Depois da alegria de terem sido eleitos no mês passado, os futuros prefeitos não terão vida fácil a partir do dia 1.º de janeiro. Com a União buscando novas fontes de recurso a qualquer custo e os estados de pires na mão em Brasília, os municípios estão se preparando para um 2017 de crise, sem ter a quem pedir socorro.
Os futuros comandantes dos Executivos municipais até têm tentando se fazer notar. Cobram do governo federal e do Congresso a aprovação de uma série de medidas: o encontro de contas das dívidas previdenciárias dos municípios e da União; a prorrogação do prazo para eliminação dos lixões e instituição dos aterros sanitários; a partilha dos recursos da multa para repatriação; a mudança no critério de reajuste do piso salarial do magistério; e a equalização dos repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). A chance dessa lista virar realidade no curto prazo, porém, é remota.
A Gazeta do Povo ouviu os prefeitos eleitos das cinco maiores cidades do Paraná sobre a expectativa do que irão enfrentar a partir do ano que vem. E todos estão cientes de que o desafio não será pequeno. Leia as entrevistas:
Rafael Greca (PMN), Curitiba
O desafio maior é a reorganização da prefeitura − tanto de estrutura quanto financeira − para fazer frente ao atual cenário, e cumprir o plano de governo, atendendo às necessidades da nossa população.
Não trabalho com esta hipótese, pois a sociedade não suporta mais aumentos de tributos. Temos sim que buscar a eficiência.
Trabalho de forma Republicana. Como todo prefeito, temos que nos relacionar institucionalmente com as autoridades constituídas e manter o diálogo. Já estive com o governador, e a receptividade da busca de parcerias foi muito boa. Vamos começar com a reintegração do transporte e ações integradas nas áreas da saúde, segurança e mobilidade.
Saúde, educação, mobilidade/transporte, infraestrutura urbana (manutenção da cidade) e segurança. Essas são áreas que vamos priorizar e fortalecer parcerias, para melhor atender à nossa população.
Marcelo Belinati (PP), Londrina
Muitos desafios, que vão desde a situação financeira da prefeitura que está muito complicada − com uma previsão de déficit perto de R$ 300 milhões − até a deterioração da estrutura da máquina pública com consequente perda da qualidade dos serviços públicos prestados à nossa população. Mas eu confio muito na força de Londrina, e acredito que é nas dificuldades que surgem as maiores oportunidades. Vamos corrigir as finanças e dar um rumo para o futuro da nossa cidade.
Primeiro vamos cortar na própria carne, fazer a lição de casa: cortar gastos, reduzir secretarias e cargos de indicação política, auditar contratos, zerar a perda de recursos públicos pelos ralos da incompetência de gestão, etc. Em Londrina, uma questão que tem que ser avaliada é a planta de valores dos imóveis, que não é reavaliada desde 2001. Isso provocou inúmeras distorções como, por exemplo, condomínios de luxo que pagam menos IPTU que bairros humildes. Isso está errado e vamos promover justiça fiscal corrigindo essas distorções. Sempre com diálogo com a sociedade.
Relação muito boa. O governador nasceu em Londrina, tem um carinho especial por nossa cidade e é um dos governadores que mais investiu aqui. São muitas obras importantes, como a duplicação PR-445, revitalização da Avenida Saúl Elkind, duplicação da Avenida Castelo Branco, ampliação do Hospital Zona Norte, Hospital da Zona Oeste que vai sair, etc. Já estive com ele e espero que essa parceria com a cidade continue.
Corrigir as finanças da prefeitura e melhorar a qualidade dos serviços prestados à população. Sem dúvida, o nosso maior problema hoje é a saúde pública. Com planejamento, metas claras e muito trabalho, vamos conseguir avançar. E isso só será possível com o crescimento e desenvolvimento econômico de Londrina. Se a economia vai bem, todo o restante também vai. A própria prefeitura tem mais recursos para investir em saúde, segurança, educação, nos cuidados da cidade, etc.
Ulisses Maia (PDT), Maringá
O principal desafio é garantir o equilíbrio fiscal do município, diante da perspectiva de um ano difícil em 2017. Essa é a principal preocupação, com as centenas de contratações que o atual prefeito tem feito no final do mandato. Nós não podemos comprometer as finanças com gastos que podem ser postergados ou evitados. Por isso vamos reduzir o número de cargos de confiança de 516 para 150, com economia de R$ 20 milhões por ano. E não vamos renovar o contrato da coleta de lixo, o que vai nos permitir uma economia de R$ 16 milhões por ano.
Não trabalhamos com a hipótese de aumento de impostos. O IPTU já vai ser definido pela atual administração, e não há hipótese de aumentar o ISS.
Minha relação com o governador vai ser de respeito e harmonia. A importância de Maringá nos leva a acreditar que teremos todo o apoio do governo do estado. Já agendei uma visita ao governador e ainda neste mês vamos nos encontrar.
O principal problema de Maringá hoje é melhorar o atendimento nos serviços públicos. Temos sérios problemas no transporte coletivo, na saúde e na segurança pública. Essas serão nossas prioridades. Vamos humanizar o atendimento no serviço público. Temos uma cidade bonita, mas queremos ter também uma população feliz.
Marcelo Rangel (PPS), Ponta Grossa
Todos os prefeitos eleitos ou reeleitos agora têm pela frente o seu maior desafio como administradores e como gestores, que é administrar grandes municípios com poucos recursos, diante da maior crise do nosso país − com a economia global também num momento de instabilidade, o que traz uma preocupação adicional. E, principalmente, fazer com que o município se desenvolva criando oportunidades de emprego e renda, principalmente para os jovens, que estão saindo da faculdade, concluindo sua qualificação e indo em busca de emprego. A cidade de Ponta Grossa se preparou ao longo dos últimos quatro anos, está vivendo um momento de grande prosperidade. Nosso desafio é manter esse crescimento sustentável do nosso município, para que possamos ter os próximos anos tão positivos ou até melhores do que o nosso primeiro período de governo.
Eu não trabalho com essa hipótese, porque não podemos penalizar o cidadão, de forma nenhuma, pelo momento difícil que o Brasil está enfrentando. Porém, temos que buscar a justiça fiscal, antes de mais nada: com fiscalização eficiente, planos de gestão adequada e um plano de arrecadação equivalente, bem planejado e responsável. Nosso objetivo é manter os níveis de arrecadação sem arrochar o contribuinte, por isso optamos por trabalhar de forma diversa do aumento de imposto. Temos a responsabilidade adicional de buscar alternativas para que se possa receber efetivamente os haveres inscritos em dívida ativa, para que tenhamos uma arrecadação melhor. Nossa tática é estender a mão para o setor produtivo − indústria, comércio e serviços − para que possamos arrecadar com a produtividade, com a prosperidade dos serviços e do setor produtivo, alavancando a nossa receita tributária.
Minha relação com o governador − e também com o presidente Temer − tem que ser a melhor relação institucional, política e profissional, em todos os sentidos. O município precisa desse bom relacionamento, para que possamos avançar não só nas parcerias entre os governos − independente de questões político-partidárias −, mas também demonstrar a possibilidade de efetivar parcerias produtivas. Com o governador Beto Richa tenho não só um bom relacionamento político, mas administro uma cidade que reconhece que tivemos avanços muito importantes, principalmente na industrialização, e também como presença ativa no município, por meio de programas, organismos e obras. Isso para nós será muito importante também neste segundo mandato.
Os maiores desafios de Ponta Grossa neste momento estão na infraestrutura, especialmente pavimentação nos bairros, por se tratar de uma cidade com um grande quadro urbano e que teve seu perímetro urbano aumentado em muito e sem planejamento ao longo dos últimos anos. Justamente por isso estive, ainda esta semana, com o presidente Michel Temer, em busca de recursos do governo federal para essa área. Evidentemente que outro desafio é crescer de maneira sustentável, em particular na área de mobilidade. Nós conseguimos alcançar um dos maiores índices de desenvolvimento do sul do país, mesmo com toda essa crise. Mas temos esse desafio adicional, porque o PIB da cidade cresceu muito, a frota de veículos teve um aumento exponencial e, em contrapartida, uma malha viária que ainda precisa de muito investimento.
Leonaldo Paranhos (PSC), Cascavel
Estamos no período de transição. Ainda não tenho os números da prefeitura, porque estamos fazendo aos poucos este levantamento. Mas sei que teremos muitas dificuldades para administrar a cidade. Tenho certeza que vou assumir um município sem capacidade de investimentos. Há um empréstimo internacional de cerca de R$ 180 milhões, dos quais 50% são contrapartida da prefeitura por exemplo. É um cenário preocupante, mas acredito na capacidade do nosso município. Com corte de despesas e do desperdício, vamos enxugar a máquina para otimizar a receita e atender às prioridades da população.
Não quero iniciar o mandato aumentando impostos, porque entendo que a população de forma geral já paga uma carga muito alta. Mas aqui em Cascavel, precisamos discutir a questão do IPTU progressivo com a sociedade, porque a média cobrada aqui está muito abaixo dos números estaduais e nacionais.
Apoiei o Beto em 2010 e 2014. Nossa bancada do PSC e do PSD tem uma relação próxima com o governo. Mas claro que vamos atrás do máximo que for possível de verbas extras, além dos programas que já existem para o município, até porque o próprio governo também está readequando sua capacidade de caixa. Entendemos o momento difícil do país todo, mas precisaremos muito de aportes do governo do estado. Mas, no geral, o governo investiu bastante em Cascavel nos últimos seis anos, sobretudo na área da saúde. Agora mesmo, há obras de R$ 18 milhões de asfalto a fundo perdido.
Certamente a saúde pública, o que não foge muito da realidade dos outros municípios. Mas aqui em Cascavel, temos um gargalo um pouco maior, porque a rede é muito deficitária do ponto de vista físico. Além disso, há poucas equipes de atenção básica, a saúde preventiva tem um serviço muito acanhado.
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