Londres - A União Europeia e os gregos estão numa espécie de queda de braço sobre o futuro econômico do país. Em discussão está a liberação ou não de empréstimo para o país pagar suas dívidas.
Após dois dias de reunião, os ministros de Finanças da UE deram um ultimato à Grécia: ou o Parlamento aprova um novo pacote de austeridade ou não receberá a parcela de 12 bilhões de euros (R$ 27 bilhões) do empréstimo de 110 bilhões de euros (R$ 249 bilhões) fechado em maio de 2010.
No pacote estão mais cortes de benefícios, demissões de servidores e privatizações. No total, devem ser cortados mais de 28 bilhões de euros (R$ 63,9 bilhões). O problema é que o governo enfrenta resistência da oposição e também de seu próprio partido (o Socialista) para adotar essas medidas.
Hoje, o primeiro-ministro George Papandreou tentará obter um voto de confiança do Parlamento. Se falhar, deve renunciar, o que provocará a convocação de eleições antecipadas. O partido de Papandreou (o Pasok) tem 155 das 300 cadeiras do Parlamento, mas não está garantido que todos os governistas darão o voto de confiança.
É realmente uma queda de braço. Políticos e os sindicatos gregos (que iniciaram ontem mais uma série de greves) querem que os empréstimos venham sem novas medidas de austeridade. Apostam que a UE irá ceder porque um calote colocaria em risco todo o sistema bancário europeu. Bancos franceses, alemães e britânicos são os maiores detentores de títulos gregos.
Já os ministros das Finanças da UE querem o compromisso da Grécia de que irá ajustar suas contas. Eles temem a reação dos eleitores de seus países, que acreditam que já foi dado muito dinheiro à Grécia, um país onde, segundo eles, as pessoas não trabalham e adoram viver de benefícios.
Uma nova reunião da UE para discutir o caso foi marcada para 3 de julho. Antes disso, nada de dinheiro. A expectativa é que, se a parcela não for liberada, o governo grego não terá como pagar suas contas já em meados do próximo mês.
Problema global
Foi nesse cenário que o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou seu relatório sobre a economia europeia. Para o Fundo, a questão da dívida dos países periféricos da Europa é séria e deve ser resolvida com urgência. Caso contrário, irá reverter a recuperação do continente e colocar seu sistema bancário sob sério risco. Para o FMI, uma nova crise bancária na Europa teria consequências imprevisíveis.
"A ampla e sólida recuperação prossegue, mas a crise soberana na periferia pode se sobrepor a esse cenário favorável e muito ainda tem de ser feito para garantir uma união monetária dinâmica e resistente", disse o diretor-gerente interino do FMI, John Lipsky.
Segundo Lipsky, o FMI não está atualmente negociando um segundo programa de resgate com a Grécia. Ao contrário, disse Lipsky, o fundo quer ter certeza de que o primeiro programa de austeridade da Grécia está em correto andamento e pode ser totalmente financiado.
O diretor-gerente do FMI observou ainda que a "posição inicial" da Grécia era "excessivamente difícil", mesmo antes de o país obter o primeiro pacote de resgate. "Nessas circunstâncias, é compreensível que haja uma correção no meio da trajetória", acrescentou.
De outro lado, o FMI também pediu aos credores oficiais para não abandonarem a periferia, alertando que o "apoio financeiro contínuo de outros países membros da zona do euro é também essencial".