Olho vivo
Planilha 1
Cada vez que você passa pela catraca de um ônibus de Curitiba, deixa R$ 0,014 para o Sindicato dos Motoristas e Cobradores (Sindimoc). É pouco? Pois fique sabendo que, todo fim de mês, o sindicato é agraciado em média com cerca de R$ 250 mil verba destinada ao Fundo Assistencial dos profissionais para prestar serviços jurídicos e de saúde para os oito mil motoristas e cobradores do sistema.
Planilha 2
Documentos do próprio Sindimoc mostram que no primeiro semestre ele arrecadou R$ 1.477.972,00. Como este dinheiro foi gasto? Está lá na planilha: R$ 189.470,17 em festas juninas; R$ 305.361,92 em salários para gestores e funcionários; e nada menos de R$1.089.844,15 em "despesas diversas", incluindo jurídicas. Não há registro de gastos com saúde, muito embora cerca de 15% dos trabalhadores estejam afastados por problemas de... saúde.
Marque esta data: 8 de novembro de 2013. É já amanhã. Em algum momento deste dia, o poderoso secretário nacional do Tesouro, Arno Augustin, dirá se o governo do Paraná cumpriu todas as formalidades legais e se já está apto a contrair os empréstimos de R$ 3,5 bilhões encalacrados a maioria desde 2011 na Secretaria do Tesouro Nacional.
A data encerra o prazo de dez dias que Augustin informou à secretária da Fazenda, Jozélia Nogueira, de análise da documentação que ela levou a Brasília supostamente contendo dados e informações que comprovariam a regularidade do estado quanto ao cumprimento dos dispositivos legais que o impediram, até agora, de obter o aval da União para os financiamentos que negociou em instituições nacionais e internacionais.
A análise, conforme fonte do Planalto, obedecerá a critérios rigorosamente técnicos. Isto é, se técnica e juridicamente o Paraná convencer a STN de que superou todas as inadimplências, não serão levantados quaisquer empecilhos políticos para a liberação.
Até ontem, porém, o Paraná apresentava três pendências: uma referente a irregularidades no recolhimento de contribuições previdências; outra sobre o descumprimento da aplicação constitucional em saúde pública (ao invés dos 12% obrigatórios, o estado investiu apenas 9,94% de sua receita líquida em 2012); e a terceira diz respeito ao excesso de gastos com a folha do funcionalismo.
Segundo informações não confirmadas, o Paraná teria impetrado mandados de segurança para resolver liminarmente as duas primeiras pendências, mas a terceira seria mais complicada: aos invés de gastar com pessoal até o limite de 46% permitido pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), o último índice aferido chegou a 48,51% apenas 0,39 ponto porcentual abaixo da situação em que ações penais podem ser movidas contra os gestores públicos que cometeram o abuso. A solução para este caso e este teria sido o encaminhamento dado pela secretária Jozélia Nogueira em Brasília é tirar do cálculo de gastos com pessoal a parcela referente aos inativos e pensionistas. Providência que, no entanto, redundaria em uma outra interdição: o estado ficaria ainda mais inadimplente em relação às suas obrigações previdenciárias.
A esperança que viceja no Palácio Iguaçu é a de que a argumentação que lhe foi entregue pela secretária da Fazenda amolecerá o duro coração do secretário nacional do Tesouro. Coisa que só poderá ser conferida amanhã, se o prazo prometido for realmente cumprido.
Enquanto isso, a Assembleia Legislativa, por iniciativa do seu presidente, deputado Valdir Rossoni, e assinado até pela bancada do PT, enviou ofício aos três ministros paranaenses (Gleisi Hoffmann, Paulo Bernardo e Gilberto Carvalho) para implorar seus esforços em favor da liberação.
A pressão, além da conotação nitidamente política e contaminada pelo embate entre PT e PSDB os principais protagonistas da eleição do ano que vem tem também seu meritório valor: o de tentar contribuir para tirar o estado da penúria financeira em que se encontra. Mas talvez seja tarde demais. Os empréstimos teriam de entrar no caixa preferencialmente ainda neste ano, de modo a aliviar o sufoco financeiro representado principalmente pelas três folhas de pessoal que vencem a partir do próximo dia 30. Se os financiamentos saírem se saírem apenas no ano que vem, último ano da gestão, a Lei de Responsabilidade Fiscal impõe outras limitações à utilização dos recursos.
Por exemplo: nos seis meses que antecedem a eleição de outubro, não se pode nem mesmo abrir licitações para obras novas. Ou seja, a utilidade prática dos empréstimos, em termos de contratação de investimentos, se esgotaria já logo em abril.
Eleição de Trump ajuda na alta do dólar, mas maior vilão foram gastos excessivos de Lula
Empresas que controlam prisões privadas esperam lucrar com deportações prometidas por Trump
Peter Thiel, o bilionário que emplacou o vice de Trump e deve influenciar o governo
Lula fecha os olhos ao drama das crianças ucranianas
Deixe sua opinião