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Estamos em uma era em que a vitimização é supervalorizada, e muitas pessoas estão predispostas a se ofender por tudo. Isso tem dado espaço no judiciário para indivíduos oportunistas e até para pessoas com distúrbios psicológicos, que interpretam a realidade de forma distorcida – por traumas ou pelo uso de medicação psiquiátrica, por exemplo – e recorrem ao sistema judicial em busca de indenizações por situações efêmeras.
Já houve casos como o de uma moça que buscou indenização na Justiça do Trabalho por não ter sido autorizada a cuidar de seu bebê “reborn”. Outros casos de vitimização envolveram pessoas que pediram reparação por terem escorregado ao receber ajuda para subir em um cavalo, alegando “toque indevido”. Também presenciei homens adultos, infantilizados, pleiteando indenização porque seu chefe comentou que seu cabelo era feio.
Alguns sofrem porque o 'fazer-se de vítima' tornou-se um negócio vantajoso em uma sociedade que valoriza a infantilização patológica de adultos
O oportunismo e a vitimização têm tomado conta das ações judiciais, desviando atenção de questões relevantes, enquanto, no país, facções criminosas chegam a participar de licitações, tomando o Estado.
Defendi, como advogado, um renomado médico cardiologista, que, ao realizar anamnese em uma paciente com dor no peito e perguntar sobre uso de drogas, foi alvo de um processo pedindo R$ 27.000,00 por danos morais, julgado improcedente em primeira instância. Lembro-me de uma sábia professora de Processo Civil que, mais de vinte anos atrás, alertava que não deveríamos seguir o modelo dos EUA, onde uma pessoa que te “olha torto” recebe indenização milionária. Infelizmente, sua previsão se confirmou.
As pessoas estão predispostas a se vitimarem por tudo, criando um fenômeno psicológico coletivo patológico. Nas redes sociais, há adultos que continuam usando chupeta, em um comportamento ainda mais preocupante. O país precisa de homens e mulheres fortes que façam sua parte pelo bem comum. O Judiciário deve direcionar sua atuação para questões realmente relevantes, como combate a facções criminosas, tráfico de drogas e violência contra a mulher, e não incentivar o oportunismo infantil concedendo indenizações a “vítimas profissionais”. Tornar-se vítima de tudo tornou-se um negócio lucrativo em um cenário patológico coletivo.
Talvez esse fenômeno seja alimentado pela admiração excessiva por modelos do norte do Ocidente – EUA e norte da Europa – que, como todas as culturas, possuem qualidades e defeitos. Antes de replicar situações jurídicas desses contextos, é necessário analisar antropológica e socialmente essas sociedades, compreendendo seu crescimento, valores e limitações, para não criar ações patológicas que denigrem advogados e o próprio judiciário. É dever do jurista aplicar a norma com serenidade, sem preconcepções.
“Há pessoas que, sem perceber, tornam-se fiéis ao próprio sofrimento. Não porque desejem sofrer, mas porque o sofrimento oferece algo que não encontraram em nenhum outro lugar: a atenção”, dizia Carl Gustav Jung, psicoterapeuta suíço e fundador da psicologia analítica. Segundo ele, “por trás da vitimização, há manipulação daquele que se vitima”. Ou seja, alguns sofrem porque o “fazer-se de vítima” tornou-se um negócio vantajoso em uma sociedade que valoriza a infantilização patológica de adultos.
Estevão Gutierrez Brandão Pontes, advogado, possui pós-graduações em Direito e em Parapsicologia, e é autor de livros e artigos.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos



