A afirmação da presidente Dilma Rousseff, de que está sofrendo pressão por um “golpe à paraguaia”, desagradou o governo do país vizinho e abriu uma crise diplomática.
A chancelaria do Paraguai emitiu nota repudiando a referência de Dilma ao impeachment do ex-presidente paraguaio Fernando Lugo, em 2012, e convocou o embaixador brasileiro em Assunção, José Felício, a dar explicações. O governo paraguaio disse que a afirmação de Dilma provocou “surpresa e desagrado” no país.
O presidente Horácio Cartes é do Partido Colorado, agremiação política que voltou ao poder na eleição de 2013, após intervalo em que Lugo esteve na presidência (2008-2012).
O ex-presidente paraguaio foi afastado do cargo em junho de 2012, sob alegação de mal de desempenho de suas funções.
A votação do impeachment de Lugo no Congresso levou 24h e teve como estopim a suposta responsabilidade do governo nacional no conflito agrário de Curuguaty, no nordeste do Paraguai, onde 17 pessoas morreram, entre agricultores e policiais. Atualmente, Lugo é senador pelo Partido Frente Guasú.
Em nota, a chancelaria do Paraguai afirma que o processo de impeachment do ex-presidente tramitou de acordo com a Constituição do país. “O governo do Paraguai respeita o princípio de não intervenção em assuntos internos de outros Estados e ratifica que, na República do Paraguai, o Estado de direito e as instituições estão plenamente vigentes, sólidos e são respeitados, ininterruptamente desde 1989”, diz a nota.
O afastamento de Lugo levou o governo Dilma a atuar em segredo contra o país.
Em livro recente publicado no Uruguai, “Uma ovelha negra ao poder”, o ex-presidente José “Pepe” Mujica revelou que Dilma combinou com o Uruguai, em reunião secreta em Brasília, suspender o Paraguai do Mercosul após o impeachment de Lugo. “O Brasil precisa que o Paraguai fique fora do Mercosul para, dessa maneira, apressar as eleições no país”, teria dito Dilma ao mensageiro de Mujica, segundo relatou o ex-presidente do Uruguai.
Na semana seguinte, no fim de junho, os presidentes dos países do Mercosul se reuniram na Argentina e decidiram pela suspensão do Paraguai. As eleições presidenciais no país vieram em abril de 2013 e o Paraguai voltaria ao Mercosul em dezembro daquele ano.
Na nota divulgada nesta sexta (9), o governo do Paraguai também faz referência a este caso. Afirma que sempre demonstrou “vontade de integração e um diálogo pragmático” com os países da região. “No entanto, esta posição não implica aceitar a atuação que teve lugar no Mercosul, a partir de 29 de junho de 2012, quando se produziu a ilegal suspensão do Paraguai, sócio-fundador do bloco”, afirmou em nota.
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