O ano de 2023 foi amargo para os brasileiros de bem, acossados de todos os lados por criminosos, liberticidas e psicopatas políticos, hoje acastelados no poder, tanto oficial quanto extraoficialmente. Aqui nesta minha coluna na Gazeta do Povo, e na medida das minhas forças, fiz questão de documentar a nossa realidade distópica, sem qualquer esperança de contribuir com alguma reviravolta política imediata (coisa que acho impossível), mas com o objetivo de fornecer um registro histórico deste momento infeliz para a pátria, hoje submetida a um regime de exceção comandado por socialistas inescrupulosos. Para o leitor que tem me acompanhado desde 2018 neste jornal, faço aqui uma breve retrospectiva do ano, relembrado por meio de algumas de minhas colunas.
Sintomaticamente, o primeiro texto do ano foi dedicado ao papel das Forças Armadas brasileiras no contexto sombrio que, desde o ano anterior, já se anunciava no horizonte. Em 4 de janeiro, escrevi “A direita brasileira e as Forças Armadas”, no qual, desfazendo ilusões em contrário, apontava a incompatibilidade ideológica entre as Forças Armadas brasileiras e o recente movimento conservador surgido no país, sugerindo que, por seu ideário positivista, os militares brasileiros estavam mais próximos do que se imagina de outras filosofias progressistas da história, incluindo o marxismo. Recorde-se que, não mais que quatro dias após a minha análise, no fatídico 8 de janeiro, o Exército viria a entregar de bandeja aos comunistas mais de mil manifestantes anticomunistas, os quais, iludidos, acreditavam numa afinidade quase natural com os militares que, supostamente, os iriam proteger. Sobre o “Dia da Perfídia”, aliás, eu escreveria na coluna do dia 24 de maio, comentando a confissão abjeta do general Gustavo Henrique Dutra, ex-chefe do Comando Militar do Planalto, que, debochando da credulidade das vítimas do 8 de janeiro, se jactou de saciar o apetite do comunista-em-chefe por presos políticos.
Ao longo de 2023, um dos principais propósitos desta coluna foi fazer a crônica dos nossos tempos bicudos.
Aquele meu texto de 4 de janeiro, e sua sequência publicada na semana seguinte com o título “Chave e fechadura: como o positivismo dos militares colaborou para o florescimento do gramscismo”, provocaram a indignação da colunista Bruna Frascolla, que, em réplica aos meus textos, se lançou numa defesa apaixonada das Forças Armadas brasileiras. Meus artigos seguintes (ver aqui e aqui) foram dedicados a debater o tema com a minha interlocutora, e a reafirmar o que eu já dizia há tempos: aquilo que para muitos na direita soou como uma “traição” incompreensível das Forças Armadas, para mim não foi mais que o corolário de uma determinada visão de mundo, desde sempre inclinada a facilitar a conquista da hegemonia cultural e política por parte do campo socialista. Como bem previra Olavo de Carvalho em março de 2021: “Querem apostar? Quando a opressão chegar ao nível do insuportável e o povo se revoltar, aí sim as heroicas Forças Armadas intervirão para amarrar as mãos do povo e proteger os opressores”.
Em abril, houve o terrível massacre numa creche de Blumenau (SC), quando um invasor assassinou quatro crianças a golpes de machadinha. Meu artigo sobre o tema foi intitulado “Ideias estúpidas, consequências trágicas”. Após constatar o preocupante fato de que esse tipo de ocorrência se tornara mais comum no Brasil ao longo da última década, observei que ideias estúpidas vigentes nos meios de influência e poder bloqueavam a discussão sobre medidas efetivas de impedir ou reduzir os danos de casos como aquele e de crimes violentos em geral, medidas como, por exemplo, a adoção de segurança armada nas escolas: “Como toda proposta sensata feita pelos interessados diretos em algum assunto, no Brasil a ideia de segurança armadas nas escolas se choca contra o muro da estupidez ideológica, dos slogans pseudo-humanistas, e no sentimentalismo perverso das autoridades e dos burocratas”.
O ano de 2023 foi amargo para os brasileiros de bem, acossados de todos os lados por criminosos, liberticidas e psicopatas políticos, hoje acastelados no poder
Uma semana depois, comentei sobre quando a estupidez antes descrita começa a ser criminosa. Analisei, na ocasião, a infame tentativa do então ministro da Justiça (e hoje magistrado do STF), o comunista Flávio Dino, de lucrar politicamente sobre a tragédia, utilizada como pretexto para a perseguição de opositores e a censura à internet, uma verdadeira obsessão comunista, já levada ao estado da arte na China, regime cujos passos rumo ao controle total da opinião pública a ditadura lulopetista busca imitar. Observei no texto “A angústia dos pais e a resposta do regime”:
“Enquanto os cidadãos lidam com um problema concreto e temem uma ameaça real à vida de seus filhos, amplos setores do poder público, sobretudo no governo federal, estão preocupados com outras coisas. É o caso, por exemplo, do ministro da Justiça e Segurança Pública, uma espécie de Lavrenti Beria tupiniquim, por ter como missão principal à frente do cargo a perseguição aos opositores do regime. Explorando politicamente a comoção gerada pelos atentados, o comunista Flávio Dino não perde uma oportunidade de lançar a culpa sobre entidades abstratas tais como ‘a cultura do ódio’ ou a ‘desinformação’, de modo a associá-las de algum modo ao bolsonarismo e à direita brasileira como um todo.”
Em maio, enquanto a ditadura avançava desenfreada, escrevi o texto “Um dia viveremos sem medo? Registros da presente ditadura no Brasil”, na qual fazia referência a Um dia viveremos sem medo: a vida cotidiana sob o Estado policial soviético, grande livro do historiador e economista Mark Harrison. Concluí aquela coluna com estas palavras:
"Uma semana depois de reler o livro de Mark Harrison, fui teletransportado para uma realidade brasileira que não fica muito a dever em termos de perfídia, obscurantismo e tirania, mimetizando o mesmo modelo de perseguição política mediante processos fraudulentos e campanhas de assassinato de reputação de ‘inimigos de Estado’. A cada dia, a assim chamada ‘democracia brasileira’ soa mais e mais como uma paródia grotesca, em nome da qual seus coveiros a enterram debaixo de sete palmos. Tivemos, apenas na última semana, episódios como o covarde banimento da influenciadora digital Bárbara Destefani do YouTube, por ordem judicial; o ministro da justiça comunista Flávio Dino – uma espécie de fóssil vivo, materializado diretamente dos embolorados escritórios da NKVD – ameaçando as redes sociais e decretando que ‘esse tempo da autorregulação, da liberdade de expressão como um valor absoluto, esse tempo acabou no Brasil’; e a cassação do deputado Deltan Dallagnol por ordem do tribunal companheiro do regime petista... Levando em conta o fato de estarmos apenas no primeiro semestre do primeiro ano da ditadura, é-nos ainda difícil, a esta altura, ter a certeza estampada no título de Harrison. Será que, de fato, um dia viveremos sem medo? Que Deus assim o deseje...”
Fiz questão de documentar a nossa realidade distópica, sem qualquer esperança de contribuir com alguma reviravolta política imediata
Fechando o mês de maio, comentei a covardia cometida contra a juíza Ludmila Lins Grilo, aposentada compulsoriamente por não se curvar ao regime e ousar criticar o ilegal, ilegítimo e indecente inquérito das “fake news”, aberto de ofício por militantes de toga do STF. No texto “Expurgos”, observei: “A decisão que, no dia 25 de maio de 2023, finalmente determinou a aposentadoria compulsória, foi a consumação de um processo de perseguição política iniciado há tempos (...) Com base nessa parceria política entre redações e tribunais militantes, Ludmila foi inicialmente afastada pelo CNJ em fevereiro deste ano, com voto unânime de 15 integrantes do órgão, que seguiram a posição do corregedor. E esse processo culminou na decisão de ontem, que determinou o expurgo definitivo”.
No mês seguinte, publiquei um artigo intitulado “Estado Excepcionalíssimo de Direito”, no qual relembrava o voto pró-censura envergonhado de Cármen Lúcia, e, por ocasião da censura contra o podcaster Monark, estranhava o súbito despertar para o colapso da democracia por parte de veículos e colunistas de opinião que ajudaram a fomentá-lo. Concluí na época:
“Quando, por exemplo, a Polícia Federal entrou na casa do jornalista Allan dos Santos e apontou uma arma para sua mulher grávida, esses jornais calaram ou aplaudiram. Fizeram o mesmo quando da busca e apreensão na casa de empresários por conta de mensagens privadas em grupo de WhatsApp. Quando prenderam Daniel Silveira, Roberto Jefferson, o cacique Serere, o humorista Bismark, do canal Hipócritas, e tantos outros. Quando censuraram centenas de pessoas de direita, incluindo muitos jornalistas. Quando censuraram a Jovem Pan. Quando bloquearam as contas bancárias e cassaram o passaporte de Rodrigo Constantino e Paulo Figueiredo. Quando aposentaram compulsoriamente a juíza Ludmilla Lins Grillo etc. Enfim, depois de tudo isso, e de muitos outros arbítrios cometidos por agentes do Estado, reivindico o direito de suspeitar desse súbito escândalo diante do Estado Excepcionalíssimo de Direito que esses jornais e jornalistas ajudaram a legitimar”.
Mas com o objetivo de fornecer um registro histórico deste momento infeliz para a pátria, hoje submetida a um regime de exceção comandado por socialistas inescrupulosos
Em julho, na coluna “Retórica genocida”, esmiucei o sentido de um discurso de ódio do mandatário brasileiro, proferido em Bruxelas no dia 19. Utilizando como pretexto o episódio da suposta agressão ao companheiro Alexandre de Moraes no aeroporto de Roma (agressão jamais provada), o descondenado-em-chefe aspergiu estes perdigotos e palavras: “Um cidadão desse é um animal selvagem, não é um ser humano (...) Essa gente que renasceu no neofascismo colocado em prática no Brasil tem de ser extirpada”. Sobre a fala, escrevi:
“Note-se que o presidente da República não se restringiu a comentar individualmente sobre o suposto agressor de Moraes, o que já seria alarmante, sobretudo porque nada ainda permite extrair uma conclusão inequívoca sobre o episódio. O mandatário, amigo e aliado de narcoditadores e criminosos contra a humanidade como Maduro e Ortega, referiu-se a ‘essa gente’. É ‘essa gente’, comparada a um animal selvagem, que o presidente da República diz querer extirpar. São esses, segundo os dicionários, os sentidos possíveis do verbo extirpar: ‘Arrancar pela raiz, extrair (como, em medicina, um cisto, um dente, um tumor etc.). Destruir por completo’. ‘Essa gente’, “um animal selvagem”, “extirpada”. Em períodos recentes, é difícil lembrar de algum líder de qualquer pretensa democracia no Ocidente utilizando abertamente, em público, esse tipo de retórica, a qual, a meu ver, pode perfeitamente ser qualificada como genocida.”
Na semana seguinte, prossegui com a análise da retórica desumanizadora do mandatário e especulei sobre seus possíveis efeitos em termos de violência política concreta. Em “A questão bolsonarista e a solução final”, examinei alguns processos históricos que culminaram em assassinatos em massa e comparei com o contexto brasileiro atual. E observei:
“A escritora russa Nadezhda Mandelstam, cujo marido pereceu no gulag stalinista, descreveu a atitude de muitos de seus contemporâneos durante o Grande Expurgo: ‘Nós todos optamos pela saída fácil de manter o silêncio na esperança de que seriam os nossos vizinhos, e não nós, os próximos a serem mortos’. É o mesmo espírito dominante na sociedade brasileira atual, que, com raras exceções, optou pelo silêncio na esperança de que apenas os ‘bolsonaristas’ – descritos como inimigos do Estado, da democracia, da civilidade, da paz e do amor – continuem sendo perseguidos e definhem no cárcere.”
Senti-me impelido a contribuir modestamente com a preservação da nossa memória histórica, sempre o principal alvo de um regime comunista tal como o que hoje nos governa
Uma das colunas do mês de agosto foi dedicada à comovente entrevista do humorista Bismark Fugazza à jornalista Cristina Graeml, na qual o preso político contava os detalhes de sua detenção pelos órgãos de repressão do regime lulopetista. Escrevi na ocasião em “O bolsonarista era um homem”:
“Como em todo regime totalitário, o estigma marca o início da prisão política de Bismark Fugazza. O pai de dois filhos, marido de uma esposa grávida do terceiro, filho de um pai com câncer, cidadão brasileiro e humorista talentoso precisa ser despersonalizado, reduzido a um ‘bolsonarista’, essa coisa execrável, espécie de patógeno do qual o organismo político-social – a nossa saudável e imaculada Nova República – precisa se defender. Não há preso político de ditaduras (nacional ou internacional) socialistas que não tenha sido submetido a esse processo de despersonalização e desumanização. Como escreveu a historiadora Anne Applebaum em Gulag: Uma história dos campos de prisioneiros soviéticos: ‘Os gulags não foram construídos para encarcerar pessoas pelo que fizeram, mas pelo que eram’. Assim se passou com Fugazza, que não foi parar num gulag tropical por algo que tenha feito, mas por aquilo que é”.
Já em novembro, o tema da coluna for a morte do preso político Cleriston Pereira da Cunha, o Clezão. Em “Nas garras de uma democracia fake, Clezão morreu inocente”, eu registro que:
“A verdade é que Moraes e a maioria de seus pares nutrem raiva, nojo e desprezo olímpico por tipos humanos como Cleriston, que eles consideram ‘incivilizados’, ‘bárbaros’, ‘imbecis’ e – ainda que jamais tenham cometido violência alguma – ‘terroristas’. Não, Cleriston não queria uma colônia de férias. Queria apenas que sua condição clínica fosse respeitada. Ele e sua família nunca quiseram privilégios, e sempre trabalharam duro, mantendo um pequeno comércio familiar. Cleriston, o Clezão, só queria voltar para casa, porque, como sempre afirmou, e como fica claro em seu processo, era inocente. Inocente foi preso, inocente foi torturado, inocente foi ignorado, e, finalmente, inocente foi morto pelo Estado brasileiro.”
Encerrando o ano, dediquei textos à parceria entre o TSE e a Anatel em prol da censura sumária de opositores do regime na internet (ver “A ameaça da democracia e da liberdade de expressão”), à vexaminosa sabatina que apenas chancelou a indicação do comunista Flávio Dino para o STF, com a cumplicidade de parte da assim chamada “oposição” (ver “Esopo, Zweig e o futuro do país do futuro”), e, por fim, à bolivarianização dos nossos tribunais superiores e a institucionalização – e naturalização, por parte da imprensa amestrada – da ditadura exercida pelo consórcio Executivo-Judiciário (ver “O velho-novo modelo de governabilidade lulopetista”).
Em suma, ao longo de 2023, um dos principais propósitos desta coluna foi fazer a crônica dos nossos tempos bicudos, para que, em meio às mentiras em série espalhadas pelos muitos departamentos de propaganda do regime, algo da nossa realidade histórica reste preservado e documentado. Numa época em que, como comprova a parceria entre a prefeitura do Rio de Janeiro e o TSE, a democracia brasileira virou peça de museu, senti-me impelido a contribuir modestamente com a preservação da nossa memória histórica, sempre o principal alvo de um regime comunista tal como o que hoje nos governa.
Colunista em férias
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