir a segurança dos colaboradores e de suas famílias, assim como das operações na região. Todo o time da Rumo se solidariza com a população do Rio Grande do Sul”, disse a empresa, em nota enviada à Gazeta do Povo na época.

Passada a pior cheia da história do Rio Grande do Sul, os carregamentos por trilhos seguem travados, deixando os gaúchos isolados do Brasil. Trechos considerados essenciais para a logística de cargas e passageiros continuam inoperantes, obstruídos por entulhos, ou simplesmente devorados pela enxurrada. Ainda é incerto o tempo que vai levar para o restabelecimento pleno da atividade.

Segundo o Executivo estadual, a Rumo se comprometeu a apresentar, até o fim deste mês, um diagnóstico dos problemas causados pelas enchentes, mas o estado cobra soluções. “Só a partir desse levantamento é que podemos propor soluções e projetar ações condizentes para o modal, que já tinha necessidade de investimentos para modernização e retomada em diferentes trechos”, disse o vice-governador Gabriel Souza (MDB).

Leilões de aeroportos no interior do Rio Grande do Sul foram cancelados

Quando o maior aeroporto do estado precisou interromper as operações, o governo gaúcho já tinha publicado o edital para a concessão dos aeroportos de Passo Fundo e Santo Ângelo. Iniciado em fevereiro, o processo tinha previsão de se encerrar em julho, com a apresentação das propostas dos interessados em administrar os terminais do interior.

Pelo edital, a concessionária operaria, faria a manutenção e ampliaria a capacidade da infraestrutura dos aeroportos por 30 anos. O investimento previsto era de R$ 101 milhões, incluindo reformas nas pistas, pátios, novos terminais e outras estruturas, sendo que o próprio governo do estado entraria com R$ 29 milhões por meio das secretarias de Logística e Transportes e de Parcerias e Concessões. A contrapartida não foi suficiente.

A data prevista para a entrega dos envelopes das empresas interessadas em administrar os dois terminais do interior gaúcho era 25 de julho, mas não houve proponentes. O leilão seria realizado inicialmente em 20 de junho — as enchentes, porém, forçaram o adiamento. Mesmo com mais tempo disponível e voos da malha emergencial operando nesses aeroportos, o governo do Rio Grande do Sul não conseguiu convencer a iniciativa privada de que seria um bom negócio investir no Lauro Kortz, em Passo Fundo, e no Sepé Tiaraju, em Santo Ângelo.

No último dia 9 de agosto, as companhias aéreas que operam no Salgado Filho voltaram a vender bilhetes de viagens para os passageiros. Esta é a primeira fase da operação da retomada do aeroporto, com o funcionamento pleno da pista de 1.700 metros. A expectativa de reabertura total das operações, segundo a concessionária que administra o terminal, é 21 de outubro. Para dezembro é esperada a liberação de uso total dos mais de 3 quilômetros da pista de pousos e decolagens.

Mais de 80% das rodovias gaúchas afetadas pelas cheias estão com tráfego restabelecido

Na semana em que completou 87 anos de fundação, o Daer do Rio Grande do Sul – órgão responsável por administrar a maior parte da malha rodoviária atingida pelas enchentes – contabilizou em 82% o total de recuperação nas estradas do estado. De acordo com o Daer, mais de 8,4 mil quilômetros de rodovias estaduais estão com o tráfego restabelecido.

Entre as ações tomadas pelo departamento estão a recuperação de trechos de rodovias e de contenção em cabeceiras de pontes, como na ERS-403, em Rio Pardo e Cachoeira do Sul. O trecho é considerado uma das principais ligações regionais do Rio Grande do Sul, e ficou sobrecarregado com os bloqueios na RSC-287

Caberá ao Daer a reconstrução de uma nova ponte na rodovia VRS-843, em Feliz, no Vale do Caí. A estrutura anterior foi levada pelas enchentes e será substituída por uma nova, com previsão de conclusão para o fim de 2025. Nas contas do departamento, serão investidos cerca de R$ 12 milhões, oriundos do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, para erguer os 120 metros da nova ponte.

Outros R$ 14,7 milhões estão sendo investidos pelo governo do Rio Grande do Sul nas reformas realizadas na Estação Rodoviária de Porto Alegre, que ficou parcialmente submersa durante o período mais crítico das cheias. Parte deste recurso foi aplicada para garantir a reabertura das lojas instaladas no terminal.

De acordo com o Daer, dos 64 estabelecimentos da rodoviária, 20 estão aptos a voltar a funcionar. A reabertura ocorreu no último dia 12 de agosto. As demais aguardam vistoria do departamento para que possam retomar as atividades, o que deve ocorrer até o fim do mês.

Retorno do setor imobiliário é síntese da recuperação do Rio Grande do Sul

A presença de placas anunciando aluguel ou venda de imóveis na capital gaúcha aumentou após a redução do nível das águas que tomaram conta de Porto Alegre. Também cresceu o tempo que os proprietários estão aguardando até que novos inquilinos ocupem os imóveis. Nas contas do Sindicato da Habitação do Rio Grande do Sul (Secovi-RS), salas e apartamentos que antes esperavam por até um ano, em média, para serem alugados agora somam mais dois meses na fila de espera.

O número foi confirmado à Gazeta do Povo pelo presidente do Secovi-RS, Moacyr Schukster. Segundo ele, o prazo mais longo é reflexo da queda na procura provocada pela tragédia climática. Porém, avaliou o presidente, há sinais de que este mercado começa a se recuperar.

“Em abril, nós tivemos números acima da média em relação às negociações, principalmente nas vendas de imóveis novos e usados. Parecia que o mercado estava se preparando para o que viria. Em maio, o número de negociações caiu para menos da metade, e se restringiu às poucas áreas que ficaram salvas das águas”, relatou.

A quebra de maio foi, aos poucos, recuperada em junho, de acordo com Schukster. À reportagem da Gazeta do Povo, ele disse estar confiante na retomada da normalidade e comparou o cenário do setor à recuperação pela qual os gaúchos estão passando, de modo geral.

“Os impactos das enchentes são incalculáveis. Não sou especialista, mas consigo ver o quanto as pessoas foram abaladas até mesmo psicologicamente. E essa retomada é um processo lento, mas que vai avançando. Nós vemos, pelos números, que o mercado de imóveis está aos poucos se reaquecendo. Assim é com Porto Alegre, e todo o Rio Grande do Sul. Passado o impacto terrível, agora é o momento de nos reerguermos e reconstruir tudo o que a chuva nos levou”, avaliou.

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