A Justiça do Rio de Janeiro condenou a cinco anos de prisão o dono do ferro velho em que teria sido desmanchado o carro utilizado na morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em 2018, no Rio de Janeiro. Edilson Barbosa dos Santos, conhecido como Orelha, foi preso em fevereiro após as investigações confirmarem as informações fornecidas na delação do ex-PM Élcio de Queiroz, que dirigia o veículo de onde Ronnie Lessa atirou contra as vítimas.
A decisão do juiz Renan Ongaratto, da 37ª Vara Criminal foi proferida no último dia 26 de setembro e tornada pública nesta segunda (30). Ele alegou que a destruição do carro prejudicou as investigações do caso.
“A destruição do carro embaraçou as investigações daqueles homicídios, impossibilitando a realização de perícia criminal no veículo e, assim, contribuindo para que os executores dos crimes somente se tornassem suspeitos quase um ano após os assassinatos”, escreveu.
Ongarato também afirmou que o desmanche do veículo dificultou a identificação dos mandantes do crime, que só foram conhecidos em 2024, seis anos após os homicídios.
“Aproximadamente 90% das execuções em crimes premeditados pela milícia carioca são realizadas com este modus operandi, ou seja, com utilização de veículo, seja moto ou automóvel, exatamente em virtude da rapidez proporcionada na fuga, sendo, portanto, elemento fundamental para o êxito do resultado visado que o carro não seja nunca mais localizado”, emendou a promotora Fabíola Tardin Costa, do Ministério Público.
Por outro lado, o advogado de Orelha, Felipe Souza, declarou que vai recorrer da decisão, alegando que a condenação foi baseada apenas na delação de Queiroz. “A sentença foi baseada apenas na delação do Élcio. E a delação tem que vir acompanhada de outros elementos de prova. A pena também foi exagerada porque ele é réu primário”, apontou.
De acordo com o Grupo de Atuação Especializada contra o Crime Organizado (Gaeco), Orelha destruiu o veículo em um desmanche no morro da Pedreira, na zona Norte do Rio, o que impediu o avanço das investigações. Ele teria sido acionado para essa tarefa pelo ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, preso desde julho de 2023 por envolvimento no caso.
O Gaeco apontou que Orelha tinha ligações com Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, ambos presos desde 2019 como principais suspeitos de terem executado Marielle e Anderson.
A delação de Élcio de Queiroz também implicou Suel que, segundo o depoimento, foi quem ordenou que Orelha se livrasse do carro usado no atentado. Suel já está detido por participação no crime.
A investigação da Polícia Federal concluiu que o assassinato de Marielle foi encomendado pelos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, presos desde março de 2024. A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou que os irmãos tinham divergências políticas com o PSOL, agravadas pela atuação de Marielle na Câmara Municipal – ambos negam envolvimento no crime.
O delegado Rivaldo Barbosa, chefe da Polícia Civil do Rio à época dos assassinatos, também foi acusado de participar do planejamento do crime. Segundo a PGR, ele teria orientado como o homicídio deveria ser executado para dificultar sua elucidação. Barbosa, no entanto, também negou qualquer participação no crime.
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