
Ouça este conteúdo
Daniel Vorcaro, CEO do Banco Master, manifestou resistência à adoção de um acordo de delação premiada e demonstrou apreensão quanto ao possível vazamento de mensagens privadas durante depoimento prestado à Polícia Federal na tarde desta terça-feira (30). Também prestaram depoimento à PF o ex-presidente do Banco de Brasília (BRB), Paulo Henrique Costa, e o diretor de Fiscalização do Banco Central, Ailton de Aquino Santos.
Durante o depoimento, Aquino teria prestado informações valiosas sobre a situação de liquidez do Master, fortalecendo a posição do Banco Central no caso. Por outro lado, Vorcaro e Costa apresentaram contradições centrais sobre o fluxo de informações e a gestão da crise que culminou na intervenção do Banco Central (BC). Diante desse cenário, ambos foram submetidos a uma acareação, da qual Aquino foi dispensado. As informações de bastidores dos depoimentos foram apuradas pela CNN Brasil.
Vorcaro apresentou resistências em depoimento
Durante a oitiva conduzida pelos investigadores, Vorcaro manteve uma postura de defesa institucional, com foco na insolvência da instituição financeira. Segundo interlocutores próximos ao processo ouvidos pela CNN, o executivo também se preocupou com a preservação do sigilo de seus dados e com a integridade de comunicações eletrônicas que compõem o inquérito. Além disso, teria descartado um possível acordo de delação premiada com a Justiça.
A defesa de Vorcaro solicitou que suas conversas com autoridades, e que não tenham relação direta com a investigação sobre a compra de títulos fraudulentos do Master, permaneçam em sigilo. Durante seu depoimento, Vorcaro teria reconhecido que tem acesso a pessoas públicas, mas negou a existência de tratativas relacionadas a problemas financeiros do Master.
Vorcaro está sendo investigado por fraudes financeiras estimadas em R$ 12,2 bilhões, envolvendo a formação de uma carteira de crédito falsa para a operação de venda do Master para o BRB. O banqueiro foi preso preventivamente entre 17 e 29 de novembro, mas foi solto mediante o uso de tornozeleira eletrônica e a apreensão de seu passaporte.
Vorcaro e Costa se contradizem em relação ao prejuízo do BRB
Em seu depoimento, o ex-diretor do BRB teria entrado em contradição com Vorcaro. Os dois executivos teriam apresentado narrativas divergentes sobre o conhecimento prévio de fragilidades no balanço do Banco Master. Enquanto Costa tentou isolar sua responsabilidade administrativa, Vorcaro manteve o foco na cadeia de comando e nas decisões estratégicas que levaram ao escrutínio das autoridades monetárias.
Já na acareação, Costa ainda teria afirmado que o Banco de Brasília (BRB) não conseguiu recuperar cerca de R$ 2 bilhões destinados à compra de falsas carteiras de crédito consignado. Segundo o ex-diretor, o procedimento foi interrompido quando o Banco Central decretou a liquidação do banco de Daniel Vorcaro. Por sua vez, a defesa de Vorcaro negou que o BRB tenha tido prejuízo nas transações. As informações são do Estadão.
Segundo Costa, quando a operação Compliance Zero — que investiga a venda de títulos fraudulentos do Master ao BRB — foi deflagrada, o banco de Brasília já havia conseguido substituir cerca de R$ 10 bilhões das falsas carteiras de crédito consignado por outros ativos do Master.
De acordo com ex-diretor, o Master teria oferecido garantias da ordem de R$ 9 bilhões ao BRB enquanto os títulos restantes não eram substituídos. Entretanto, técnicos estimam que o prejuízo do Banco de Brasília pode ser ainda maior, já que há cerca de R$ 5 bilhões em ativos do Master adquiridos pelo BRB que não teriam liquidez.
Defesas negam contradição entre Vorcaro e Costa
Vorcaro, por sua vez, afirmou que o Banco de Brasília não teve prejuízo, já que o Master ofereceu 30% de deságio na substituição dos ativos, a fim de facilitar a recuperação dos valores investidos pelo BRB. O CEO do Master também afirmou que a operação para substituir os ativos restantes estava em andamento quando a liquidação do banco foi decretada.
Ambas as defesas negaram haver contradição entre os depoimentos dos executivos. A defesa de Vorcaro afirmou que o valor dos ativos a serem substituídos seria de R$ 1,6 bilhão e confirmou a garantia de R$ 9 bilhões oferecida ao BRB. O advogado de Paulo Henrique Costa confirmou a ausência de contradições, afirmando haver apenas "percepções distintas sobre o mesmo fato".
VEJA TAMBÉM:
Vorcaro alegou surpresa e criticou atuação do BC
Daniel Vorcaro, por sua vez, chegou a externar críticas à forma como o Banco Central conduziu o processo de liquidação. De acordo com fontes ouvidas pelo Estadão, durante o depoimento, o banqueiro teria afirmado que foi “surpreendido” pela decisão da autarquia. Ele alegou que o Master estava em processo de saneamento e que a intervenção foi desproporcional à realidade contábil da empresa no momento da ação.
O CEO sustentou que a medida do BC causou danos irreparáveis à reputação da instituição e ao mercado financeiro como um todo. Para Vorcaro, a decisão do BC teria impedido que uma solução de mercado resolvesse as dificuldades financeiras do Banco Master, já que ele foi preso em Guarulhos antes de embarcar para os Emirados Árabes Unidos, onde fecharia a venda da instituição para um grupo local.
A defesa de Vorcaro argumenta que as janelas de negociação para a regularização do passivo não foram respeitadas, tratando a ação estatal como uma interferência indevida na livre iniciativa e na gestão privada da instituição financeira.
STF voltou atrás na dinâmica da acareação
Os depoimentos foram conduzidos pela delegada da Polícia Federal Janaína Palazzo, responsável por decretar a prisão de Vorcaro em novembro e por conduzir as investigações do caso Master. Ela foi acompanhada por um integrante do Ministério Público e por Carlos Vieira Von Adamek, juiz auxiliar do gabinete do ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli.
O caso tramitava na Justiça Federal, mas “subiu” para o STF após investigadores encontrarem um documento que citava o deputado federal João Carlos Bacelar (PL-BA). Toffoli assumiu a relatoria no STF e decretou sigilo elevado no processo. A liquidação do Master também é investigada pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
Como mostrado pela Gazeta do Povo, logo no início dos procedimentos, a delegada da PF e o juiz auxiliar se desentenderam sobre a condução da sessão. A delegada quis seguir o rito inicial proposto por Dias Toffoli, passando diretamente a uma acareação entre os três depoentes. Adamek ligou para Toffoli, que confirmou a necessidade da tomada dos depoimentos para, somente então, seguir com a acareação.
Após ter designado a acareação de ofício nas vésperas do Natal, o relator do caso no STF decidiu, por meio de nota, na noite de segunda-feira (29), que a PF deveria decidir sobre o confronto das versões dos depoentes após tomar o depoimento de todos eles.
Toffoli foi convocado por seu auxiliar uma segunda vez, diante do questionamento da delegada às perguntas encaminhadas pelo ministro para a tomada dos depoimentos. Segundo Palazzo, cabe à Polícia Federal a condução das oitivas. Após ligação com o ministro, a delegada acatou as perguntas enviadas pelo representante da Suprema Corte, mas também incluiu questões da PF durante a tomada dos depoimentos.
Quais são os próximos passos no caso do Master
O processo do Banco Master agora entra em uma fase de análise pericial. A Polícia Federal e o Ministério Público Federal devem cruzar os dados técnicos fornecidos por Ailton de Aquino com as mensagens e os depoimentos de Vorcaro e Costa.
O foco das autoridades permanece na verificação de possíveis crimes contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro e o uso de influência política para mascarar a insolvência do banco.




