A fabricante de automóveis japonesa Toyota mal teve tempo de comemorar a conquista do posto de número um do mundo automobilístico, conseguido no ano passado, quando desbancou a americana General Motors, líder de vendas por 77 anos. Uma das mais lucrativas montadoras, que até este ano não sabia o que era um resultado vermelho em seu balanço, também foi pega pela crise assim como suas concorrentes.
A companhia está demitindo funcionários, desativando fábricas e viu sua produção desmoronar 50% em fevereiro. Também recorreu ao governo do Japão para ajuda financeira de US$ 2 bilhões, apesar de seus balanços mostrarem lucros acima de US$ 10 bilhões nos últimos cinco anos. Para o ano fiscal que se encerrou dia 31 é esperado o primeiro tombo financeiro, com perdas próximas a US$ 5 bilhões, segundo analistas.
Também como várias de suas concorrentes, em especial a GM, a turbulência financeira levou o grupo japonês a trocar de presidente. Akio Toyoda, neto do fundador Kiichiro Toyoda, assume o comando da empresa em junho. É o primeiro membro da família a atuar como presidente em 14 anos.
Na Cidade Toyota, na região de Nagoya, onde está a sede do grupo, o clima é tão triste quanto o de Detroit - berço da indústria automobilística americana -, embora ainda não haja quarteirões inteiros com casas vazias e nem sem-tetos nas calçadas. "A cidade foi nocauteada, pois tudo gira em torno da Toyota", diz, por telefone, o brasileiro Francisco Freitas, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Maquinário e Informática do Japão. Cerca de 80% da mão de obra local está ligada às atividades da montadora.
Além da queda nas vendas no mercado japonês, a Toyota perdeu milhares de encomendas dos EUA, para onde exporta metade de sua produção, segundo Takanori Suzuki, ex-presidente do Banco de Tóquio no Brasil e atualmente consultor de empresas. A valorização do iene, a moeda local, também castiga as empresas exportadoras, diz. Ao visitar a Cidade Toyota recentemente, Suzuki conta ter se surpreendido com um fato corriqueiro. "Antes eu esperava 20 minutos para pegar um táxi; agora, não há fila." Segundo ele, há um boom de abertura de "botequins" na cidade. São trabalhadores desempregados tentando uma alternativa de sobrevivência.
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