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Novo levantamento

Brasil só supera a Venezuela em índice de imparcialidade do Judiciário

Funcionário lava estátua da Justiça em frente ao STF em janeiro de 2023
Funcionário lava estátua da Justiça em frente ao STF em janeiro de 2023 (Foto: José Cruz/Agência Brasil)

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A Justiça brasileira é parcial, lenta e não segue o devido processo legal. A conclusão talvez não seja novidade para boa parte dos brasileiros, mas ficou mais evidente com a divulgação de um relatório internacional que compilou dados de 142 países.

O levantamento Rule of Law Index (Índice do Estado de Direito) é uma publicação do World Justice Project (WJP), uma organização independente que reúne especialistas do mundo todo. O estudo define o estado de direito como “um sistema duradouro de leis, instituições, normas e compromissos comunitários que produzem quatro princípios universais: responsabilização, uma lei justa, um governo aberto, e uma justiça acessível e imparcial.” São itens em falta no Brasil.

No ranking de 2024, divulgado recentemente, o Brasil está apenas em 80° lugar. O país obteve nota 0,50 numa escala de 0 a 1. A média global é de 0,55. Na América Latina e Caribe, o Brasil está em 17° lugar entre 32 países.

Em relação ao levantamento anterior, de 2023, a nota brasileira subiu 0,01 ponto. Dez anos atrás, em 2015, a pontuação do país era de 0,55.

Se estivesse na África sub-saariana, o Brasil ficaria em nono lugar na região — atrás de Ruanda, Namíbia, Maurício, Botsuana, África do Sul, Senegal, Gana e Malawi.

Tunísia, Panamá, Nepal e Sri Lanka também aparecem à frente do Brasil na classificação geral do índice.

O desempenho brasileiro é ainda pior em categorias que tratam da efetividade do Judiciário.

Segundo pior nota em critério de imparcialidade

A nota do Índice do Estado de Direito é dividida em oito categorias. O pior desempenho do Brasil foi no critério Justiça Criminal. Nessa variável, o país está na posição de número 113, entre os 142 países analisados. Em uma escala de 0 a 1, o Brasil recebeu 0,33 pontos. A média global foi de 0,47.

Dentro da categoria Justiça Criminal, o World Justice Project quantificou sete indicadores. Em um, especificamente, o Brasil teve o segundo pior desempenho do planeta: a imparcialidade do Judiciário em processos criminais: de 0 a 1, o país obteve 0,10 ponto. Apenas a Venezuela teve uma nota mais baixa.

O desempenho brasileiro também é pífio em outros três itens: a eficiência do sistema prisional em reduzir o comportamento criminal (128° lugar), a eficácia do sistema de investigação criminal (112°), a celeridade da tramitação dos processos criminais (135°) e, por fim, o cumprimento do devido processo legal (114°).

O relatório do WJP não apresenta as razões específicas para o péssimo resultado do Brasil. Mas, segundo os autores do estudo, a importância do estado de direito ultrapassa o Judiciário. O desempenho no índice tem uma correlação positiva com bons resultados econômicos, nível educacional e expectativa de vida.

Brasil é mais corrupto que África do Sul e Gâmbia

Outra área em que o Brasil ocupa uma posição incômoda no levantamento do WJP é o da corrupção.

Entre 2015 e 2021, a nota do país só caiu nesse critério. Depois, ela se manteve estável por dois anos até uma ligeira melhoria em 2024. Ainda assim, o Brasil está na 77ª colocação, com 0,45 no critério Ausência de Corrupção.

A lista de países à frente do Brasil nessa variável inclui Argélia, África do Sul, Gâmbia, Tunísia, Sri Lanka, Jamaica e Uzbequistão.

A conclusão do Índice de Estado de Direito é semelhante à do Índice de Percepção da Corrupção, produzido pela ong Transparência Internacional. Nele, o Brasil está na posição 104 entre 180 países, com uma nota 36 de 0 a 100 (quanto pior o desempenho, menor a nota).

Categoria Ordem e Segurança puxa nota para baixo

No Índice de Estado de Direito, o Brasil também vai mal no critério Ordem e Segurança, que leva em conta sobretudo os índices de criminalidade. Nessa categoria, o país está em 122° lugar, atrás de Bangladesh, Angola, Mauritânia, Honduras, Serra Leoa e Honduras.

Além disso, o desempenho do Brasil é péssimo no critério de punição a autoridades envolvidas em má conduta (129° lugar).

O Brasil está acima da média global em alguns quesitos, como a transparência dos dados do governo, a liberdade religiosa, e o acesso à justiça civil.

Mas nada que se sobressaia aos maus resultados do país na maioria dos 47 indicadores que compõem a nota geral.

Como a nota é calculada

O Índice do Estado de Direito é divulgado todos os anos e costuma ser usado por especialistas e agentes públicos de todos os continentes.

O levantamento do World Justice Project, publicado desde 2008, leva em conta dois fatores principais: pesquisas feitas com a população local e a opinião de especialistas de cada país. Em ambos os casos, os participantes respondem questionários detalhados sobre o respeito ao estado de direito em seu país.

O World Justice Project surgiu em 2006, como uma iniciativa da American Bar Association — o equivalente americano da Ordem dos Advogados do Brasil. Hoje, a organização mantém representantes espalhados pelo mundo.

A missão do WJP é “trabalhar para criar conhecimento, gerar conscientização, e estimular ações com o objetivo de promover o estado de direito em todo o mundo”.

A diretora da entidade no Brasil é a ex-ministra do Supremo Tribunal Federal Ellen Gracie.

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