Ano de 2023 mostra recuperação do transporte público, com a retomada das viagens realizadas sobre 2022, mas o ajuste da oferta e da qualidade, com flexibilização de contratos e prioridade do transporte público, é uma das principais demandas

Em 2023, os dados da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) indicam uma recuperação do transporte público no Brasil, que deve atingir 33,8 milhões de viagens em todo o país frente a 30,4 milhões registradas em 2022.

O número é, porém, ainda inferior aos dados pré-pandemia de 2019: quando foram realizados 40,4 milhões de deslocamentos. A retomada passa pela mudança na forma como o transporte coletivo é visto no Brasil, especialmente nos quesitos oferta e qualidade.

“Frequências de horários fechados, rotas de linhas imutáveis... Isso não condiz com as expectativas das pessoas sobre o transporte coletivo. Temos que pensar em novos serviços adequados ao mundo moderno”, afirma o diretor de Cidades do WRI Brasil, Luis Antônio Lindau.

O especialista cita que os municípios devem investir em corredores exclusivos de transporte, mas devem incluir outras questões no planejamento: locais de parada, interconexões entre modais, cuidados com bilhetagem, além do preço.

“É claro que podem e devem haver corredores de transporte bem definidos, mas não no atendimento na ponta, que é muito importante”, ressalta Lindau.

Recuperação do transporte público é possível

Ao contrário do que se costuma pensar, é possível fazer o transporte coletivo ser mais atrativo do que o individual. E uma das formas está em dar qualidade ao percurso percorrido pelos ônibus, fazendo com que o transporte coletivo seja favorecido em detrimento ao deslocamento individual. Ou seja, o motorista do carro precisa enxergar a vantagem de estar dentro de um ônibus.

De acordo com Lindau, a presença de faixas e corredores exclusivos para ônibus levou à atração do modal na ordem de 13% em cidades do perfil de Curitiba e região metropolitana. Diante desta possibilidade de crescimento, há a necessidade de dar mais flexibilização às concorrências de execução do transporte coletivo.

Há necessidade de uma reforma nos contratos. É preciso dotá-los de mais flexibilidade, já que são muito rígidos. Um bom contrato precisa poder se adaptar às demandas, como as ocorridas na pandemia”, explica Lindau. “Precisa-se de um serviço mais flexível em termos de oferta, tamanhos de veículos, rotas e frequência”, ressalta.

Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, ao longo dos últimos 12 anos, a Região Metropolitana de Curitiba ganhou cerca de 520 mil novos habitantes, o que transforma a necessidade de consumo do transporte coletivo e seus trajetos.

“É natural que os contratos sejam revistos para suportar a nova demanda”, diz o diretor de Cidades do WRI Brasil.

Tecnologia e custo

Outro aspecto inerente ao transporte coletivo é a adição de novas tecnologias ao planejamento e ao monitoramento.

Uma das possibilidades nesse quesito é capturar como se dão os deslocamentos dos passageiros. Não se trata de realizar pesquisas de embarque-desembarque ou origem-destino, mas de usar o georreferenciamento para ter a capacidade de perceber as movimentações que estão ocorrendo.

Uma outra questão importante citada por Lindau é encontrar recursos para que o transporte público seja bancado por outras fontes de recursos além dos passageiros, trazendo equilíbrio econômico ao setor.

“Na Europa, destinam-se muitas verbas de estacionamentos ao transporte, assim como outras questões de priorização de uso de recursos públicos, como o subsídio”, diz.

O que os passageiros esperam do transporte coletivo?

Em um caderno técnico, a Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) lista as principais expectativas dos passageiros em relação ao transporte coletivo:

- Acesso ao transporte, com facilidade para chegar aos pontos de parada e circular entre estações e terminais por meio de integrações;

- Disponibilidade, que representa a oferta adequada de veículos em relação à frequência e rotas;

- Rapidez, priorizando o transporte coletivo em detrimento do individual;

- Confiabilidade, garantindo o cumprimento do planejamento informado aos usuários;

- Conforto, que engloba os pontos de parada, terminais e estações e os veículos;

- Segurança, tanto a relacionada ao deslocamento em si quanto à sensação do passageiro;

- Facilidade para pagamento, adequando o transporte coletivo à nova realidade do país;

- Custo, com a redução do valor pago e oferta de subsídios para os sistemas públicos.

A maioria das questões está incluída no Marco Legal do Transporte Público, iniciativa federal voltada a reestruturar a prestação de serviços do segmento em relação à organização, à operação, à contratação e ao financiamento deste modal.

O propósito da medida, prevista para ter uma versão final ainda em 2023, é atacar os pilares de qualidade, produtividade, financiamento e regulação, facilitando a recuperçaãodo transporte coletivo.