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crise política

Impeachment “escapa” da Constituição e vira arma política

Texto constitucional prevê que cassação de um presidente tem de ser questão técnica, mas política partidária está assumindo papel principal no caso de Dilma Rousseff

Dilma: decisão pelo impeachment será política. | Lula Marques/ Agência PT/Fotos Públicas
Dilma: decisão pelo impeachment será política. (Foto: Lula Marques/ Agência PT/Fotos Públicas)

Se os parlamentares fossem seguir à risca o que está previsto na Constituição Federal e na Lei do Impeachment, a decisão sobre a interrupção ou não do mandato da presidente da República Dilma Rousseff (PT) ficaria atrelada a uma única questão: a petista teve ou não a intenção de cometer crime de responsabilidade? Na prática, contudo, a possibilidade do impeachment envolve outros componentes. No processo em curso, avaliam cientistas políticos consultados pela Gazeta do Povo, a política partidária está ganhando o principal papel.

No Brasil, o vice é um ator interessado no impeachment, o que não ocorre nos EUA, onde o vice é do mesmo partido.

Luiz Domingos Costa Cientista político do Grupo Uninter

“A questão técnica, jurídica, tem sido a menos preponderante no processo até aqui. O que a gente vê na história recente da política brasileira é o impeachment como um mecanismo de barganha política – a ameaça do impeachment foi colocada durante o ano inteiro de 2015 – e também como um instrumento rotineiro da oposição”, diz o cientista político Luiz Domingos Costa, professor do grupo educacional Uninter, de Curitiba. O “PT também fez isso no passado. A oposição ensinou mal à população com o ‘Fora FHC’ e o ‘Fora Dilma’. Eles ensinaram que governo mal avaliado é governo que deve ser retirado. E não deveria ser assim. A Constituição Federal não pode ser desrespeitada.”

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O cientista político David Fleisher, professor na Universidade de Brasília (UnB), diz acreditar que há lastro jurídico para cassar o mandato de Dilma, mas reconhece que o que pesa na balança para o impeachment se concretizar ou não é, “em grande parte”, a questão partidária, especialmente a posição do PMDB, maior partido da coalizão.

“O PMDB é a chave do tesouro. É bastante difícil, mas se a presidente Dilma conseguir desarticular os peemedebistas dissidentes, se ela for bem sucedida nisso, ela pode frear o impeachment. É a única maneira”, avalia Fleisher.

Para o professor da UnB, se a convenção nacional do PMDB for antecipada para o início do ano que vem, para aprovar a ruptura do partido com o governo federal petista, “seria o começo do fim para o governo de Dilma”, com a saída de Michel Temer (vice-presidente) dos bastidores.

Fleisher afirma que a perspectiva de assumir o poder, especialmente quando não se tem candidato próprio competitivo para 2018, é “uma motivação muito forte”. “Quem não aderir [à defesa do impeachment] será esquecido na composição do novo governo federal. Isso é um elemento de persuasão forte”, afirma ele.

Para Domingos Costa, o PMDB é de fato “o problema-chave” da questão do impeachment. “No Brasil, o próprio vice é um ator interessado no impeachment, o que não ocorre nos Estados Unidos, por exemplo, onde o vice normalmente é do mesmo partido. Eu acho que o Temer está mesmo minando, trabalhando pelo impeachment. E isto é uma motivação conjuntural. É uma característica muito ruim do nosso processo de impeachment”, analisa o professor.

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