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Já passou de um milhão o número de pessoas que subscreveram a “Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito”. Há gente de esquerda ali? Sim. E, provavelmente, aos montes. Mas também há, igualmente aos montes, aqueles que têm visão de mundo diametralmente oposta. Reduzir tudo a uma “micareta petista”, como fez Jair Bolsonaro, em sua reação ao ato de leitura do documento, é apenas desonestidade intelectual de quem pretende se vender como vítima de uma grande conspiração política que vai do TSE ao MST, passando até pelos banqueiros insatisfeitos com o PIX. É risível.

Que se faça a análise sintática, gramatical e etimológica de cada frase, de cada expressão, de cada palavra ali contida. Não há nada que remeta a algo contra ou a favor de candidaturas ou partidos políticos, tampouco de espectros ideológicos e correntes de pensamento. Só a defesa intransigente de um valor que deveria ser comum a todos: o da democracia.

O que o manifesto faz, e não sem destemor, é apontar o assédio a que nosso sistema de votação vem sendo submetido, bem como o clamor crescente pela quartelada: “Ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura do processo eleitoral e o Estado Democrático de Direito tão duramente conquistado pela sociedade brasileira. São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional”.

Sob a justificativa de “mais transparência”, o que temos é uma ardilosa estratégia de descredibilização do sistema de votação e, com ele, o enfraquecimento da democracia em si. Afinal, se o meio pela qual ela é exercida é fraudulento, se suas instituições não são confiáveis, então ela mesmo é falsa. E se é falsa, então está a serviço de interesses que não o da população.

Na narrativa picareta em curso, o objetivo de um incontável número de pessoas e instituições públicas e privadas seria a volta de Lula ao poder.

Nunca antes uma ode à democracia gerou tanta controvérsia, tanto ruído, tanto alvoroço e tanta contrariedade entre sedizentes democratas. Se são, qual o incômodo? Têm medo do que, afinal? A carapuça parece pesar. Não por acaso, os indignados com o teor da carta são exatamente os mesmos que vocalizam o negacionismo eleitoral e os argumentos falaciosos que ela corretamente denunciou. Se sentem agredidos porque foram expostos em praça pública. Ou, mais precisamente, expostos nas arcadas do prédio da Faculdade de Direito da USP.

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