Impulsionar o design nacional e oportunizar real conexão entre artistas e público. Estes foram os objetivos que fizeram nascer a exposição "Ôda: A vida que queremos construir", iniciativa inédita realizada neste sábado (9) e encabeçada pela empresária Ticiana Martinez e a artista e designer Ana Penso. O evento ocupou a caixa de vidro do Museu Oscar Niemeyer com 20 criadores e estúdios autorais tanto de Curitiba quanto de outras localidades do país.

Sócia-fundadora da Ôda Design (que surgiu em 2016 como uma loja especializada e cresceu para se tornar uma marca com atuação diversificada, da venda de peças à consultoria), Ticiana revelou a HAUS que a ideia da mostra surgiu lá em 2018, mas ficou em compasso de espera nos últimos anos por causa da pandemia de Covid-19 e seus impactos. "A Ôda é um agente que potencializa e fomenta o design nacional e a parte de eventos é fundamental para contribuir com esse processo", avalia a idealizadora.

Chancelada pelo Ministério da Cultura, a exposição teve curadoria que optou pela valorização de características como a ancestralidade, as soluções provenientes da natureza e a intersecção entre o design e as manualidades. Todos os expositores que participaram do evento foram convidados pelas organizadoras e tiveram a oportunidade de passar o dia em contato direto com os visitantes.

"Essa era a ideia, um evento sobre sobre design, conexão e cultura. A conexão que vem desse lugar de o artista estar aqui, poder tirar dúvidas, contar um pouco sobre a história, o processo produtivo, a matéria-prima. É um lugar que por muitas vezes o próprio artista ou designer sonha ter: essa oportunidade de conexão com o público", diz Ticiana. E completa: "por isso também insistimos em fazer um evento aberto ao público, 100% gratuito, para trazer inclusive pessoas que não têm tanto contato com o nosso segmento de design, arte, arquitetura, mas que se interessam, que são curiosas".

Para alcançar o objetivo de ampliar horizontes sobre o design, atuando como formador de público e plateia para o segmento, a interação é vista como uma aliada para enriquecer a experiência de quem consome design - seja comprando peças autorais, discutindo sobre ele ou "apenas" admirando o trabalho realizado pelos designers. Assim, a organização promoveu em paralelo uma agenda de palestras com nomes como o curador Waldick Jatobá (diretor-geral do Estúdio Campana e do Instituto Campana, criador e atual diretor criativo da MADE – Mercado Arte Design), o professor e escritor Francisco Escorsim, a diretora criativa e consultora de cores da Suvinil Bruna Galliano e a filósofa Lúcia Helena Galvão.

"A vida que a gente quer construir com esse projeto é uma vida de conexão, de aquisição de repertório. Eu entendo que a Ôda é responsável por realizar projetos como esse, então eu empenho realmente um esforço meu e da minha equipe para fomentar e ampliar a voz de todos esses trabalhos", destacou a idealizadora no dia da 1ª edição ao garantir que próximas virão, com periodicidade ainda a ser definida. Novas edições devem manter a característica original, de oportunizar o máximo possível de expositores locais (também numa vitrine prioritária - ainda que não exclusiva - para marcas que recebem menos visibilidade por estarem fora do circuito tradicional, no eixo Rio/São Paulo/Minas.

Quem passou pela mostra conferiu a obra de ceramistas, designers de mobiliário, artistas têxteis, criações em mármore, madeira... Abaixo você confere alguns dos destaques apresentados na mostra "Ôda: A vida que queremos construir":

Em seu processo criativo, a designer capixaba Karoline Bortoluzzi tem como referência suas vivências, que são traduzidas no produto através de poesia com um toque de brasilidade. De uma fusão da tradição cultural com o design contemporâneo surge a poltrona Góia, peça de mobiliário que celebra a herança ancestral das Paneleiras de Goiabeiras, uma comunidade que há gerações mantém viva a tradição artesanal da panela de barro preta. Inspirada nas técnicas tradicionais, na manualidade do artesanato local e na vivência da designer nessa comunidade, o móvel faz referência direta ao regionalismo brasileiro.

A designer Ana Penso apresentou um lançamento realizado em parceria com a Michelangelo Mármores do Brasil no qual Ana explora as possibilidades de formas e texturas da pedra, trazendo história e arte para o mundo contemporâneo. Sua inspiração para as obras foi o Oriente Médio (um dos berços de nossa civilização está no Oriente Médio, com mais de 4 mil anos de história), mas mais especificamente Israel, um país repleto de guerras, conquistas, destruições e reconstruções, além de passagem de inúmeras civilizações. Ana mescla essa carga imagética e de repertório à matéria-prima escolhida, material para construção de templos e artefatos, que surge numa ode ao passado e à passagem do tempo.

Biólogo por formação, o designer especialista em design biomimético Patrick Afornali apresentou o banco Gruta. Criado a partir de 47 elementos em madeira maciça esculpidos a mão e reunidos numa formação que remete às estalactites, aqueles depósitos minerais pontiagudos que surgem no teto de cavernas, originados em função do gotejamento. Sem abrir mão da função, a peça proporciona uma experiência visual e tátil com sua volumetria inusitada.

A coleção "Sustentáculos", da Spiral Cerâmicas, é o mais recente trabalho da artista Cristina Odebrecht e representa um mergulho na dominação técnica da esmaltação e da delicadeza dos vidrados que são aplicados sobre a cerâmica. O conjunto de vasos e esculturas revela uma riqueza texturas, cores e acabamentos singulares, fruto da experimentação e da investigação artística, aliados a formas orgânicas e paletas de cores que evocam a natureza.