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Caro leitor,
Durante uma participação especial no programa Entrelinhas, aqui da Gazeta do Povo, meu amigo de fé e irmão camarada Rodrigo Constantino disse querer que o ministro Alexandre de Moraes, notório por sua perversidade e sua concepção, digamos, sui generis de democracia e justiça, pague por seus erros aqui neste mundo. Ênfase em aqui neste mundo. E aí emendou: “No próximo a gente tem certeza de que ele vai pagar – e caro”.
Difícil encontrar quem não compartilhe dessa visão. Mas e se eu disser para vocês e para o Constantino que não tenho tanta certeza assim? E se eu disser que, apesar das muitas e evidentes maldades, Alexandre de Moraes pode escapar do inferno e ir para o Céu? (Para quem acredita, claro. Para quem é cristão).
Antes que você tire seu Nietzsche (escrevi certo?) do bolso e o atire em mim, argumentando que é por essas e outras que o bigodudo considerava o Cristianismo a religião dos fracos, permita-me recorrer ao vocabulário religioso para dizer que a misericórdia divina é de fato surpreendente. Mais do que isso, como essa misericórdia se baseia num amor para nós inalcançável, ela é contraintuitiva. Sobretudo quando falamos de pessoas más.
Ira divina
O amor é mesmo contraintuitivo. Já o pecado é absolutamente intuitivo, espontâneo e natural – no sentido de animalesco. Isso que Alexandre de Moraes faz, por exemplo, é motivado por uma noção muito intuitiva de uma justiça que se baseia na punição e na vingança nada misericordiosas.
Os problemas quando dizemos que Alexandre de Moraes já está condenado ao inferno são vários, mas no momento só me ocorrem dois. O primeiro é que ele satisfaz nossa noção intuitiva de justiça, que se baseia no nosso desejo de vingança e em nossa confiança não no amor, e sim na ira divina. Mas aí eu lhe pergunto: há alguém aqui que tenha tanta certeza assim de suas virtudes a ponto de não temer que essa mesma ira divina, aplicável a Alexandre de Moraes, recaia sobre si?
Enquanto você vai pensando aí eu vou dando uma enrolada aqui porque me esqueci do segundo problema de se condenar Alexandre de Moraes ao inferno. Qual era mesmo?
Quando ele cisma...
O segundo problema é que pressupor Alexandre de Moraes sentado no colo do capeta é ignorar a possibilidade de arrependimento sincero. Nem que seja no segundo que antecede a morte. Faz sentido? Não muito e eu sei que tem gente lendo este texto e ficando desesperada diante da possibilidade de dividir a Eternidade ao lado de Alexandre de Moraes – sobretudo depois de tanta maldade. De tanto sofrimento. De tanta recusa em ouvir o que os editoriais da Gazeta do Povo têm a dizer.
Mas lembre-se de que um Alexandre de Moraes arrependido não é o mesmo Alexandre de Moraes que você vê na televisão. Aquele que, quando cisma, é uma tragédia. E já que você está nessa de se lembrar, lembre-se também de que não estamos falando de um arrependimento qualquer, da boca para fora. Estamos falando de um arrependimento, por mais improvável que ele nos pareça hoje, com o Selo Divino de contrição sincera. Não é pouca coisa.
Uau! Refutei Nietszche
A nós cristãos, portanto, resta-nos rezar para que Alexandre de Moraes pague em vida por seus abusos, e se arrependa a tempo de ser perdoado por Deus. Pelo menos é assim que entendo o mandamento de Jesus, quando Ele diz: “Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos maldizem e orai pelos que vos injuriam” (Lucas 6:27-28).
Difícil, né? Mas ninguém disse que era fácil. E é por isso que Nietzsche está redonda e sifiliticamente enganado. Longe de ser a religião dos fracos, o Cristianismo é a religião de quem tem o superpoder de amar seus inimigos, desejando, do fundo do coração, que eles se arrependam e ganhem a vida eterna.Uau. Refutei Nietzsche e escrevi o nome dele sem pesquisar. Palmas para mim!Aquele abraço doPaulo
[Esta coluna é uma reprodução da carta que chega à caixa postal dos assinantes toda sexta-feira. Se você ainda não se inscreveu, lá em cima, logo depois do primeiro parágrafo, tem um campo para isso].