A população que for vacinada com os 369 mil imunizantes recebidos nos últimos dias pela Secretaria Estadual de Saúde não terá a segunda dose reservada. Será preciso esperar um novo lote de vacinas para, então, obter a proteção completa.
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Isso não significa uma falha no esquema vacinal. Há, segundo os especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, benefícios para a contenção da pandemia no estado a partir dessa abordagem, orientada pelo Ministério da Saúde.
Os riscos dependerão da estratégia de cada vacina e se a segunda dose não for, de fato, aplicada. "Em um momento de pandemia, não existe uma estratégia nem totalmente certa ou errada. É preciso adotar aquela que consiga abranger a coletividade", explica Heloisa Ihle Garcia Giamberardino, presidente da Regional Paraná da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm-PR).
Uma dose: estímulo do sistema imunológico
Usar todas as doses disponíveis, sem reservas da segunda aplicação, alcançará um número maior de pessoas que, embora não estejam com a proteção completa, receberão um estímulo na produção dos anticorpos. Dependendo da estratégia de cada vacina, esse primeiro estímulo poderá ser suficiente para impedir que a Covid-19 grave se estabeleça pelos próximos seis meses.
No início de fevereiro, a farmacêutica AstraZeneca divulgou dados preliminares de um estudo clínico de fase 3, no qual a vacina desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford/Fiocruz demonstrou uma eficácia de 76% após a primeira dose. Embora o intervalo previsto nos estudos fosse de 28 dias, mesmo após 12 semanas (84 dias), o imunizante apresentou eficácia de 82%.
No caso da vacina do laboratório Sinovac/Instituto Butantan, a Coronavac, não há dados completos que demonstrem eficácia apenas com uma dose, mas é possível esticar o intervalo entre as aplicações até 28 dias. Um estudo divulgado no início de janeiro do Butantan demonstra que as pessoas imunizadas com um intervalo de 21 a 28 dias tiveram uma resposta 20% melhor do que os demais participantes.
Isso se justifica pela estratégia deste imunizante. De acordo com Breno Castello-Branco Beirão, professor de Vacinologia do departamento de Patologia Básica da UFPR, as vacinas de vírus inativado — como é o caso — precisam das duas doses para uma proteção completa.
"A recomendação não é ficar em uma dose apenas, a não ser que se conseguisse fazer a vacinação apenas com a vacina de Oxford/AstraZeneca, o que não vai ser o caso. No momento, a indicação é que as pessoas recebam as duas doses", explica.
Heloisa Giamberardino, da SBIm-PR, reforça que o esquema ideal é o preconizado pela Anvisa, com a aplicação das duas doses. "Não sabemos dar a resposta sobre o que pode acontecer fora disso. É uma estratégia que não se pode dizer que está certa ou errada nesse momento, porque pode ser importante contra a pandemia."
Risco é vacina criar falsa sensação de liberdade
O risco maior, segundo o professor Beirão, é com relação à sensação de liberdade que a vacinação — ainda que apenas uma dose — traz, com o aumento na circulação das pessoas e flexibilização dos cuidados.
"As pessoas têm que entender que a função das vacinas é diminuir o risco da doença grave. Essas vacinas, muito provavelmente, não vão prevenir a doença leve. As pessoas imunizadas ainda vão estar suscetíveis aos sintomas, ainda que leves. E isso é ainda mais importante para quem tomou apenas uma dose. A primeira dose é só uma preparação para a segunda", reforça.
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