O Financial Times sugeriu que Portugal se incorpore ao Brasil, tornando-se o 28.º Estado da Federação. Com isso, diz o jornal britânico, Portugal ganharia credibilidade no mercado financeiro internacional, sairia da década de estagnação econômica, veria seu PIB crescer, as contas públicas se tornariam melhores e a locomotiva brasileira levaria Portugal ao primeiro mundo, descolando-o da velha e exaurida Europa. A incorporação, nas palavras do jornal, não alteraria a situação brasileira porque Portugal representa apenas 5% da população e 10% do PIB. Os grandes problemas da economia portuguesa seriam minúsculos para o gigantismo brasileiro. O tom é jocoso, mas não foi brincadeira de 1.º de abril e, presumo, o articulista não se inspirou no Fado Tropical, quando Chico Buarque diz que "essa terra ainda vai tornar-se um imenso Portugal, um império colonial".
A graça da proposta do Financial Times não foi bem recebida pelos lusitanos que se sentiram ofendidos com a ideia da perda da soberania. Ora, parece que a colônia se tornou metrópole e, na passagem de Dilma Rousseff por Lisboa e Coimbra, parte da conversa foi tentativa de convencer o governo brasileiro a comprar títulos da dívida pública portuguesa; em outras palavras: emprestar dinheiro a Portugal, ficando com notas promissórias para garantir o pagamento. A fugacidade da presença de Dilma, motivada pela morte do ex-vice-presidente José Alencar, a livrou do assédio e do constrangimento de dizer não, com todas as vogais. É bom lembrar, o povo dalém-mar come vogais e a fala lusitana soa dura a ouvidos acostumados ao português macio dos muitos sotaques brasileiros.
O governo português tentou aprovar a redução dos gastos públicos no Parlamento e foi derrotado. José Sócrates, o primeiro-ministro, apresentou sua demissão do cargo no qual permanece interinamente até as eleições vindouras. Consumindo todo o seu capital político, anunciou que pedirá ajuda da Europa, e do FMI se necessário, para obter empréstimos que permitam a Portugal pagar as contas. A nau Lusitânia foi a pique, torpedeada pelos alemães, faz quase cem anos. Para não soçobrar ante o peso do déficit do erário, Portugal precisará das arcas germânicas. A crise econômica dos países periféricos da União Europeia está produzindo situações que nenhum vidente imaginaria em 8 de maio de 1945: todos precisando do socorro alemão, a ponto de quase implorarem por ele!
O mundo está mudando e a bancarrota do financiamento imobiliário nos Estados Unidos em 2008 apressou o deslocamento de poder para povos que até anteontem eram meros punks da periferia, da Freguesia do Ó. Todavia, não é o caso de ficarmos gabolas. Os economistas nos põem no grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), porém não estamos todos no mesmo barco. Na verdade, temos a melhor situação política entre os quatro porque não há tensões religiosas, étnicas, políticas e a democracia brasileira vem se consolidando. Não é nenhum magnetismo pessoal que atrai investimentos; é a estabilidade institucional, a segurança jurídica de que os contratos serão cumpridos que leva as pessoas a tirar dinheiro da poupança e por em negócios no Brasil. A democracia é a fonte da nossa riqueza, não o petróleo como no caso da Rússia, da mão de obra quase escrava na Índia ou da obediência servil dos trabalhadores chineses. Em contrapartida, o nosso sistema educacional, ainda preso ao esquerdismo infantil, não ensina matemática e português suficientes para que os brasileiros trabalhem com equipamentos de alta tecnologia.
"Há léguas a nos separar, tanto mar, tanto mar, mas esta terra ainda vai cumprir seu ideal e juntos brindaremos com vinho tropical". Portugal é sempre bem-vindo independentemente da condição política que se situe em relação ao Brasil. É a terra mãe, de onde vieram nossos vícios e virtudes.
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