Olho vivo
Parede 1
O secretário do Meio Ambiente, Jonel Iurk, colocado sob suspeita depois que se soube que empreendimentos de sua família obtiveram licenças ambientais concedidas por órgãos sob sua alçada, queria corajosamente enfrentar o plenário da Assembleia Legislativa para dar explicações na sessão da última segunda-feira. Sem medo e convicto de que poderia comprovar sua inocência. Entretanto, foi desaconselhado pelo Palácio Iguaçu, que se encarregou de produzir um bolodório lido na tribuna por um deputado governista.
Parede 2
Iurk, insatisfeito, preparou outra nota, resumida em três pontos, na qual manifestava respeito à imprensa e à Assembleia e, por fim, requeria ao Ministério Público que opinasse sobre a existência de eventual conflito entre o cargo que ocupa e os empreendimentos da família na área energética. Foi também desaconselhado a fazê-lo. Restou-lhe a última alternativa, comunicada verbalmente ao governador Beto Richa: queria sua exoneração da secretaria. E mais uma vez, a contragosto, foi convencido a abandonar a ideia.
Parede 3
Estas informações são de fonte mais do que fidedigna, mas que naturalmente prefere manter-se anônima. A fonte conhece também a razão alegada pelo governador para cercear as iniciativas que o secretário Jonel Iurk, acertadamente, pretendia tomar. "Este governo não admite ser emparedado pela imprensa", teria ele ouvido no gabinete do 3º andar. A estratégia é deixar o tempo passar e o assunto esfriar até que, possivemente em novembro, em meio a uma suposta reforma do secretariado decorrente das derrotas do governo na eleição municipal, Iurk teria seu nome incluído entre os demissionários.
Política à parte
Enquanto as eleições caminham para a reta final, a ministra Gleisi Hoffmann recebeu ontem na Casa Civil o secretário estadual de Infraestrutura, Pepe Richa, o superintendente do Porto de Paranaguá, Luiz Dividino, e o representante do governo do Paraná em Brasília, Amaury Escudero. Em pauta, a participação do estado nos investimentos que a presidente Dilma Rousseff pretende anunciar para reduzir os custos operacionais dos principais portos brasileiros o que inclui o de Paranaguá.
Não está fácil entender a nova estratégia adotada pelo candidato Ratinho Jr. nesta campanha do segundo turno. No primeiro, visando a consolidar a preferência natural que os bairros periféricos da região sul da cidade devotavam a seu nome, fazia uso constante de sua proximidade com o PT. Dizia-se não só da base do governo federal como também afirmava aconselhar a presidente Dilma sobre o que fazer diante dos grandes problemas nacionais.
No segundo, porém, para enfrentar Gustavo Fruet, candidato que oficialmente tem o apoio do PT, Ratinho mudou seu discurso. Aliás, de forma mais competente do que tentou fazer o derrotado candidato Luciano Ducci para combater a incoerência de Gustavo. No rádio e na tevê, Ratinho passou a condenar o mutável comportamento do adversário: uma hora está de um lado, na outra hora está de outro lado, diz o humorista que fala em nome de Ratinho. "Dá pra confiar em gente assim?", pergunta com ar patético o mesmo humorista. Em outro comercial, a campanha de Ratinho completa: as administrações de prefeitos do PT são as mais rejeitadas.
Realmente, virou uma geleia geral que deixa o povo pasmo, pois, embutido na mesma mensagem, está o outro lado da moeda: Ratinho Jr. também mudou de lado? E, sendo assim, dá para confiar nele?
A mudança de postura traz ainda outro aspecto notado pelos mais atentos. Chama-se oportunismo. Se o adversário que esperava enfrentar no segundo turno fosse Luciano Ducci, Ratinho Jr. com certeza continuaria apregoando suas ligações com Lula, Dilma e o PT, partido do qual foi parceiro na Câmara.
Como a surpresa sobrenatural das urnas pôs-lhe à frente outro candidato, passou a ser conveniente e oportuno bater na aliança do adversário com o PT. O oportunismo e a conveniência de ocasião, como se sabe, são práticas das mais comuns e condenáveis da velha política brasileira. Lembra, por exemplo, o antigo ranço que um dia fez de Sarney presidente do Brasil.
Ora, isto definitivamente não combina com quem se apresenta como o "novo" na política, o independente combatente das velhas práticas. De uma hora para outra, pois, Ratinho Jr. "envelheceu". À moda do personagem criado por Oscar Wilde, o candidato talvez se veja agora como o narciso Dorian Gray, que, à medida que tomava conhecimento das cruas realidades da vida, mantinha a mesma idade mas percebia que seu retrato na parede envelhecia.
Se continuar assim, periga também de, ao se olhar no espelho pela manhã, veja refletida a imagem de Requião, símbolo do atraso e renitente adversário de "novas ideias", agora aliado.
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