Tiroteios e exibição do poderio bélico dos traficantes marcaram o primeiro dia do cerco das forças de segurança ao conjunto de favelas do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro. Oitocentos homens da Brigada Paraquedista do Exército e 300 agentes da Polícia Federal reforçaram a operação das Polícias Civil e Militar e da Marinha. Dois PMs, um militar do Exército e pelo menos seis civis foram baleados nos confrontos de ontem. A polícia calcula que pelo menos 500 bandidos estejam entrincheirados no Alemão cerca de 200 traficantes havia fugido da Vila Cruzeiro, na véspera. Um deles seria Fabiano Atanásio da Silva, o "FB", um dos chefes do Comando Vermelho (CV) na região.
Na Favela da Grota, os agentes ficaram a menos de cem metros de uma casamata que serviu de abrigo aos traficantes. Os criminosos provocaram os policiais aos gritos: "Vou meter bala!", berrou um deles. Os bandidos expunham e apontavam fuzis em direção a um grupo de fotógrafos que registrava as cenas na Avenida Itararé, via que cruza várias comunidades do Alemão, em desafio à investida militar. Quando viam que eram filmados, alguns bandidos debochavam da situação, colocando as armas para o alto e até simulando uma dança.
Moradores do Alemão relatam que centenas de traficantes, muitos com rosto pintado e roupas pretas ou camufladas, se escondem na favela da Grota, uma das 12 comunidades da região. Afirmam que, num vaivém de motos, traficantes gritam que pretendem explodir o teleférico que está sendo construído no complexo, dentro do programa de obras do PAC, e ameaçam atacar posto de saúde, repartições públicas e trens que circulam em linhas férreas próximas.
Por meio de redes sociais, moradores têm afirmado que haveria mais de dez corpos na Serra da Misericórdia, maciço no qual crescem as favelas dos Complexos do Alemão e da Penha. Na favela, os bandidos se comunicam via rádio e telefone. As conversas são monitoradas por policiais dentro da base das operações montadas no batalhão próximo ao local.
Pela manhã, o Exército controlou as entradas do Alemão com soldados e blindados. Durante todo o dia, helicópteros da polícia sobrevoavam as 18 favelas do complexo. A forte presença policial e militar na região visa intimidar os traficantes. Trata-se de uma ação psicológica. "Queremos mostrar nossa força e deixá-los com medo. Quanto mais tempo eles ficarem encurralados lá dentro, temendo nossa entrada, é melhor. Isso os desestabiliza. Queremos fritar os seus neurônios", disse um oficial da PM.
O subsecretário de Inteligência da Secretaria de Segurança do Rio, Roberto Sá, afirmou que os acessos ao Morro do Alemão estão interditados para evitar a fuga de criminosos. Segundo ele, a polícia carioca planeja invadir o complexo.
Baleados
Entre os civis baleados no Alemão estão uma criança, duas senhoras de idade e um jornalista. A criança se chama Giovana Isabela da Penha Vasconcelos, de 3 anos. Ela estava dentro de casa quando levou um tiro de raspão no braço esquerdo, mas já teve alta.O fotógrafo Paulo Whitaker, da agência de notícias Reuters, levou um tiro no braço esquerdo na altura do ombro no Morro da Grota e foi transferido para o Hospital Pasteur, no Méier.
Segundo o hospital, o ferimento não é grave, mas ele passaria a noite internado por estar com pressão alta. Além deles, Luiza de Moraes, 61 anos, e Eliane de Almeida Machado, 62 anos, foram alvejadas por balas perdidas e continuavam internadas.