Repercussão
Decisão repercutiu com economistas e entidades de classe. Veja o que disseram autoridades da Fiesp, CNI, Fecomércio e CUT.
Diante da crise financeira internacional e dos sinais de recessão nas principais economias do mundo, como Estados Unidos, França, Inglaterra e Alemanha, entre outras, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central brasileiro se reuniu e optou nesta quarta-feira (29), por unanimidade, pela interrupção do processo de aumento dos juros básicos da economia para avaliar os efeitos da crise sobre o país e os diversos fatores que estão impactando a inflação.
Em reunião ocorrida nesta terça e quarta-feiras (28 e 29), o Copom manteve a taxa Selic inalterada em 13,75% ao ano. Segundo o relatório de mercado divulgado pelo BC nesta segunda-feira (27), os economistas apostavam, na última semana, em um novo aumento de juros, agora para 14% ao ano. Nesta quarta-feira, porém, a maior parte dos economistas já havia alterado sua aposta e passou a prever a manutenção da taxa de juros.
Com a decisão, o Copom ainda não aderiu, porém, à estratégia adotada em vários países desenvolvidos. No início deste mês, vários BC's, em ação coordenada inédita, baixaram os juros por conta de temores de recessão. Nesta quarta-feira, o BC da China reduziu os juros pela terceira vez em seis semanas, enquanto o Federal Reserve (o BC norte-americano) reduziu sua taxa para 1% ao ano, a menor desde junho de 2004.
Ao fim do encontro, o Copom divulgou a seguinte frase: "Avaliando o cenário prospectivo e o balanço de riscos para a inflação, em ambiente de maior incerteza, o Copom decidiu, por unanimidade, neste momento, manter a taxa Selic em 13,75% ao ano, sem viés".
Metas de inflação
No Brasil, vigora o sistema de metas de inflação, pelo qual o Copom tem de calibrar a taxa de juros para atingir uma meta pré-determinada para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Para este ano, e para 2009, a meta central é de 4,5%. Entretanto, há um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Com isso, o IPCA pode ficar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida.
Para 2008, a estimativa do mercado é de que o IPCA some 6,27%. Para 2009, a projeção é de 5% - acima da meta central de 4,5%. O BC já avisou que quer trazer a inflação para o centro da meta já no próximo ano. Por isso, sobe os juros. O mercado estima que a taxa Selic avance para 14,25% ao ano no fim de 2008, ou seja, ainda espera mais uma elevação de 0,25 ponto percentual na reunião de dezembro.
Fatores avaliados pelo Copom
Por conta da crise financeira internacional, a reunião desta semana do Copom foi considerada por especialistas como uma das mais difíceis dos últimos tempos. Isso porque a crise tem gerado impactos diferentes na economia brasileira. Enquanto o menor crescimento econômico e do crédito, além da queda das "commodities" contribuiem para desacelerar a inflação, a subida do dólar, por outro lado, atua para pressinar os preços. O G1 conversou com economistas no início desta semana e mostrou que o Copom, por conta da crise, estaria entre a cruz e a espada.
Crescimento econômico
Há um consenso, por exemplo, de que a crise financeira vai gerar uma desaceleração da economia mundial, e, consequentemente, do PIB brasileiro. A previsão do mercado era de que a economia brasileira avançasse 3,5% em 2009. Isso antes do anúncio da concordata do banco norte-americano de investimentos Lehman Brothers, que marcou a piora do cenário externo em meados de setembro. Agora, a previsão da maior parte dos analistas já está caiu para 3,1% de aumento. Há economistas, porém, que já falam em crescimento de 2% a 2,5% para o próximo ano.
Com crescimento econômico mais baixo, haveria também uma pressão menor sobre os preços. Entretanto, na ata do Copom de setembro, o BC já avaliava que dinamismo da economia, que cresceu expressivos 6% no primeiro semestre, estaria sendo sustentado "essencialmente pela demanda doméstica".
Crédito
A escassez do crédito para alguns setores, como exportações, construção civil, agricultura, devido ao cenário internacional adverso, até o momento, é uma das principais consequências da crise financeira na economia brasileira. Para o consumidor final, já estão sendo observados aumentos de juros e redução na quantidade de parcelas para os financiamentos - o que tende a desacelerar a concessão de crédito nos próximos meses. Segundo economistas, este é um fator que também contribui para uma pressão menor sobre a inflação no futuro - visto que este foi um dos principais impulsionadores do consumo nos últimos meses.
Commodities
Outro fator que seria benéfico para o controle da inflação no país é a queda dos preços das "commodities" (petróleo, aço e alimentos, entre outros). No caso do petróleo, por exemplo, o barril estava cotado em cerca de US$ 100 na reunião do Copom de setembro. Nesta quarta-feira (29), já operava ao redor de US$ 65. Ou seja, um recuo de cerca de 35%. Esse fator contribuiria para manutenção dos preços dos combustíveis no próximo ano, além de impactar toda a cadeia produtiva da indústria petroquímica: embalagens, brinquedos, componentes automotivos, utilidades domésticas, peças para a indústria eletroletrônica e para a construção civil.
Dólar em alta
Se por um lado a crise financeira tem gerado desaquecimento da economia e queda dos preços das "commodities", que seriam teoricamente benéficos para o controle da inflação, por outro também tem causado a disparada do dólar - o que contribui para pressionar os preços. Desde a última reunião do Copom, no início de setembro, o dólar já avançou 21% - visto que estava em R$ 1,78. No fechamento desta quarta-feira, já estava em R$ 2,16. Com o dólar mais caro, aumenta também o valor dos insumos e matérias-primas importados para a produção nacional, o que pode gerar remarcação de preços no mercado doméstico.
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