Dia 25, que antigamente se comemorava como Dia do Soldado, curitibanos marcham em direção à Câmara Municipal para pedir que os vereadores reduzam seus salários dos atuais R$ 15 mil para R$ 1,5 mil. A onda de manifestações populares com este objetivo começou em Santo Antônio da Platina (Norte Pioneiro) e lá deu certo: os nobres edis platinenses deixarão de ganhar R$ 7,5 mil e passarão a perceber R$ 970. Outras cidades, sem o mesmo êxito, encetaram campanha idênticas.
Parentes 1
Quem não for parente de um é parente de outro. É isto o que demonstra o livro Estado, Classe Dominante e Parentesco no Paraná – na verdade uma atualização de levantamentos anteriores organizados pelo cientista político Ricardo Oliveira, da UFPR. Agora, contando com a colaboração de participantes do Núcleo de Estudos Paranaenses, a nova edição chega a períodos políticos bem recentes. Será lançado dia 24, às 19h, no Palacete dos Leões.
Parentes 2
Constata, por exemplo, que no governo do estado são grandes as relações de parentesco no 1º escalão, com desdobramentos para o 2º e 3º. São esposas, irmãos, primos distantes. Na Assembleia, “renovada” nas eleições de 2014, dos 54 deputados pelo menos sete descendem de pais e avós políticos – oligarquias que começaram a se formar desde os tempos da Quinta Comarca.
Agora chegou a vez de Curitiba. Organizado por cidadãos comuns, sem militância partidária e arregimentados via redes sociais, o movimento reflete bem a angústia da população, já cansada de arcar com gastos exorbitantes e estapafúrdios criados por corporações de políticos e de setores do serviço público. Coisas do tipo auxílio-moradia e auxílio-fruta, como se dá no Judiciário.
A questão, entretanto, parece ultrapassar a simples conta de quanto ganha um vereador, um deputado ou um juiz. O problema maior é o “retorno” do investimento que os contribuintes fazem neles.
É a tal da relação custo/benefício. Se o benefício do trabalho deles para o interesse público for grande e visível, nada a opor que ganhem bem – mas é lastimável o povo ter de pagar R$ 15 mil a cada um dos vereadores de Curitiba se for para continuar vê-los, a maior parte do tempo, apenas apresentando projetos para criação de datas festivas, nomes de ruas ou concedendo títulos e premiações para amigos. E pouco cumprindo sua função de fiscalizar o Executivo, elaborar leis úteis e pensar grande sobre o presente e o futuro da cidade. Temas importantes não lhes faltariam – mas, de modo geral, não se têm mostrado à altura da expectativa.
Aliás, aos subsídios que recebem devem ser acrescentados outros gastos – auxílio-selo, auxílio-gasolina, auxílio-celular, carro exclusivo à disposição, nomeação de apaniguados para seus gabinetes... Na verdade, gastos que, no fundo, servem para financiar a próxima campanha e praticar assistencialismo visando a alcançar o mesmo fim, isto é, a reeleição. É muito dinheiro para custear quase nada que signifique benefício real e palpável para a sociedade.
Abra-se um parêntese: esta observação não serve apenas para a Câmara de Curitiba, mas também para as de muitos outros municípios, Assembleias Legislativas, Congresso Nacional, tribunais de Contas, Judiciário etc. A diferença é que os vereadores são a parte mais fraca desse espectro e, pela proximidade com o eleitorado, mais vulnerável às pressões. Fecha o parêntese.
O fato de os vereadores serem a parte mais fraca, do ponto de vista da hierarquia das instituições políticas não tira nenhum mérito da iniciativa popular para reduzir seus salários. Se vai produzir o resultado esperado – isto é, se os vereadores vão se submeter à pressão – é questão secundária. A principal é a mobilização e a conscientização da sociedade quanto ao seu papel de exigir mais respeito dos representantes que elegeu – da mesma forma que milhares (ou milhões) de outros cidadãos prometem tomar as ruas das cidades brasileiras para protestar contra a ruindade do governo federal.
As motivações se assemelham: é o mesmo povo manifestando insatisfação com a gastança, com a corrupção posta à luz pela Lava Jato, com a economia desandando, com o arrocho e o desemprego que afeta milhões.
A tudo isto se dá o nome de cansaço, fadiga do material. O povo sente na carne estes efeitos; os políticos e mandatários, ao contrário, insistem em fingir que nada lhes diz respeito e agarram-se a privilégios cada vez maiores.
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