O que mais me impressionou na morte do presidente do Irã, Ebrahim Raisi, foram os fogos de artifício que, a julgar pelas imagens que circularam pelas redes sociais na tarde de domingo, espocaram por toda a Teerã. Teve até festinha na rua. Vendo aquelas imagens, e como não sou bom de prever quaisquer consequências geopolíticas da morte do ditador carniceiro, na hora fiz uma associação apressada entre as demonstrações de carinho dos iranianos e a situação do nosso igualmente querido presidente da República. Daí a pergunta: haverá fogos de artifício quando Lula morrer?
Pergunta de mau gosto? Não necessariamente! A morte é o destino de todos nós e ajudaria muito se ela estivesse mais presente na mente dos nossos governantes. Se os líderes políticos de ambos os lados tivessem a morte no horizonte, talvez medissem suas palavras e ações em relação à Eternidade, e não em relação ao próximo ciclo eleitoral. Parar um segundinho para pensar na própria morte tem lá seus benefícios. Para todo mundo.
Se parasse para pensar no fim inevitável, talvez Lula não tivesse usado o precioso e escasso (precioso porque escasso) tempo que lhe resta para construir um governo radical de vingança. Aliás, se contemplasse a libitina, talvez Lula não tivesse embarcado na nau dos desesperados que é sua administração. Mais: se parasse para imaginar o derradeiro beijo da Indesejável, talvez Lula não tivesse usado o ocaso da vida para escancarar sua aliança espiritual com o que há de pior no mundo. E, para que não reste dúvida, estou falando da esquerda radical nacional e também de Putin, Xi Jinping, Maduro – e do agora finado Raisi (Raí, para os íntimos).
Lula que, num sinal de que essa aliança que vai muito além das afinidades ideológicas e alcança o espírito, mandou condolências compungidas para os familiares de Raisi, num tom pesaroso que vai além do exigido pelo protocolo. Abjeto! Lula que insiste em nos ameaçar de que viverá até os 120 anos. (Toc, toc, toc). Lula que não se esforça para pacificar o país (e nem sei se conseguiria) nem faz nada para impedir que, quando de seu passamento, se repitam aqui as cenas de Teerã.
Estamos com raiva
Se bem que, a esta altura do campeonato, nem sei se ele é capaz de fazer alguma coisa que apazigue os ânimos. Está todo mundo com tanta raiva (aliás, estamos) que é inimaginável um féretro presidencial respeitoso e contrito. Sobre isso tenho algumas teorias não muito populares, como a de que a indignação permanente é gostosinha, dá prazer, e por isso as pessoas a buscam ativamente. Mas isso não vem ao caso. Ou talvez venha, mas tenho certeza de que você não quer pensar nisso agora porque está aí imaginando o festerê. Pelo menos disfarça o sorriso, cara!
Quando penso na macabra e indecente comemoração da morte, claro que não estou falando apenas da morte do Lula. A do Bolsonaro também será comemorada por milhares, milhões ou bilhões (de acordo com levantamento da USP). E imagino que o fenecimento de umas outras tantas autoridades do judiciário haverá de causar alegria e alívio em muita gente. Desse desejo de ver os adversários/inimigos eliminados pelo destino inevitável nem os artistas escapam. Você vai ver o que vai acontecer quando certos nomes icônicos da nossa cultura passarem desta para a melhor (ou pior? vai saber...).
Porque estamos com raiva. Estamos porraqui com essa gente que se acha no direito de nos escravizar. Não aguentamos mais ver tanta gente medíocre e/ou mal-intencionada se dando bem. Não entendemos a lógica de um mundo que parece recompensar o mal. Essa “justiça” que privilegia corruptos e criminosos nos escapa. Estamos indignados. E ninguém se importa com isso. Quer saber? A verdade é que estamos embriagados de uma fúria que nos paralisa e nos cega para o bem comum.
E, para piorar, no Brasil de hoje não há absolutamente nenhuma autoridade (cultural, intelectual, política ou espiritual) com capacidade de liderança e imagem limpa o bastante para propor a verdadeira pacificação do Brasil. Eu, pelo menos, não conheço. Daí porque, respondendo à pergunta-título e apesar de eu preferir o alívio discreto à vulgaridade da alegria indecente de celebrar a morte de alguém, digo: haverá fogos de artifício quando o Lula morrer, sim. E não serão poucos.
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